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por Juan Carlos Orozco

O Espírito não regride


Esta reflexão diz respeito ao processo evolutivo intelectual, moral e espiritual do ser humano na busca da perfeição, em pluralidade de existências, no qual não há regressão do Espírito, podendo até estacionar em dado momento, mas nunca ter um retrocesso. Isso porque muitos confundem situações de provas, expiações e quedas morais das pessoas com retrocesso evolutivo do Espírito.

Importante recordar que a dor e os sofrimentos fazem parte do processo educativo e evolutivo do Espírito na aquisição de virtudes morais necessárias ao seu progresso.

O Espírito Emmanuel, no livro O Consolador, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, na resposta à pergunta 253: “A virtude é concessão de Deus, ou é aquisição da criatura?”, ensina que: “A dor, a luta e a experiência constituem uma oportunidade sagrada concedida por Deus às suas criaturas, em todos os tempos; todavia, a virtude é sempre sublime e imorredoura aquisição do Espírito nas estradas da vida, incorporada eternamente aos seus valores, conquistados pelo trabalho no esforço próprio.”

Emmanuel esclarece que Deus concede sagrada oportunidade de aprendizado pela dor, pela luta e pela experiência, e virtude é aquisição do Espírito, conquistada mediante trabalho e esforço próprio, incorporando-a aos seus valores celestiais.

Virtudes adquirimos, principalmente, pelas provações e pelos aprendizados em pluralidade de existências, nas quais a dor, a luta e a experiência constituem oportunidades concedidas por Deus para o Espírito desenvolver atributos morais em seu processo evolutivo, acumulando-os como bens de progresso.

Assim, a graça de Deus é dada pela oportunidade de evoluir para se livrar do mal e praticar o bem, cuja virtude é aquisição do Espírito, em existências sucessivas, para a bagagem da vida eterna, afastando as suas imperfeições.

Por conseguinte, a ação de transformação moral do Espírito é com trabalho, esforço, perseverança e vigilância permanentes, a fim de corrigir o rumo no caminho do bem, pois não há como melhorar moralmente sem sacrifícios ou renúncias.

As provações e as consequentes lições educativas favorecem o desenvolvimento da capacidade de discernir entre o bem e o mal, para o Espírito fazer escolhas mais acertadas, pelo uso do livre-arbítrio, com a consciente adesão da vontade para libertar a alma e purificar o coração.

Essa educação do Espírito faz surgir os germes das virtudes, operadas no íntimo do ser, que auxiliam a reprimir os vícios, tornando-o melhor em decorrência da transformação moral.

Nesse contexto, no livro A Gênese, de Allan Kardec, Capítulo XI, Gênese espiritual, em “Doutrina dos anjos decaídos e da perda do paraíso”, no item 48, o Codificador comenta: “À primeira vista, a ideia de decaimento parece em contradição com o princípio segundo o qual os Espíritos não podem retrogradar. Deve-se, porém, considerar que não se trata de um retrocesso ao estado primitivo. O Espírito, ainda que numa posição inferior, nada perde do que adquiriu; seu desenvolvimento moral e intelectual é o mesmo, qualquer que seja o meio onde se ache colocado. Ele está na situação do homem do mundo condenado à prisão por seus delitos. Certamente, esse homem se encontra degradado, decaído, do ponto de vista social, mas não se torna nem mais estúpido, nem mais ignorante.”

Então, as virtudes são qualidades desenvolvidas pelo Espírito ao longo de suas vivências e, como o Espírito jamais regride, sempre que ele retorna ao plano físico, traz consigo o produto de suas conquistas, tanto no plano intelectual como no moral.

O processo evolutivo do Espírito é continuo, desenvolvendo aprendizados que ainda necessitam de burilamento, reencarnado para se aperfeiçoar e melhorar. Nesse sentido, as diferentes existências corpóreas do Espírito são sempre progressivas e nunca regressivas, mas a rapidez do seu progresso depende dos esforços que faça para chegar à perfeição.

Em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, na questão 118, se podem os Espíritos degenerar, a resposta é: “Não; à medida que avançam, compreendem o que os distanciava da perfeição. Concluindo uma prova, o Espírito fica com a ciência que daí lhe veio e não a esquece. Pode permanecer estacionário, mas não retrograda.”

O Espírito Miramez, no livro Filosofia espírita, na psicografia de João Nunes Maia, Volume III, Capítulo 10 – Não há regressão –, comenta a questão 118 de O Livro dos Espíritos:

“Não há regressão na linha evolutiva do Espírito. O que acontece com um, acontece com todos, no entanto, os caminhos do despertar espiritual são diversos. Ninguém regride na ascensão. O que achamos ser recuo é, pois, ilusão dos nossos sentidos e, certamente, do nosso raciocínio. Deus, sendo onisciente, não iria permitir que algumas almas regredissem e outras não, pois, todos nós saímos da Perfeição Absoluta.

O que achamos ser degeneração é preparo, é ganho de tempo dentro do próprio espaço, para um avanço mais rápido. Poderemos dar um simples exemplo da natureza, pela expressão grandiosa de uma árvore; lançamos a semente no seio da Terra, ela desabrocha, cresce, torna-se um arbusto e nos dá a impressão que estaciona, por não nos mostrar o fruto de imediato; entretanto, ela está se preparando intimamente para o parto de mais vidas. Não era, portanto, estacionamento; o silêncio não significa inércia. Assim são as almas; o que interpretamos como estacionamento é preparo para grande avanço. É o que se passa com todas as criaturas de Deus.

Ainda não podemos realizar o mesmo que nosso irmão que está na dianteira, por nos faltar experiência, que o tempo ainda não nos conferiu, mas, seremos um dia agraciados, como todos os que nos precederam. Criatura alguma fica órfã da bondade do Criador. O Seu Amor diligencia em todos os rumos, a Sua doação é sem limites para todos os Seus filhos do coração. Podemos comparar, por fraco exemplo, com o sol que nos sustenta a vida na Terra: encarnados e desencarnados são beneficiados pelos seus raios cheios de vida, que não escolhem onde iluminar e a quem beneficiar.

Com relação à regressão da memória, a alma pode passar a viver relembrando fatos do passado, mas não regredindo naquilo que já conquistou na subida espiritual. O estacionamento em que podemos acreditar, se liga ao fato de o Espírito reviver as vidas passadas, ficando preso a elas pelo que fez de mal. Ele é colhido pelas teias magnéticas que teceu para os outros, na influência do ódio, do orgulho, do egoísmo e da vingança, entrementes, aquele sol, que começou a nascer em sua consciência pela força do tempo e pelas bênçãos de Deus, nunca se apagará. Pode-se dizer que a regressão é psicológica e que o estacionamento é ilusório.

A alma é imortal e os valores espirituais despertados nela, e dela, cada vez mais crescem na extensão infinita de seu roteiro. Nós todos fomos criados para a felicidade. Mesmo que quiséssemos viver eternamente no mal, as próprias leis universais não permitiriam, e desde quando conhecemos o bem, nele permanecemos, sem pensar em outro caminho, porque é somente nele, tomado de Amor, que se encontra a felicidade, céu que se instala no coração alimentado pela consciência limpa, a nos conduzir para todos os céus, fora de nós. Mesmo que as aparências nos induzam a pensar em regressão, a verdade é outra; estamos sempre subindo para a luz, no silêncio de Deus.”

Outras dúvidas estão relacionadas à questão 178, em O Livro dos Espíritos“Podem os Espíritos encarnar em um mundo relativamente inferior a outro onde já viveram?”, a resposta é: “Sim, quando em missão, com o objetivo de auxiliarem o progresso, caso em que aceitam alegres as tribulações de tal existência, por lhes proporcionar meio de se adiantarem.”

Em seguida, Kardec pergunta: “Mas, não pode dar-se também por expiação? Não pode Deus degredar para mundos inferiores Espíritos rebeldes?” A resposta é: “Os Espíritos podem conservar-se estacionários, mas não retrogradam. Em caso de estacionamento, a punição deles consiste em não avançarem, em recomeçarem, no meio conveniente à sua natureza, as existências mal-empregadas.”

Complementando esse entendimento, na questão 805 sobre “Se passando de um mundo superior a outro inferior, conserva o Espírito, integralmente, as faculdades adquiridas?”, a resposta dos Espíritos é: “Sim, já temos dito que o Espírito que progrediu não retrocede. Poderá escolher, no estado de Espírito livre, um invólucro mais grosseiro, ou posição mais precária do que as que já teve, porém tudo isso para lhe servir de ensinamento e ajudá-lo a progredir.”

Em várias outras questões em O Livro dos Espíritos, os Espíritos Superiores repetem as mesmas respostas quanto ao Espírito não regredir, tais como:

“194. É possível que, em nova encarnação, a alma de um homem de bem anime o corpo de um celerado?” A resposta é: “Não, visto que não pode degenerar.”

Kardec comenta: “A marcha dos Espíritos é progressiva, jamais retrograda. Eles se elevam gradualmente na hierarquia e não descem da categoria a que ascenderam. Em suas diferentes existências corporais, podem descer como homens, não como Espíritos.”

Na questão 398, letra a), Kardec pergunta: “Poderá também ser pior, isto é, poderá o Espírito cometer, numa existência, faltas que não praticou em a precedente?”. A resposta é: “Depende do seu adiantamento. Se não souber triunfar das provas, possivelmente será arrastado a novas faltas, consequentes, então, da posição que escolheu. Mas, em geral, estas faltas denotam mais um estacionamento que uma retrogradação, porquanto o Espírito é suscetível de se adiantar ou de parar, nunca, porém, de retroceder.”

Outro aspecto que gera muitas dúvidas está na questão 612, em que Kardec pergunta: “Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?” A resposta é: “Isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente.”

O Espírito Miramez, no livro Filosofia espírita, na psicografia de João Nunes Maia, Volume XII, Capítulo 15 – Regressão ao animal –, comenta a questão 612 de O Livro dos Espíritos:

“Já comentamos em página anterior esse assunto, mas não é demais tornar a falar, para que se possa compreender, com mais segurança, que a alma de um homem não pode voltar a animar o corpo de um animal. A Filosofia Espírita é aberta às comparações, ao raciocínio lógico. Como Deus iria criar as coisas para a regressão? Ele não seria Deus, porque não teria ciência, quando criou, de que não daria certo a Sua criação, tendo de voltar atrás, por ter falhado em Suas experiências!

Deus não faz experiências; isso é para os homens dotados de razão. Ele sabe o que faz, Ele é onisciente, inclusive de nosso destino. Ele vive no ontem, no amanhã e no futuro longínquo, como se tudo estivesse no presente. Ele vive no eterno, porque Ele é a eternidade. Já devemos ir estudando esse viver no eterno, para principiarmos a fazer o mesmo. Se somos Seus semelhantes, Seus filhos, haveremos de copiar Seus feitos para vivermos em paz, a paz de consciência.

Na ordem das reencarnações, dentro dos corpos humanos, é que a matéria pode regredir para melhores lições. A alma, como um ser, pode ser em uma reencarnação um grande político aos olhos dos seus semelhantes, e voltar conforme suas dívidas, como um ser sem nenhuma expressão, até em corpo deformado, para aprender a verdade no silêncio e no sofrer. Mas, tomar um corpo que está servindo aos animais na retaguarda, isso nunca, nem as plantas poderão voltar animando minerais.

A vida é crescimento, a vida é luz, que tem como destino a Luz Maior. A Metempsicose talvez tenha servido para uma geração, como forma de medo para as criaturas, um entrave para os caminhos da perdição, como no caso de Sodoma e Gomorra, e de outras cidades que foram destruídas pelas paixões ali incentivadas, como hoje se comenta em alguns meios que a guerra atômica destrói até a alma, pela radiação que as bombas produzem. Isso cria certo pavor nos profissionais das guerras fratricidas.

Existe, sim, a reencarnação, mas não regredindo. Ela se processa no mesmo reino. O Espírito, tomando corpos semelhantes aos que teve, para a sua evolução espiritual, e cada vez mais se iluminando, mesmo que não mostre essa iluminação, a está processando por dentro, e ninguém tira essa glória de sua vida. Ela é sua, por tê-la conquistado sob as bênçãos do Criador.”

O espírita, principalmente, deve aprender a adquirir a força do desprendimento. Desprender-se das coisas materiais não é jogar fora o que Deus lhe confiou; é saber fazer uso dos bens transitórios, porque somente os valores morais, o saber, a moral elevada, é que o acompanham pela eternidade.

Portanto, o Espírito não regride nunca em seu processo evolutivo intelectual, moral e espiritual, podendo estacionar, mas o seu destino é a perfeição, em que as conquistas do Espírito estão em sua bagagem de progresso na direção da vida eterna na busca da verdadeira felicidade.

 

Bibliografia:

Bíblia Sagrada.

EMMANUEL (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. O Consolador. 29ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

MIRAMEZ (Espírito); na psicografia de João Nunes Maia. Filosofia espírita: comentários às perguntas de O Livro dos Espíritos. Volume III. 1ª Edição. Belo Horizonte/MG. Editora Espírita Cristã Fonte Viva, 1988.

MIRAMEZ (Espírito); na psicografia de João Nunes Maia. Filosofia espírita: comentários às perguntas de O Livro dos Espíritos. Volume XII. 1ª Edição. Belo Horizonte/MG. Editora Espírita Cristã Fonte Viva, 1987. 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita