Obsessão: nenhuma dura para sempre
Ao longo de muitos milhares de anos a obsessão tem
pontuado na constelação das experiências espirituais
mais elementares do percurso evolutivo do ser humano.
Apesar dessa moldura dramática, as leis da vida não
desistem de estimular os envolvidos no processo de
crescimento interior com vista a obter melhores soluções
rumo a uma existência mais esclarecida e mais feliz.
O processo em causa tem por base a mediunidade, o que
equivale a dizer a possibilidade de alguém servir de
medianeiro entre o Plano Espiritual e o Plano Material,
sabendo disso ou não. Num conceito muito amplo, podemos
dizer que o lixeiro é médium da limpeza, mas, em sentido
estrito, a verdade é que médium será aquele cujas
faculdades permitem em certas circunstâncias a
comunicação entre ambos os planos da vida.
Vista a escala espírita, constante de “O Livro dos
Espíritos”, de Allan Kardec, no seu Livro II, capítulo
1, deparamos com o resumo da variedade de Espíritos
imperfeitos suscetíveis de causar obsessão.
Estudada por Allan Kardec e explicada em vários dos seus
livros, a obsessão pode ser definida de forma simples
como a influência perniciosa de Espírito(s)
desencarnado(s) sobre um Espírito encarnado, ou seja,
centrada numa pessoa durante a vida material.
Por exemplo, em “O Livro dos Médiuns”, na sua II parte,
capítulo XXIII, muito pragmático, Kardec começa por
descrever a chamada obsessão simples, tão comum a
tantos de nós, que, se vigilantes sobre os nossos
pensamentos, percebemos o que está a ocorrer. É mais
fácil por isso elevar qualitativamente o que sentimos e
pensamos, para melhorar a faixa de sintonia espiritual.
A obsessão é um fenómeno que se fortalece com a
intensificação da afinidade de pensamentos e sentimentos
com Espíritos mais atrasados, o que agrupa elementos do
quotidiano como sejam desejar mal a outrem, irritação
frequente, maledicência, estados depressivos
recorrentes, frustração contumaz, etc. Quanto mais
permanecemos nesse patamar mais consistência se dá à
obsessão. A figura 1 ilustra estas palavras.
Outro tipo de obsessão, mais grave, é a fascinação.
Produzida pela ação do Espírito desencarnado ignorante
sobre o pensamento do médium pouco esclarecido, de certa
maneira, esta ilusão paralisa-lhe o discernimento.
Na tipologia obsessiva, a fase mais grave é a da subjugação.
Vista como uma constrição que paralisa a vontade daquele
que a sofre, nessa fase já o faz agir num certo sentido,
mesmo que o não deseje. O indivíduo fica como que sob um
jugo.
Também no livro “O que é o Espiritismo”, de Kardec,
capítulo II, encontramos o item Escolhos da
mediunidade, onde a obsessão ocupa um lugar central.
Se procurarmos a origem de uma dada obsessão,
encontramos duas vias.
Uma é a da afinidade de pensamentos entre
obsidiado e obsessor. É curioso ponderar que os
pensamentos abrem caminho a sentimentos, como se estes
fossem a barca desses encorpados passageiros no rio do
tempo. Se houvesse estatística feita, esta fonte de
obsessão seria decerto a mais frequente.
Por sua vez, menos recorrente é a origem vingativa, cármica,
que mantém uma obsessão, com frequência centrada numa
vida passada recente. O atual Espírito obsessor, antiga
vítima do atual obsidiado, localiza-o na nova existência
corporal e quer cobrar o mal recebido. O vínculo de
consciência do obsidiado só vai compensar a velha vítima
com a luminosidade do amor sincero e fraterno,
persistente, capaz de demonstrar que foi pesado lapso do
passado e jamais, hoje em dia, conseguiria repetir o
drama. Não foi à toa que Jesus de Nazaré recomendou que
amássemos os inimigos e fizéssemos bem aos que nos
odeiam, perseguem e caluniam (Mateus, V: 20, 43-47).
Contudo, como todos os obstáculos criados pela
ignorância, também este problema não vai durar para
sempre. É aí que entra a ideia da desobsessão. Como o
nome indica é a cura da obsessão.
Todas as obsessões incluem estes elementos essenciais,
aqui simplificados: a pessoa que sofre de obsessão (obsidiado);
o Espírito que exerce obsessão (obsessor); e o seu canal
de relacionamento: a ignorância. Na verdade, na obsessão
não há só uma vítima, mas sim pelo menos duas. A figura
2 espelha esta ideia.
Na teoria e na prática, se se introduzir esclarecimento
nesse sistema e ele for aceite por uma ou ambas as
partes, emerge o processo desobsessivo. Condição
necessária e suficiente: quem sofre a obsessão melhorar
significativamente o seu padrão de vida interior.
Verifica-se que não basta introduzir teoria, tem de
haver interiorização. A teoria ilumina por fora, mas só
a vivência dessas ideias iluminativas clareia a
consciência. Em vez de permanecermos corpos iluminados,
como a Lua, estamos a começar a aprender a emitir luz
própria de natureza espiritual, através da recorrência
de bons sentimentos.
É por essa razão que no dia a dia convém estarmos
atentos aos sentimentos pesados e aos estados de alma
amorfos, típicos do que Kardec chamou Espíritos neutros
na escala espírita. Ambos reduzem a capacidade
vibratória de natureza espiritual de cada pessoa,
limitando as perceções de índole espiritual. A figura
3 acrescenta informação útil.
Para fixarmos o auxílio generoso e incansável dos
Espíritos esclarecidos a que estamos ligados, isolando a
eventual influência dos que ainda não sabem viver
felizes, forçoso é cultivar em doses sucessivas,
ministradas pelo livre-arbítrio, pensamentos fraternos.
Uma forma poderosa de eliminar estados de alma amorfos
surge do recurso a memórias afetivas. Todos as temos, e
nem sempre é necessário fazer “arqueologia” nas nossas
experiências mais antigas para as reavermos a luzir amor
e paz. Da infância ao presente, temos acesso à lembrança
de experiências de vida capazes de iluminar a mente de
bons sentimentos, superando a inércia afetiva que
aprisiona o ser afastando-o temporariamente da plenitude
possível durante a passagem terrena. Encontrando essas
memórias afetivas, deixe-as voar dentro de si e espalhar
bênçãos iluminativas na sua vida interior.
Vivemos num planeta inacreditável, a escola de natureza
espiritual mais bela que o amor de Deus nos pode
atribuir nesta fase. Sejamos gratos e respeitemo-la. Há
muito para aprender.