Natural de Monte Alto e residente em Guariba,
ambos municípios paulistas, Fernando Luís Costa
Lemos (foto) é Licenciado em Ciências e
Matemática e atua profissionalmente como
Supervisor de Ensino. Vincula-se ao Centro
Espírita Allan Kardec, em Guariba (SP), no qual
integra a equipe de expositores. De família
espírita, acompanhava o pai nas atividades e foi
aluno da Evangelização Infantil. Entrevistamo-lo
sobre seu interesse pelo aspecto científico da
Doutrina Espírita:
Como surgiu seu interesse pelo aspecto
científico do Espiritismo?
Iniciou-se em 1992, ao tomar conhecimento da
obra A Matéria Psi, de Hernani Guimarães
Andrade. Na época, quando eu cursava o último
ano do Ensino Médio, comecei a estudar, de forma
autodidata, obras de Física Moderna (Mecânica
Quântica e Teoria da Relatividade) e observei
que certos conceitos poderiam ser aplicados ao
campo perispiritual. Assim, fui adquirindo
outros livros de Hernani: Teoria Corpuscular
do Espírito; Novos Rumos à Experimentação
Espirítica; Espírito, Perispírito e Alma: Um
Ensaio sobre o Modelo Organizador Biológico;
Morte, Renascimento e Evolução: Uma Biologia
Transcendental; Psi Quântico: Uma extensão dos
conceitos quânticos e atômicos à ideia do
Espírito.
O que chama mais atenção nessas bases da Ciência
Espírita?
Devemos considerar que o aspecto científico do
Espiritismo é uma das bases do edifício em que o
mesmo se consolida. Além de Allan Kardec,
eminentes pesquisadores deram continuidade à
metodologia do pedagogo lionês, como Ernesto
Bozzano, Gabriel Delanne, Camille Flammarion,
Albert de Rochas, Alexandre Aksakof e outros.
E como você situa os trabalhos conhecidos e já
publicados de William Crookes?
Considero as experiências de William Crookes com
a médium Florence Cook um dos melhores exemplos
de aplicação da metodologia científica para a
comprovação da existência do espírito e seu
corpo espiritual. Temos as edições brasileiras
intituladas Fatos Espíritas (editora FEB)
e Katie King: um relato de experiências reais (Editora
O Clarim).
E, mais modernamente, os livros do Dr. Hernani
Guimarães Andrade?
Hernani Guimarães Andrade (1913-2003) trabalhou,
basicamente, em três vertentes: a busca pelo
Modelo Organizador Biológico, fenômenos de
Poltergeist e casos de Reencarnação. A
princípio, publicou o livro Teoria
Corpuscular do Espírito (1958), buscando
fundamentos teóricos para a constituição atômica
do espírito (o que denominou de psi-átomos). Foi
criticado por José Herculano Pires (1914-1979)
na obra A Pedra e o Joio, na qual, dentre
outros aspectos, discordava da proposição de
Hernani a respeito da quarta dimensão dos
psi-átomos e de que o espírito não poderia ser
reduzido a átomos ou moléculas tal qual ocorre
com o corpo físico (Herculano defendia a ideia
de o espírito ser contínuo, sem constituintes
atômicos). Entretanto, ao longo do tempo,
Hernani publicou outras obras, o qual cito na
primeira questão desta entrevista, dando
amplitude aos conceitos propostos. No que se
refere aos casos de reencarnação, trocou
correspondências com Ian Stevenson (1918 –
2007), Professor de Psiquiatria da Universidade
da Virgínia (EUA) e publicou alguns livros sobre
o tema, sendo o primeiro denominado Reencarnação
no Brasil – 8 casos, em 1988.
Considera que o movimento espírita está um pouco
esquecido do aspecto científico do Espiritismo,
no que se refere a estimular o conhecimento e a
pesquisa?
Sim, pois, apesar da fundamental importância em
aprimorarmos nosso desenvolvimento moral, por
meio do Evangelho cristalino do Cristo, não
devemos esquecer o aspecto científico da
Doutrina Espírita, pois nos auxilia a promover a
certeza da continuidade da vida após a morte do
corpo físico. Já obtivemos inúmeras comprovações
por meio das diversificadas manifestações
mediúnicas (psicografia, psicofonia, voz direta,
fenômenos de materializações de espíritos etc.),
e todas podem ser analisadas, dentro dos
critérios da lógica, razão e bom senso, por
intermédio do método científico.
E como tem visto a transcomunicação
instrumental?
Nos dias atuais, no que se refere ao Brasil,
temos Sônia Rinaldi, que faz um trabalho há
bastante tempo, com resultados interessantes.
Fora do Brasil, iniciaram-se as pesquisas com o
sueco Friedrich Jürgenson (1903-1987), que tinha
o hábito de gravar o canto dos pássaros. Em
12/06/1959, ao escutar uma dessas gravações,
deparou-se com vozes humanas entre os cantos
gravados. Notou-se
que essas vozes, a princípio, não eram
interferências de rádio, mas de pessoas já
falecidas. A partir daí, surgiram pelo mundo
muitas manifestações de espíritos utilizando-se
aparelhos eletrônicos (rádios, gravadores,
televisores, computadores, telefones etc.).
Destacamos, também, as pesquisas do Dr.
Konstantin Raudive (1909-1974).
E sobre as pesquisas a respeito da reencarnação,
o que gostaria de dizer?
Considero Ian Stevenson o maior pesquisador
neste campo, sendo que catalogou, ao longo de 30
anos, mais de 3 mil casos de reencarnação,
culminado numa gigantesca obra intitulada Reincarnation
and Biology, publicada em 1997, contendo
mais de 2 mil páginas (infelizmente sem edição
em língua portuguesa). Atualmente, Jim Tucker dá
continuidade às pesquisas de Stevenson.
E na prática cotidiana dos centros espíritas,
tem visto cuidados ou iniciativas das
instituições com esses aspectos de pesquisa?
De modo geral, não vemos iniciativas, pelo menos
consideráveis, de estudo sistematizado do
aspecto científico do Espiritismo (pelo menos
nos centros espíritas que frequentei, incluindo
nossa casa espírita de Guariba). Mas seria
importante oferecermos tal estudo, de modo
didático e dialogando com os aspectos
filosóficos e morais do Espiritismo.
Suas palavras finais.
Gostaria que as casas espíritas dispusessem de
espaços dialógicos para estudo e reflexão do
Espiritismo Científico, principalmente entre os
jovens que, naturalmente, apresentam maior
curiosidade neste aspecto, demonstrando a
ligação intrínseca entre os 3 pilares do
Espiritismo (Ciência, Filosofia e Religião).
Seria um aspecto formativo para as futuras
gerações. Relembrando Albert Einstein
(1879-1955): A Ciência sem a Religião é
manca; a Religião sem a Ciência é cega.
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