A
simplicidade de Jesus
Gandhi, um homem de paz
e amor, diz-nos que
poderiam ser perdidos
todos os livros do
mundo, se mantivéssemos
o sermão da montanha,
que é de uma página e
meia, e nenhuma
sabedoria teria sido
perdida. Diz Gandhi que
nesse sermão está
contida toda a sabedoria
de que a humanidade
precisa.
Quando olhamos o
Evangelho de Jesus,
podemos sintetizá-lo no
sermão da montanha e o
mais impressionante é
que o próprio Mestre o
resumiu em dois
mandamentos: amar a Deus
acima de tudo e ao
próximo como a si
próprio. Nisso está
contida toda a Lei.
Em O Livro de
Espíritos lemos que
toda a sabedoria está
dentro de nós, e na
pergunta 621 menciona
que a Lei de Deus está
em nossa consciência;
nós apenas a esquecemos
e desprezamos.
Não existe nada mais
simples que estes
ensinamentos, por isso o
Evangelho de Jesus ser
de uma enorme
simplicidade.
A palavra simplicidade
deixa-nos muito
confusos, porque
associamos esta palavra
a algo fácil de fazer.
Quando alguém nos
pergunta pelo caminho
para se chegar a algum
lado, começamos a nossa
resposta dizendo: “é
muito simples”, querendo
com isso afirmar que não
é complicado, que é algo
fácil.
Neste caso dos
ensinamentos do Mestre,
que nos parecem tão
simples, na verdade,
para nós, são
extremamente
complicados. Se não
fossem, não
continuaríamos a
arranjar a confusão que
existe em nosso planeta,
que nasce em nós e nos
traz tanto sofrimento. O
mais difícil é mantermos
a simplicidade, sermos
simples.
Sermos simples é sermos
puros de coração e isto
foi demonstrado pelos
nossos irmãos mais
evoluídos que passaram
no nosso planeta. A
pureza de um coração
acontece quando não
temos qualquer veneno
dentro dele, como
orgulho, ira, ódio,
egoísmo, raiva,
maledicência e todos os
outros maus sentimentos.
Todo o sistema de maus
sentimentos, más
emoções, que mantemos
dentro de nós, são
alimentados através da
lembrança, da utilização
da memória. Quando nos
deparamos com algo, toda
essa lembrança vem à
mente e revivemos a
agonia dos maus
sentimentos.
Podemos ver isto no ódio
ou na raiva. Se
tivéssemos uma amnésia
completa, talvez
deixássemos de odiar,
pois não haveria
lembrança. Esta é a
importância do
esquecimento que nos
ocorre em cada
reencarnação, porque
podemos ter uma nova
oportunidade e muitas
vezes,ao pé dos seres
com quem temos de nos
reconciliar.
Todos nós construímos
uma personalidade ao
longo da vida e esta é
efetuada por opiniões
que ganhamos sobre a
vida e os outros.
O ser mental, o Ego, é
um resultado de muitas
ideias que causam uma
forma de funcionamento.
Somos um funcionamento
mental, que age a partir
deste centro, que
chamamos de caráter ou
Ego, de forma
inconscientemente, sem
nunca questionarmos essa
forma de funcionamento.
Todo este sistema é
muito complexo, o
arquivo da memória, a
constituição do caracter
e todo o seu
funcionamento,
misturando os
sentimentos, emoções e
sensações.
Utilizamos erradamente,
para a constituição de
uma personalidade, o
mesmo método que a
formação laboral.
Tiramos um curso, ou
seja, criamos uma
memória sobre uma
matéria, como por
exemplo, a medicina, e
quando precisamos de
exercer, vamos à nossa
base de dados cerebral e
tiramos conclusões sobre
o nosso conhecimento.
Neste caso, quanto maior
o conhecimento, melhor
desempenhamos as
funções.
Na forma como lidamos
com a vida, se criamos
uma má ideia sobre
alguém, sempre que vemos
essa pessoa,
inconscientemente,
revivemos essa má ideia.
Quando temos uma má
ideia sobre uma
religião, por causa de
alguém que conhecemos,
sempre que soubermos que
alguém frequenta aquela
religião, ficamos de pé
atrás, nasce em nós uma
má ideia.
Se nos habituamos a ser
agressivos, sempre que
agimos, somos agressivos
para com os outros ou
para com a vida.
As nossas ações são
peneiradas pela peneira
a que chamamos de
caracter, que está na
memória.
Existirá uma forma de
viver menos complicada
ou mais simples?
Imagine que neste
momento perde a sua
memória, não para a sua
profissão, para a parte
tecnológica,
conhecimento geográfico
ou para as tarefas, como
conduzir, por exemplo,
mas para a forma como vê
a vida e os outros. Todo
o ódio desapareceria;
quer dizer que deixou de
ter inimigos, pois estes
estão sustentados na
memória, e deixou de ter
problemas, pois também
eles são sustentados na
mente. As más ideias
sobre os outros, sobre a
vida ou situações desta,
que nos fazem sofrer, na
verdade são memórias,
pensamentos ou ideias,
como quiser chamar, que
nos criaram uma forma de
estar que achamos a mais
correta.
Renascer a cada momento
é abandonar o passado,
deixar de viver
manipulado pelas
memórias. É vermos cada
situação como nova, cada
pessoa no momento que
olhamos sem a pressão do
condicionamento da
memória.
Jesus exemplifica isso
com os lírios do campo,
não se preocupando com o
amanhã ou julgando com o
passado. É isso que nós
fazemos
instantaneamente, vemos
uma pessoa que
conhecemos e julgamos
inconscientemente. Se
tivemos uma má
experiência, nós a
rotulamos de má pessoa;
se tivemos uma boa
experiência, nós a
rotulamos de boa pessoa.
Com a vida é igual e
agimos sempre a partir
deste funcionamento,
tudo está rotulado na
memória. Um
funcionamento muito
complexo e dominador, o
Mestre afirmou que somos
escravos deste
funcionamento em João
(8:34).
A pureza do coração é
não carregar este
funcionamento, para que
não julguemos nada nem
ninguém. Cada situação é
nova, cada pessoa nasce
de novo em seus
sentimentos ou suas
emoções, não olhamos
para estas com “filtros”
pesados do que aconteceu
no passado.
Esta é a simplicidade,
onde nos mantemos puros
e não manipuláveis pela
mente ou pelo Ego, que
cria o orgulho, o
egoísmo, ou o ódio, a
raiva etc.
Para nós, este renascer
constante a cada
segundo, através da
vigia, é extremamente
complicado, mas o
funcionamento turbulento
e conflituoso da
memoria, que alimenta
milhares de pensamentos,
que criam toda a maldade
humana, as doenças
psíquicas, passando-nos
despercebidos,
parece-nos simples, por
ser automatizado.
Experimente fazer o
seguinte exercício.
Tente ficar um minuto
sem pensar, vazio,
apenas fique. O que
poderia existir de mais
simples, do que apenas
estar, sem qualquer
intenção ou pensamento?
Verá que rapidamente é
inundado por pensamentos
e que se torna
conflituoso o silencio
mental. O silêncio
mental que no raciocínio
seria uma coisa muito
simples, pois nada temos
de fazer, parece
impossível para nós. O
funcionamento
conflituoso da mente,
turbulento, de
pensamento atrás de
pensamento, parece-nos
tão natural, pois nem o
conseguimos travar.
Sermos simples é a maior
batalha de nossa vida,
como o é, segundo Kardec,
a batalha que consiste
em combatermos em nós as
más ideias.
Bruno Abreu reside em
Lisboa, Portugal.
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