Encontraram o fóssil do deus de
Espinoza?
Segundo o filósofo holandês Baruch Espinoza: afora
Deus, nada pode ser dado nem concebido e que, tudo o que
existe, existe em Deus, sem Deus nada pode ser, nem pode
ser concebido.
Conhecido como o “deus imanente”, essa concepção da
divindade de Espinoza também pode ser uma característica
panteísta do criador e muitos acreditam nessa teologia
como a figura transcendental de uma natureza com “N”
maiúscula. Na contemplação da natureza, vemos Deus.
Por mais romântica e poética que seja essa visão, Kardec
e os espíritos abordam-na no Livro dos Espíritos e
durante a codificação e mostram a insensatez de tal
concepção. Na questão 14, o codificador pergunta:
Deus é um ser distinto, ou será, como opinam alguns, a
resultante de todas as forças e de todas as
inteligências do Universo reunidas?
No universo, na natureza, tudo tem inicio, meio fim.
Tudo evolui. Se o criador se confundisse com sua
criação, também estaria sujeito a nascer, crescer,
morrer e evoluir. Pela própria lei da evolução, um deus
que é o resultante de “todas as forças...” estaria à
mercê da entropia e sua transformação constante seria
inato à sua natureza divina.
Ocorre em muitos espíritas a incapacidade de conciliar a
bondade divina com a maldade do mundo e tentando
conservar sua fé, pulam para uma concepção panteísta,
trocam de deus porque o de Espinoza lhes parece mais
próximo da gente. O Deus teísta que vive no céu, nas
alturas, muito distante do choro e ranger de dentes da
humana, lhes parece indiferente a nossas angústias.
Trazê-lo para perto é um gesto bem humanizador do
criador. A imanência de Deus o coloca dentro de cada
pedra, árvore, criança e cachorro. Um criador que está
na natureza porque é a natureza em seus aspectos
divinos.
Quem defende tal ponto de vista se esquece daquilo que
os espíritos superiores responderam:
- Se fosse assim, Deus não existiria, porquanto seria
efeito e não causa. Ele não pode ser ao mesmo tempo uma
e outra coisa.
Tudo que existe está sujeito às leis da matéria e as
leis do espírito. No tempo foram criadas e no tempo
evoluem. Sob o relógio do tempo, almas e coisas
interagem num caos e ordem em harmonia. Um deus que
também fosse “coisa”, “ser”, dentro desse tecido
cósmico, deixaria de existir por tornar-se efeito em
algum momento dessas correlações causais ou sincrônicas.
Kardec continua:
- Que se deve pensar da opinião segundo a qual todos os
corpos da Natureza, todos os seres, todos os globos do
Universo seriam partes da Divindade e constituiriam, em
conjunto, a própria Divindade, ou, por outra, que se
deve pensar da doutrina panteísta?
Os espíritos respondem:
“Não podendo fazer-se Deus, o homem quer ao menos ser
uma parte de Deus.”
Penetrar a natureza do criador é humano. Uma atitude
antropocêntrica necessária. Louvável. Digna. É natural
que a criatura anseie compreender seu criador. É
sensato, porém, reconhecer que nos faltam faculdades
neurossemânticas, estruturas psicomorais, para sondar-se
o íntimo. Tudo o que temos são teodiceias construídas de
forma artesanal pela nossa genialidade ou neurose, pela
nossa arrogância ou desamparo existencial.
Deus existe; disso não podeis duvidar, e é o essencial.
Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto
donde não lograríeis sair. Isso não vos tornaria
melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois que
acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis.
Deixai, conseguintemente, de lado todos esses sistemas;
tendes bastantes coisas que vos tocam mais de perto, a
começar por vós mesmos. Estudai as vossas próprias
imperfeições, a fim de vos libertardes delas, o que será
mais útil do que pretenderdes penetrar no que é
impenetrável,
asseveram as entidades veneráveis.
Para os nobres espíritos da codificação, conhecer a si
mesmo, combater suas más tendências é mais importante
para o homem do que conhecer a Deus, provocando uma
revolução no pensamento religioso, já que quase todas as
religiões colocam como primordial o conhecimento de Deus
para a salvação humana. A doutrina espírita, como um
arcabouço ético, coloca a autotransformação como regra
máxima, deixando em segundo plano o conhecimento do
criador.
É uma atitude sensata!
Conhecer nosso interior já é, por si só, uma jornada
longa, árdua e desafiante.
Conhecer a Deus, num planeta de provas e expiações, com
um organismo que não dura 100 anos, um cérebro que não
capta nem todo o espectro da luz, é tarefa impossível.
Mas...pelos avanços da ciência moderna, podemos
assegurar, se o deus de Espinoza (que se confunde
com a natureza) existisse, já teria sido descoberto por
algum instrumento preciso e, na pior das hipóteses, já
teriam encontrado sua cova, seu fóssil, em algum sítio
arqueológico.
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