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por Jorge Gomes

 

Obsessão: nenhuma dura para sempre


Ao longo de muitos milhares de anos a obsessão tem pontuado na constelação das experiências espirituais mais elementares do percurso evolutivo do ser humano.

Apesar dessa moldura dramática, as leis da vida não desistem de estimular os envolvidos no processo de crescimento interior com vista a obter melhores soluções rumo a uma existência mais esclarecida e mais feliz.

O processo em causa tem por base a mediunidade, o que equivale a dizer a possibilidade de alguém servir de medianeiro entre o Plano Espiritual e o Plano Material, sabendo disso ou não. Num conceito muito amplo, podemos dizer que o lixeiro é médium da limpeza, mas, em sentido estrito, a verdade é que médium será aquele cujas faculdades permitem em certas circunstâncias a comunicação entre ambos os planos da vida.

Vista a escala espírita, constante de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, no seu Livro II, capítulo 1, deparamos com o resumo da variedade de Espíritos imperfeitos suscetíveis de causar obsessão.

Estudada por Allan Kardec e explicada em vários dos seus livros, a obsessão pode ser definida de forma simples como a influência perniciosa de Espírito(s) desencarnado(s) sobre um Espírito encarnado, ou seja, centrada numa pessoa durante a vida material.

Por exemplo, em “O Livro dos Médiuns”, na sua II parte, capítulo XXIII, muito pragmático, Kardec começa por descrever a chamada obsessão simples, tão comum a tantos de nós, que, se vigilantes sobre os nossos pensamentos, percebemos o que está a ocorrer. É mais fácil por isso elevar qualitativamente o que sentimos e pensamos, para melhorar a faixa de sintonia espiritual.

A obsessão é um fenómeno que se fortalece com a intensificação da afinidade de pensamentos e sentimentos com Espíritos mais atrasados, o que agrupa elementos do quotidiano como sejam desejar mal a outrem, irritação frequente, maledicência, estados depressivos recorrentes, frustração contumaz, etc. Quanto mais permanecemos nesse patamar mais consistência se dá à obsessão. A figura 1 ilustra estas palavras.

Outro tipo de obsessão, mais grave, é a fascinação. Produzida pela ação do Espírito desencarnado ignorante sobre o pensamento do médium pouco esclarecido, de certa maneira, esta ilusão paralisa-lhe o discernimento.

Na tipologia obsessiva, a fase mais grave é a da subjugação. Vista como uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre, nessa fase já o faz agir num certo sentido, mesmo que o não deseje. O indivíduo fica como que sob um jugo.

Também no livro “O que é o Espiritismo”, de Kardec, capítulo II, encontramos o item Escolhos da mediunidade, onde a obsessão ocupa um lugar central.

Se procurarmos a origem de uma dada obsessão, encontramos duas vias.

Uma é a da afinidade de pensamentos entre obsidiado e obsessor. É curioso ponderar que os pensamentos abrem caminho a sentimentos, como se estes fossem a barca desses encorpados passageiros no rio do tempo. Se houvesse estatística feita, esta fonte de obsessão seria decerto a mais frequente.

Por sua vez, menos recorrente é a origem vingativa, cármica, que mantém uma obsessão, com frequência centrada numa vida passada recente. O atual Espírito obsessor, antiga vítima do atual obsidiado, localiza-o na nova existência corporal e quer cobrar o mal recebido. O vínculo de consciência do obsidiado só vai compensar a velha vítima com a luminosidade do amor sincero e fraterno, persistente, capaz de demonstrar que foi pesado lapso do passado e jamais, hoje em dia, conseguiria repetir o drama. Não foi à toa que Jesus de Nazaré recomendou que amássemos os inimigos e fizéssemos bem aos que nos odeiam, perseguem e caluniam (Mateus, V: 20, 43-47).

Contudo, como todos os obstáculos criados pela ignorância, também este problema não vai durar para sempre. É aí que entra a ideia da desobsessão. Como o nome indica é a cura da obsessão.

Todas as obsessões incluem estes elementos essenciais, aqui simplificados: a pessoa que sofre de obsessão (obsidiado); o Espírito que exerce obsessão (obsessor); e o seu canal de relacionamento: a ignorância. Na verdade, na obsessão não há só uma vítima, mas sim pelo menos duas. A figura 2 espelha esta ideia.

Na teoria e na prática, se se introduzir esclarecimento nesse sistema e ele for aceite por uma ou ambas as partes, emerge o processo desobsessivo. Condição necessária e suficiente: quem sofre a obsessão melhorar significativamente o seu padrão de vida interior. Verifica-se que não basta introduzir teoria, tem de haver interiorização. A teoria ilumina por fora, mas só a vivência dessas ideias iluminativas clareia a consciência. Em vez de permanecermos corpos iluminados, como a Lua, estamos a começar a aprender a emitir luz própria de natureza espiritual, através da recorrência de bons sentimentos.

É por essa razão que no dia a dia convém estarmos atentos aos sentimentos pesados e aos estados de alma amorfos, típicos do que Kardec chamou Espíritos neutros na escala espírita. Ambos reduzem a capacidade vibratória de natureza espiritual de cada pessoa, limitando as perceções de índole espiritual. A figura 3 acrescenta informação útil.

 

Para fixarmos o auxílio generoso e incansável dos Espíritos esclarecidos a que estamos ligados, isolando a eventual influência dos que ainda não sabem viver felizes, forçoso é cultivar em doses sucessivas, ministradas pelo livre-arbítrio, pensamentos fraternos.

Uma forma poderosa de eliminar estados de alma amorfos surge do recurso a memórias afetivas. Todos as temos, e nem sempre é necessário fazer “arqueologia” nas nossas experiências mais antigas para as reavermos a luzir amor e paz. Da infância ao presente, temos acesso à lembrança de experiências de vida capazes de iluminar a mente de bons sentimentos, superando a inércia afetiva que aprisiona o ser afastando-o temporariamente da plenitude possível durante a passagem terrena. Encontrando essas memórias afetivas, deixe-as voar dentro de si e espalhar bênçãos iluminativas na sua vida interior.

Vivemos num planeta inacreditável, a escola de natureza espiritual mais bela que o amor de Deus nos pode atribuir nesta fase. Sejamos gratos e respeitemo-la. Há muito para aprender.

 
    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita