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por Bruno Abreu

 

A simplicidade de Jesus


Gandhi, um homem de paz e amor, diz-nos que poderiam ser perdidos todos os livros do mundo, se mantivéssemos o sermão da montanha, que é de uma página e meia, e nenhuma sabedoria teria sido perdida. Diz Gandhi que nesse sermão está contida toda a sabedoria de que a humanidade precisa.

Quando olhamos o Evangelho de Jesus, podemos sintetizá-lo no sermão da montanha e o mais impressionante é que o próprio Mestre o resumiu em dois mandamentos: amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si próprio. Nisso está contida toda a Lei.

Em O Livro de Espíritos lemos que toda a sabedoria está dentro de nós, e na pergunta 621 menciona que a Lei de Deus está em nossa consciência; nós apenas a esquecemos e desprezamos.

Não existe nada mais simples que estes ensinamentos, por isso o Evangelho de Jesus ser de uma enorme simplicidade.

A palavra simplicidade deixa-nos muito confusos, porque associamos esta palavra a algo fácil de fazer.

Quando alguém nos pergunta pelo caminho para se chegar a algum lado, começamos a nossa resposta dizendo: “é muito simples”, querendo com isso afirmar que não é complicado, que é algo fácil.

Neste caso dos ensinamentos do Mestre, que nos parecem tão simples, na verdade, para nós, são extremamente complicados. Se não fossem, não continuaríamos a arranjar a confusão que existe em nosso planeta, que nasce em nós e nos traz tanto sofrimento. O mais difícil é mantermos a simplicidade, sermos simples.

Sermos simples é sermos puros de coração e isto foi demonstrado pelos nossos irmãos mais evoluídos que passaram no nosso planeta. A pureza de um coração acontece quando não temos qualquer veneno dentro dele, como orgulho, ira, ódio, egoísmo, raiva, maledicência e todos os outros maus sentimentos.

Todo o sistema de maus sentimentos, más emoções, que mantemos dentro de nós, são alimentados através da lembrança, da utilização da memória. Quando nos deparamos com algo, toda essa lembrança vem à mente e revivemos a agonia dos maus sentimentos.

Podemos ver isto no ódio ou na raiva. Se tivéssemos uma amnésia completa, talvez deixássemos de odiar, pois não haveria lembrança. Esta é a importância do esquecimento que nos ocorre em cada reencarnação, porque podemos ter uma nova oportunidade e muitas vezes,ao pé dos seres com quem temos de nos reconciliar.

Todos nós construímos uma personalidade ao longo da vida e esta é efetuada por opiniões que ganhamos sobre a vida e os outros.

O ser mental, o Ego, é um resultado de muitas ideias que causam uma forma de funcionamento. Somos um funcionamento mental, que age a partir deste centro, que chamamos de caráter ou Ego, de forma inconscientemente, sem nunca questionarmos essa forma de funcionamento.

Todo este sistema é muito complexo, o arquivo da memória, a constituição do caracter e todo o seu funcionamento, misturando os sentimentos, emoções e sensações.

Utilizamos erradamente, para a constituição de uma personalidade, o mesmo método que a formação laboral. Tiramos um curso, ou seja, criamos uma memória sobre uma matéria, como por exemplo, a medicina, e quando precisamos de exercer, vamos à nossa base de dados cerebral e tiramos conclusões sobre o nosso conhecimento. Neste caso, quanto maior o conhecimento, melhor desempenhamos as funções.

Na forma como lidamos com a vida, se criamos uma má ideia sobre alguém, sempre que vemos essa pessoa, inconscientemente, revivemos essa má ideia.

Quando temos uma má ideia sobre uma religião, por causa de alguém que conhecemos, sempre que soubermos que alguém frequenta aquela religião, ficamos de pé atrás, nasce em nós uma má ideia.

Se nos habituamos a ser agressivos, sempre que agimos, somos agressivos para com os outros ou para com a vida.

As nossas ações são peneiradas pela peneira a que chamamos de caracter, que está na memória.

Existirá uma forma de viver menos complicada ou mais simples?

Imagine que neste momento perde a sua memória, não para a sua profissão, para a parte tecnológica, conhecimento geográfico ou para as tarefas, como conduzir, por exemplo, mas para a forma como vê a vida e os outros. Todo o ódio desapareceria; quer dizer que deixou de ter inimigos, pois estes estão sustentados na memória, e deixou de ter problemas, pois também eles são sustentados na mente. As más ideias sobre os outros, sobre a vida ou situações desta, que nos fazem sofrer, na verdade são memórias, pensamentos ou ideias, como quiser chamar, que nos criaram uma forma de estar que achamos a mais correta.

Renascer a cada momento é abandonar o passado, deixar de viver manipulado pelas memórias. É vermos cada situação como nova, cada pessoa no momento que olhamos sem a pressão do condicionamento da memória.

Jesus exemplifica isso com os lírios do campo, não se preocupando com o amanhã ou julgando com o passado. É isso que nós fazemos instantaneamente, vemos uma pessoa que conhecemos e julgamos inconscientemente. Se tivemos uma má experiência, nós a rotulamos de má pessoa; se tivemos uma boa experiência, nós a rotulamos de boa pessoa. Com a vida é igual e agimos sempre a partir deste funcionamento, tudo está rotulado na memória. Um funcionamento muito complexo e dominador, o Mestre afirmou que somos escravos deste funcionamento em João (8:34).

A pureza do coração é não carregar este funcionamento, para que não julguemos nada nem ninguém. Cada situação é nova, cada pessoa nasce de novo em seus sentimentos ou suas emoções, não olhamos para estas com “filtros” pesados do que aconteceu no passado.

Esta é a simplicidade, onde nos mantemos puros e não manipuláveis pela mente ou pelo Ego, que cria o orgulho, o egoísmo, ou o ódio, a raiva etc.

Para nós, este renascer constante a cada segundo, através da vigia, é extremamente complicado, mas o funcionamento turbulento e conflituoso da memoria, que alimenta milhares de pensamentos, que criam toda a maldade humana, as doenças psíquicas, passando-nos despercebidos, parece-nos simples, por ser automatizado.

Experimente fazer o seguinte exercício. Tente ficar um minuto sem pensar, vazio, apenas fique. O que poderia existir de mais simples, do que apenas estar, sem qualquer intenção ou pensamento?

Verá que rapidamente é inundado por pensamentos e que se torna conflituoso o silencio mental.  O silêncio mental que no raciocínio seria uma coisa muito simples, pois nada temos de fazer, parece impossível para nós. O funcionamento conflituoso da mente, turbulento, de pensamento atrás de pensamento, parece-nos tão natural, pois nem o conseguimos travar.

Sermos simples é a maior batalha de nossa vida, como o é, segundo Kardec, a batalha que consiste em combatermos em nós as más ideias.

 

Bruno Abreu reside em Lisboa, Portugal.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita