O Espírito não regride
Esta reflexão diz respeito ao processo evolutivo
intelectual, moral e espiritual do ser humano na busca
da perfeição, em pluralidade de existências, no qual não
há regressão do Espírito, podendo até estacionar em dado
momento, mas nunca ter um retrocesso. Isso porque muitos
confundem situações de provas, expiações e quedas morais
das pessoas com retrocesso evolutivo do Espírito.
Importante recordar que a dor e os sofrimentos fazem
parte do processo educativo e evolutivo do Espírito na
aquisição de virtudes morais necessárias ao seu
progresso.
O Espírito Emmanuel, no
livro O Consolador, na psicografia de Francisco
Cândido Xavier, na resposta à pergunta 253: “A
virtude é concessão de Deus, ou é aquisição da
criatura?”, ensina que: “A
dor, a luta e a experiência constituem uma oportunidade
sagrada concedida por Deus às suas criaturas, em todos
os tempos; todavia, a virtude é sempre sublime e
imorredoura aquisição do Espírito nas estradas da vida,
incorporada eternamente aos seus valores, conquistados
pelo trabalho no esforço próprio.”
Emmanuel esclarece que Deus concede sagrada oportunidade
de aprendizado pela dor, pela luta e pela experiência, e
virtude é aquisição do Espírito, conquistada mediante
trabalho e esforço próprio, incorporando-a aos seus
valores celestiais.
Virtudes adquirimos, principalmente, pelas provações e
pelos aprendizados em pluralidade de existências, nas
quais a dor, a luta e a experiência constituem
oportunidades concedidas por Deus para o Espírito
desenvolver atributos morais em seu processo evolutivo,
acumulando-os como bens de progresso.
Assim, a graça de Deus é dada pela oportunidade de
evoluir para se livrar do mal e praticar o bem, cuja
virtude é aquisição do Espírito, em existências
sucessivas, para a bagagem da vida eterna, afastando as
suas imperfeições.
Por conseguinte, a ação de transformação moral do
Espírito é com trabalho, esforço, perseverança e
vigilância permanentes, a fim de corrigir o rumo no
caminho do bem, pois não há como melhorar moralmente sem
sacrifícios ou renúncias.
As provações e as consequentes lições educativas
favorecem o desenvolvimento da capacidade de discernir
entre o bem e o mal, para o Espírito fazer escolhas mais
acertadas, pelo uso do livre-arbítrio, com a consciente
adesão da vontade para libertar a alma e purificar o
coração.
Essa educação do Espírito faz surgir os germes das
virtudes, operadas no íntimo do ser, que auxiliam a
reprimir os vícios, tornando-o melhor em decorrência da
transformação moral.
Nesse contexto, no livro A
Gênese, de Allan Kardec, Capítulo XI, Gênese
espiritual, em “Doutrina dos anjos decaídos e da perda
do paraíso”, no item 48, o Codificador comenta: “À
primeira vista, a ideia de decaimento parece em
contradição com o princípio segundo o qual os Espíritos
não podem retrogradar. Deve-se, porém, considerar que
não se trata de um retrocesso ao estado primitivo. O
Espírito, ainda que numa posição inferior, nada perde do
que adquiriu; seu desenvolvimento moral e intelectual é
o mesmo, qualquer que seja o meio onde se ache colocado.
Ele está na situação do homem do mundo condenado à
prisão por seus delitos. Certamente, esse homem se
encontra degradado, decaído, do ponto de vista social,
mas não se torna nem mais estúpido, nem mais ignorante.”
Então, as virtudes são qualidades desenvolvidas pelo
Espírito ao longo de suas vivências e, como o Espírito
jamais regride, sempre que ele retorna ao plano físico,
traz consigo o produto de suas conquistas, tanto no
plano intelectual como no moral.
O processo evolutivo do Espírito é continuo,
desenvolvendo aprendizados que ainda necessitam de
burilamento, reencarnado para se aperfeiçoar e melhorar.
Nesse sentido, as diferentes existências corpóreas do
Espírito são sempre progressivas e nunca regressivas,
mas a rapidez do seu progresso depende dos esforços que
faça para chegar à perfeição.
Em O Livro dos
Espíritos, de Allan Kardec, na questão 118, se podem
os Espíritos degenerar, a resposta é: “Não;
à medida que avançam, compreendem o que os distanciava
da perfeição. Concluindo uma prova, o Espírito fica com
a ciência que daí lhe veio e não a esquece. Pode
permanecer estacionário, mas não retrograda.”
O Espírito Miramez, no livro Filosofia espírita,
na psicografia de João Nunes Maia, Volume III, Capítulo
10 – Não há regressão –, comenta a questão 118 de O
Livro dos Espíritos:
“Não há regressão na linha evolutiva do Espírito. O que
acontece com um, acontece com todos, no entanto, os
caminhos do despertar espiritual são diversos. Ninguém
regride na ascensão. O que achamos ser recuo é, pois,
ilusão dos nossos sentidos e, certamente, do nosso
raciocínio. Deus, sendo onisciente, não iria permitir
que algumas almas regredissem e outras não, pois, todos
nós saímos da Perfeição Absoluta.
O que achamos ser degeneração é preparo, é ganho de
tempo dentro do próprio espaço, para um avanço mais
rápido. Poderemos dar um simples exemplo da natureza,
pela expressão grandiosa de uma árvore; lançamos a
semente no seio da Terra, ela desabrocha, cresce,
torna-se um arbusto e nos dá a impressão que estaciona,
por não nos mostrar o fruto de imediato; entretanto, ela
está se preparando intimamente para o parto de mais
vidas. Não era, portanto, estacionamento; o silêncio não
significa inércia. Assim são as almas; o que
interpretamos como estacionamento é preparo para grande
avanço. É o que se passa com todas as criaturas de Deus.
Ainda não podemos realizar o mesmo que nosso irmão que
está na dianteira, por nos faltar experiência, que o
tempo ainda não nos conferiu, mas, seremos um dia
agraciados, como todos os que nos precederam. Criatura
alguma fica órfã da bondade do Criador. O Seu Amor
diligencia em todos os rumos, a Sua doação é sem limites
para todos os Seus filhos do coração. Podemos comparar,
por fraco exemplo, com o sol que nos sustenta a vida na
Terra: encarnados e desencarnados são beneficiados pelos
seus raios cheios de vida, que não escolhem onde
iluminar e a quem beneficiar.
Com relação à regressão da memória, a alma pode passar a
viver relembrando fatos do passado, mas não regredindo
naquilo que já conquistou na subida espiritual. O
estacionamento em que podemos acreditar, se liga ao fato
de o Espírito reviver as vidas passadas, ficando preso a
elas pelo que fez de mal. Ele é colhido pelas teias
magnéticas que teceu para os outros, na influência do
ódio, do orgulho, do egoísmo e da vingança, entrementes,
aquele sol, que começou a nascer em sua consciência pela
força do tempo e pelas bênçãos de Deus, nunca se
apagará. Pode-se dizer que a regressão é psicológica e
que o estacionamento é ilusório.
A alma é imortal e os valores espirituais despertados
nela, e dela, cada vez mais crescem na extensão infinita
de seu roteiro. Nós todos fomos criados para a
felicidade. Mesmo que quiséssemos viver eternamente no
mal, as próprias leis universais não permitiriam, e
desde quando conhecemos o bem, nele permanecemos, sem
pensar em outro caminho, porque é somente nele, tomado
de Amor, que se encontra a felicidade, céu que se
instala no coração alimentado pela consciência limpa, a
nos conduzir para todos os céus, fora de nós. Mesmo que
as aparências nos induzam a pensar em regressão, a
verdade é outra; estamos sempre subindo para a luz, no
silêncio de Deus.”
Outras dúvidas estão
relacionadas à questão 178, em O Livro dos
Espíritos: “Podem os Espíritos encarnar em um
mundo relativamente inferior a outro onde já viveram?”,
a resposta é: “Sim,
quando em missão, com o objetivo de auxiliarem o
progresso, caso em que aceitam alegres as tribulações de
tal existência, por lhes proporcionar meio de se
adiantarem.”
Em seguida, Kardec pergunta: “Mas, não pode dar-se
também por expiação? Não pode Deus degredar para mundos
inferiores Espíritos rebeldes?” A resposta é: “Os
Espíritos podem conservar-se estacionários, mas não
retrogradam. Em caso de estacionamento, a punição deles
consiste em não avançarem, em recomeçarem, no meio
conveniente à sua natureza, as existências
mal-empregadas.”
Complementando esse
entendimento, na questão 805 sobre “Se passando de um
mundo superior a outro inferior, conserva o Espírito,
integralmente, as faculdades adquiridas?”, a
resposta dos Espíritos é: “Sim,
já temos dito que o Espírito que progrediu não
retrocede. Poderá escolher, no estado de Espírito livre,
um invólucro mais grosseiro, ou posição mais precária do
que as que já teve, porém tudo isso para lhe servir de
ensinamento e ajudá-lo a progredir.”
Em várias outras questões em O Livro dos Espíritos,
os Espíritos Superiores repetem as mesmas respostas
quanto ao Espírito não regredir, tais como:
“194. É possível que, em nova encarnação, a alma de um
homem de bem anime o corpo de um celerado?” A
resposta é: “Não,
visto que não pode degenerar.”
Kardec comenta: “A
marcha dos Espíritos é progressiva, jamais retrograda.
Eles se elevam gradualmente na hierarquia e não descem
da categoria a que ascenderam. Em suas diferentes
existências corporais, podem descer como homens, não
como Espíritos.”
Na questão 398, letra a),
Kardec pergunta: “Poderá também ser pior, isto é,
poderá o Espírito cometer, numa existência, faltas que
não praticou em a precedente?”. A resposta é: “Depende
do seu adiantamento. Se não souber triunfar das provas,
possivelmente será arrastado a novas faltas,
consequentes, então, da posição que escolheu. Mas, em
geral, estas faltas denotam mais um estacionamento que
uma retrogradação, porquanto o Espírito é suscetível de
se adiantar ou de parar, nunca, porém, de retroceder.”
Outro aspecto que gera
muitas dúvidas está na questão 612, em que Kardec
pergunta: “Poderia encarnar num animal o Espírito que
animou o corpo de um homem?” A resposta é: “Isso
seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não
remonta à sua nascente.”
O Espírito Miramez, no livro Filosofia espírita,
na psicografia de João Nunes Maia, Volume XII, Capítulo
15 – Regressão ao animal –, comenta a questão 612 de O
Livro dos Espíritos:
“Já comentamos em página anterior esse assunto, mas não
é demais tornar a falar, para que se possa compreender,
com mais segurança, que a alma de um homem não pode
voltar a animar o corpo de um animal. A Filosofia
Espírita é aberta às comparações, ao raciocínio lógico.
Como Deus iria criar as coisas para a regressão? Ele não
seria Deus, porque não teria ciência, quando criou, de
que não daria certo a Sua criação, tendo de voltar
atrás, por ter falhado em Suas experiências!
Deus não faz experiências; isso é para os homens dotados
de razão. Ele sabe o que faz, Ele é onisciente,
inclusive de nosso destino. Ele vive no ontem, no amanhã
e no futuro longínquo, como se tudo estivesse no
presente. Ele vive no eterno, porque Ele é a eternidade.
Já devemos ir estudando esse viver no eterno, para
principiarmos a fazer o mesmo. Se somos Seus
semelhantes, Seus filhos, haveremos de copiar Seus
feitos para vivermos em paz, a paz de consciência.
Na ordem das reencarnações, dentro dos corpos humanos, é
que a matéria pode regredir para melhores lições. A
alma, como um ser, pode ser em uma reencarnação um
grande político aos olhos dos seus semelhantes, e voltar
conforme suas dívidas, como um ser sem nenhuma
expressão, até em corpo deformado, para aprender a
verdade no silêncio e no sofrer. Mas, tomar um corpo que
está servindo aos animais na retaguarda, isso nunca, nem
as plantas poderão voltar animando minerais.
A vida é crescimento, a vida é luz, que tem como destino
a Luz Maior. A Metempsicose talvez tenha servido para
uma geração, como forma de medo para as criaturas, um
entrave para os caminhos da perdição, como no caso de
Sodoma e Gomorra, e de outras cidades que foram
destruídas pelas paixões ali incentivadas, como hoje se
comenta em alguns meios que a guerra atômica destrói até
a alma, pela radiação que as bombas produzem. Isso cria
certo pavor nos profissionais das guerras fratricidas.
Existe, sim, a reencarnação, mas não regredindo. Ela se
processa no mesmo reino. O Espírito, tomando corpos
semelhantes aos que teve, para a sua evolução
espiritual, e cada vez mais se iluminando, mesmo que não
mostre essa iluminação, a está processando por dentro, e
ninguém tira essa glória de sua vida. Ela é sua, por
tê-la conquistado sob as bênçãos do Criador.”
O espírita, principalmente, deve aprender a adquirir a
força do desprendimento. Desprender-se das coisas
materiais não é jogar fora o que Deus lhe confiou; é
saber fazer uso dos bens transitórios, porque somente os
valores morais, o saber, a moral elevada, é que o
acompanham pela eternidade.
Portanto, o Espírito não regride nunca em seu processo
evolutivo intelectual, moral e espiritual, podendo
estacionar, mas o seu destino é a perfeição, em que as
conquistas do Espírito estão em sua bagagem de progresso
na direção da vida eterna na busca da verdadeira
felicidade.
Bibliografia:
Bíblia Sagrada.
EMMANUEL (Espírito); (psicografado por)
Francisco Cândido Xavier. O Consolador. 29ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2019.
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto
Bezerra. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita Brasileira, 2013.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O
Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita Brasileira, 2019.
MIRAMEZ (Espírito); na psicografia de
João Nunes Maia. Filosofia
espírita: comentários às perguntas de O Livro dos
Espíritos. Volume III. 1ª Edição. Belo
Horizonte/MG. Editora Espírita Cristã Fonte Viva,
1988.
MIRAMEZ (Espírito); na psicografia de
João Nunes Maia. Filosofia
espírita: comentários às perguntas de O Livro dos
Espíritos. Volume XII. 1ª Edição. Belo
Horizonte/MG. Editora Espírita Cristã Fonte Viva,
1987.
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