Especial

por Paulo da Silva Neto Sobrinho

Construções no mundo espiritual em cartas consoladoras - Parte 1

 

“A força retórica de um argumento jamais deve ser confundida com as realidades práticas que comprometem sua lógica.” (BART D. EHRMAN)


Como principal fonte de investigação, usaremos a obra A Vida Triunfa: Pesquisa Sobre Mensagens que Chico Xavier Recebeu. [1]

A sua primeira edição foi publicada em 1990 pelo prof. Paulo Rossi Severino (1933-2017) e Equipe AME-SP.

Objetivaram os autores fazer análise com viés científico em 45 mensagens consoladoras recebidas pela notável mediunidade de Chico Xavier (1910-2002) com a precípua intenção de verificar a possível autenticidade delas.

Do “Prefácio”, assinado por Hernani Guimarães Andrade (1913-2003), destacado pesquisador espírita, destacaremos:

O que existe de notável nessas comunicações, proporcionadas pela mediunidade de Chico Xavier, é a sua impressionante exatidão no concernente à fidelidade das informações identificadoras, acerca dos parentes e amigos ainda vivos e já falecidos que fizeram parte do relacionamento do comunicante. Além disso, há casos em que o Espírito, ao escrever através do médium, usa expressões pessoais e até gírias que ele empregava quando vivo. Inúmeros outros sinais de autenticidade poderão ser notados ao longo dos relatos contidos na presente obra: A VIDA TRIUNFA. (p. 5, grifo nosso)


Essas considerações demonstram quanto foi sério o trabalho de pesquisa constante dessa obra.

Citaremos os seguintes casos:

1º) Caso nº 3: Volquimar Carvalho dos Santos, em 13/07/1974.

Mais tarde, com algumas horas de libertação do corpo, à que despertei ao seu lado. Aquele amigo certo, que hoje sei ser ele o meu avô e benfeitor de todos os dias, estava a postos reconfortando-me... Estava em meu próprio leito, refazendo energias, e por ele fui informada que a ilusão de estar no corpo precisava ser esquecida, que o nosso querido Álvaro, auxiliado por ele, encontrara a forma física na instituição a que fôramos recolhidos depois da luta enorme, e que não me cabia, agora, senão estar calma e forte para fortalecê-la.

[…]

Meu avô e outros amigos me ajudaram e prossigo na recuperação necessária.

Os irmãos hospitalizados, os que se refazem do choque, os que se reconhecem desfigurados por falta de preparação íntima na reconstituição da própria forma e os que se acusam doentes são ainda muitos. (p. 48, grifo nosso)

2º) Caso nº 4: Maria Teresa de Sena Melo, em 18/01/1975.

[…] Via tudo nebuloso, sem saber organizar as ideias dentro de mim… Foi quando meu avô Gerôncio me tomou nos braços e me acariciou, dizendo para mim a vida mudara…

Ah! mãezinha, dizer que isso foi natural para mim é impossível. Chorei muito e demorei-me na aceitação necessária. A hospitalização nova surgiu para mim como verdadeira benção. E gradativamente retomei-me. (p. 54, grifo nosso)

3º) Caso nº 5: Gabriel Casemiro Espejo, em 15/03/1975.

Aquela indisposição que parecia ligeira, tomou vulto de repente. Quando papai se esforçou para que me expressasse, ou dialogasse com mais ânimo, notei que esmorecia.

Minhas sensações por dentro estavam intactas. Ouvia tudo o que se falava em derredor de meu leito.

Reconheci que me transportavam para socorro no rumo do amparo hospitalar, no entanto, pouco a pouco, entrei num sono profundo do qual não podia me desvencilhar.

Minha memória abrange apenas a metade das horas claras do dia, naquela quinta-feira de luta…

O resto ainda não sei, a não ser que acordei numa sala de tratamento com a cabeça enfaixada.

Chamei por meu pai, por minha mãe, pedi o apoio de alguém que me esclarecesse sobre as ocorrências das quais não tinha consciência, mas um enfermeiro me advertiu que fora cirurgiado por um médico, o Dr. Mário Gatti.

Lembrei-me que esse benfeitor já não era da Terra e asserenei-me quanto pude. (p. 58-59, grifo nosso)

4º) Caso nº 7: Vera Cruz Leitão Bertoni, em 05/09/1975.

[…] Entretanto, o corpo, querida irmã, estava gasto. Não sei, por enquanto, definir a minha situação, mas compreendi na quarta-feira que não mais seria possível a resistência. Falar como desejava, não conseguia. Sabe, você, quanto esforço despendem os médicos e a enfermagem para nos liberarem da separação física… Por mais que me esforçasse para dizer o que via, a voz parecia sufocada na garganta. […] Uma alegria misteriosa estava comigo. Digo “misteriosa”, porque a separação me infundia aflição e sofrimento. A noite desceu, mas, para mim, aquele ambiente hospitalar povoado de indagações e de preces asfixiadas se revestiu, de repente, de uma luz que me envolveu, sem que eu nada disso merecesse. […].

[…] Querida Milza, que Deus abençoe a você, que Jesus a reanime, que nossa Mãe Celestial a proteja e que o herói das chagas de Cristo, o iluminado de Assis, esteja com você e com todos os nossos, incluindo todos os que sofrem saudade e separação, angústia e tristeza. Estou em novo lar, no lar das bênçãos do inesquecível São Francisco, que não mereço, mas das quais preciso, a fim de me refazer, embora a me tornar mais devedora de Jesus e de seus Mensageiros. Estejam todos tranquilos. E beijando as mãos de nossa querida mãe, em suas mãos queridas de irmã, peço a você, querida Milza, receber todo o carinho e todo o reconhecimento no afetuoso abraço da irmã agradecida. (p. 70, grifo nosso)

5º) Caso nº 8: José Roberto Pereira Cassiano, em 20/09/1975.

[…] Novamente, o benfeitor incansável promoveu os meios de socorro dos quais necessitava e um sono maior abençoou a minha cabeça cansada… Depois, quando voltei de novo a mim, achava-me em outro lugar e em outra instituição.

Um hospital-escola ou, melhor, um educandário de recuperação espiritual me abrira as portas e desse recanto de paz e amor consegui sair, devidamente acompanhado, para visitar papai na Beneficência Portuguesa. Desde então, melhorei, por que era preciso consolidar minha fé para ser-lhes útil. (p. 74, grifo nosso)

6º) Caso nº 9: Walter Perrone, em 23/08/1974.

Mamãe querida, estou quase bem; se isso pudesse acontecer, porque para sentir-me plenamente bem, seria preciso estarmos aqui todos juntos.

Mas o meu avô Perrone [desencarnando há mais de 15 anos] me recolheu no pronto-socorro. Dormi com serenidade e só depois de acordar vim a saber que ele me amparava com carinho e a bondade que hoje posso avaliar com noção mais ampla de gratidão e de entendimento. (p. 82, grifo nosso)

7º) Caso nº 10: Ronaldo Malafronto, em 09/04/1976.

[…] Quando me retiraram da forma física extenuada, as comportas se abriram e as lágrimas que eram em mim preces a Deus, rogando forças em vão para dizer alguma coisa, rolaram pela face. Não pense que seu filho estava sofrendo. Acontece que dormi e só acordei em outro lugar com as suas exclamações.

Pensei que estivesse num hospital da Terra, semelhante àqueles que conhecemos, mas me encontrava em outra parte da nossa mesma Terra, que a gente aí não consegue ver. O anseio de confortá-la me doía no espírito e só muito depois é que vim a saber tudo o que acontecera. O tratamento de minhas forças não me atingiu os sentimentos e, por isso, o desejo agoniado de dar notícias continuou… (p. 87, grifo nosso)

8º) Caso nº 12: João Jorge de Lima, em 23/07/1976.

[…] Querida irmã, tudo aquilo que não depende de nós, e que sucede contrariamente aos nossos desejos, vem da lei de Deus. Quando o choque dos veículos me abateu, senti-me num sono profundo, ouvi que me chamaram em casa, com muitas lamentações. No princípio nada compreendi. Parecia-me num sonho-pesadelo, mas o amparo do avô Manuel [desencarnado em 22/01/1926] que me acolheu carinhosamente, era para mim um socorro que não sabia como receber. Não conhecia as pessoas no começo de meu novo caminho, pois tive a ideia de me achar num hospital do mundo, no entanto, aos poucos, meu avô Manoel e a vovó Gabriela [desencarnada em 01/04;1973] me esclareceram.

Desde então, estou lutando muito para retornar à tranquilidade. (p. 96, grifo nosso)

9º) Caso nº 13: Yolanda Carolina Giglio Villela, em 15/10/1976.

Quando acordei, porém, escutava seus apelos, suas perguntas, suas aflições e suas lágrimas, em forma de palavras e sons que me ecoavam por dentro do coração.

Senti-me perdida, como quem se reconhece num hospital que não pediu e nem esperou.

Os conhecimentos que trazia comigo me foram valiosos, porque era justo que eu a chamasse aos gritos, manifestando minha estranheza em altas vozes, mas quando vi o tio Orlando (5) com aquele rosto sereno a fitar-me, ele que partira, antecedendo-me na vida espiritual, creio por 11 meses, compreendi tudo.

Achava-me, como ainda me encontro, numa instituição de recuperação em que o amigo maior é o Padre Antônio (6), direi Antônio Preto, de quem ouvira tantas vezes falar. (p. 100, grifo nosso)

10º) Caso nº 14: Carlos Alberto Andrade Santoro, em 11/03/1977.

Chorei, dentro de uma imobilidade que eu não saberia descrever, e, em seguida, notei que mãos de enfermagem me anestesiavam, lia o sono, o sono da bênção, porque entre a morte do corpo e o renascimento na Vida Espiritual, Deus colocou um desmaio providencial. Quando acordei, me vi sem qualquer ligação com o nosso amigo Denizard e com a nossa gente amiga de Votuporanga.

[…].

Vi me em outra cidade diferente da nossa e sentia-me ligado espontaneamente a todos os que me vigiavam com ternura.

Meu avô Santoro (7) estava velando por mim, mas, no meu íntimo, eu era outro rapaz do tempo em que o País estava convulsionado por lutas muito grandes. Tive a ideia de estar na cidade onde havia assumido o compromisso de deixar o corpo violentamente. Despertava, sob o céu em que fizera a dívida que eu resgatara. Conte, papai, tudo isso ao Romeu. Parecia sonhar, mas não era sonho. Eu me via na cidade onde me fizera devedor.

Acordei, achava-me num educandário hospital dirigido por antigos benfeitores de São José do Rio Preto. Meu bisavô Santoro [desencarnado] me afagava e minha tia Maria [desencarnada] me falava com bondade, mas não precisaram doutrinar-me quanto à Grande Renovação. (p. 105-106, grifo nosso)

11º) Caso nº 22: Jorge Luiz Motono Camargo, data não informada.

[…] Um sono pesado me cerrou as pálpebras e nada mais consegui identificar, senão que sonhava, revendo meus dias de criança.

Foi um retrospecto ligeiro em que me enxerguei nas telas da mente na infância em casa… Depois, o sono pareceu mergulhar em ondas mais profundas e perdi a noção de mim mesmo.

Quando acordei, ouvi os gritos da mãezinha Íris, chamando por mim.

A ideia de hospitalização não me saía da cabeça.

Não julguei haver atravessado as barreiras da morte.

Com alguma dificuldade, pedi, aos enfermeiros que me atendiam, a volta para o lar ou a presença dos pais ao meu lado, já que a voz de mamãe se fazia ouvida por mim, de modo estranho, como se um fone estivesse instalado em meu peito.

Foi o vovô Rafael o primeiro a chegar junto de mim para o que denominam aqui diálogo terapêutico.

Quando me informei que as portas de nossa casa não mais me conheciam por um filho ainda vivo, chorei muito. Queria vê-los, conversar, pedir o meu regresso aos estudos e colegas em Guarulhos, mas meu avô me reconfortou, explicando que, na Terra, todos temos um dia de acordar em região diferente. Era preciso coragem, fortalecer-me e reviver para o socorro aos pais queridos. (p. 149-150, grifo nosso)

12º) Caso nº 23: Marco Antonio Migotto, em 15/0/1978.

Mãezinha, é tão difícil falar de notícias quando a gente ama tanto e não se vê reciprocamente para um abraço em que os olhos possam ler uns nos outros o que está acontecendo… Mas, não se aflija. O que sucedeu com seu filho é a saudade que passou a morar entre nós. Você pode avaliar o que foi a transformação. Despertar longe de casa, sem passagem de volta e assumir uma vida completamente nova em que os assuntos da retaguarda me pesavam na cabeça, foi muito difícil. Quando me conscientizei da situação diferente em que me achava, a preocupação pelo Cláudio me inquietava, porque muito espontaneamente me supunha num hospital para acidentados.

Os meus chamados e exigências para que a família me assistisse foram inúteis. Sentia-me na posição do menino contrariado, repentinamente desvalido, mas os avós vieram e me consertaram. Meu avô João Luiz e meu avô Ângelo [falecido há 9 anos] começaram a me esclarecer e a me clarear a memória. Quando aceitei a verdade, vi-me ligado ao seu coração e sentia o seu pranto a correr sobre o meu coração. (p. 153, grifo nosso)

 

(Continua na próxima edição desta revista.)


[1]  SEVERINO, P. S. e EQUIPE AME-SP. A Vida Triunfa: Pesquisa Sobre Mensagens que Chico Xavier Recebeu. 2ª edição. São Paulo: Editora Jornalista Fé, 1992.

   

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita