Gratidão
A gratidão é filha do nosso amadurecimento psicológico e
enriquece de paz e de alegria todos que a cultivam.
É quando nos damos conta de que viver é experienciar
gratidão por tudo quanto nos acontece e aproveitar a
oportunidade de vivenciá-la. A nossa existência terrena
é um hino de louvor, portanto, de gratidão. É vibração,
de harmonia, presente em todo o Universo.
Isso tudo nos leva a entender que a gratidão é filha da
maturidade alcançada mediante a razão, que nos coloca
acima do instinto e assim nos proporciona equilíbrio.
A psicologia da gratidão torna-se um instrumento hábil
quando vivenciada em todos os instantes da nossa
existência terrena. Sendo usada como roteiro de
segurança para a conquista da realidade. Porém, na nossa
imaturidade emocional acreditamos que a gratidão é uma
retribuição pelo bem ou pelos favores que recebemos.
No entanto, ele é um sentimento mais profundo e
significativo, e é grandioso porque nos traz satisfação,
pois todo aquele que é grato, que compreende seu
significado real, tem grande saúde física, emocional e
psíquica, porquanto sente a alegria de viver
compartilhando de todas as coisas.
Enquanto a ingratidão é filha da soberba, quando não do
orgulho ou da prepotência, que são os remanescentes do
instinto, vivendo inquietos, perturbando-se e
desequilibrando os que estão ao seu redor e, dessa
forma, acabam cultivando as enfermidades da
agressividade, da violência ou da autocompaixão,
entregando-se aos conflitos e transferindo mecanismos de
responsabilidades. Impossilitados de compreender a
finalidade existencial à busca de um sentido para a
autorrealização, fazem-se omissos, até mesmo no que diz
respeito aos seus insucessos, e entregam-se a condutas
estranhas para esconder seus conflitos.
Todavia, devemos respeitar os ingratos tanto quanto os
amigos gratos. Cabe a cada um de nós compreender que a
criatura ingrata ainda se encontra em um patamar
evolutivo em que o egoísmo se sobrepõe à humildade e ao
sentimento de gratidão e fraternidade.
Assim podemos lembrar-nos de Jesus que, ao ser injuriado
e desprezado, jamais repreendeu os ingratos de forma
julgadora. Ele mostrou e exemplificou o caminho a
seguir. Por isso, precisamos em nossa jornada ter sempre
Jesus como Modelo e Guia para tomarmos as melhores
atitudes.
Temos o livre-arbítrio e, caso recebamos a ingratidão,
oremos e agradeçamos a Deus a oportunidade de sermos
instrumentos e tenhamos o entendimento de que esse irmão
ainda não alcançou a compreensão dos ensinamentos
trazidos pelo Mestre Nazareno.
Se Deus permitiu que fôssemos pagos com a ingratidão foi
para que tivéssemos vontade firme, perseverança, bom
ânimo para continuarmos a praticar o bem
desinteressadamente, pois somos todos devedores uns dos
outros, seja nos pequenos como nos grandes lances da
existência. Desta maneira, façamos o bem a todos:
amigos, desafetos, companheiros, estranhos, conhecidos.
Assim, até os mais endurecidos ficarão comovidos pelo
exemplo do bem que praticarmos.
Bendizer os ingratos e orar por eles – tal é o nosso
dever, porquanto eles se encontram em piores condições,
mais do que supomos, visto que neles ainda o orgulho e o
egoísmo estão ativos. Na verdade, o nosso sentido
existencial é de conquistas internas aplicadas em favor
da gratificação, ou seja, à medida que recebemos devemos
doar mais e mais. É quando alcançamos o objetivo do
nosso significado imortal; é quando entendemos com
discernimento lúcido, abençoando tudo e todos,
agradecendo a oportunidade de uma nova reencarnação.
É um estado interior que se agiganta, contrário à
reclamação – que é perda de tempo. É quando perdemos a
oportunidade de fazer o bem, pois a reclamação, a
lamúria não auxiliam nem resolvem problemas, só os
tornam mais difíceis.
Vamos exercitar o silêncio interior e exterior quando a
vontade de reclamar visitar nossa mente. Na reclamação
nossas dificuldades, pedras, obstáculos se tornam
maiores do que realmente são, enquanto que na gratidão
temos e sentimos a espiritualidade amiga a nos envolver,
principalmente diante das adversidades, e assim
ampliamos nossos horizontes para o bem, para o belo,
para o bom e para o útil.
Qualquer coisa pode ser motivo para reclamar ou
agradecer. O que fará a diferença em nossa jornada serão
as nossas escolhas. Exatamente por isso a importância de
mudarmos a sintonia da reclamação para a sintonia do
agradecimento.
Em O Evangelho segundo O Espiritismo, no capítulo
28, item 28, temos o seguinte esclarecimento: “…que
esquecemos facilmente do bem, para de preferência
lembrarmo-nos do que nos aflige. Se registrássemos,
diariamente, os benefícios de que somos objetos sem o
havermos pedido, quase sempre ficaríamos espantados por
termos recebido tantos e tantos que se apagaram da nossa
memória com a nossa ingratidão”.
Muitas pessoas perguntam como podemos render graças a
Deus pelas dores que sacodem a nossa caminhada.
Basta-nos leve reflexão para que venhamos a reconhecer a
função renovadora do sofrimento. Mesmo que não
entendamos de imediato, vamos receber a provação que nos
chega como sendo o melhor que necessitamos agora em
favor do amanhã.
Mesmo que lágrimas dolorosas nos lavem a alma, sejamos
gratos, pois Deus está à frente de tudo sempre. Os
acontecimentos que dizem respeito ao mal têm como
objetivo nos educar e instruir. Portanto, como nos
lembra o apóstolo Paulo de Tarso, na primeira Carta aos
Tassalonissences, 5:18: “Em tudo dai graças, porque
está na vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”.
O Universo é uma corrente de amor em movimento
incessante; dessa forma, recordemos que ninguém é tão
sacrificado pelo dever que não possa, de quando em
quando, levantar os olhos em sinal de agradecimento com
uma prece, uma saudação afetuosa, uma flor, um bilhete
amistoso, conseguindo com esse pequeno gesto apagar o
fogaréu da discórdia ou dissipar os rochedos das
sombras.
Por mais dura que seja a estrada, aprendamos a sorrir e
a abençoar para que a alegria siga adiante, incentivando
corações e as mãos que operam a expansão da bondade
divina.
Francisco de Assis com sua nobre humildade para
vivenciar o amor maior afirmou, em certa ocasião, que a
gratidão é das mais difíceis moedas a se ofertar na
vida. Por isso ele sempre se preocupava em ser grato a
tudo e a todos. Agradecia ao irmão Sol por aquecê-lo e
por proporcionar vida à Terra; ao irmão Vento por
acariciá-lo nos dias de calor; à irmã Lua, por enfeitar
as noites de céu claro; ao irmão sofrimento, porque lhe
permitia introspeções e aprendizados na prisão do corpo
físico.
O exemplo de Francisco de Assis nos remete a profundas
reflexões nestes dias em que preponderam o egoísmo, a
violência, a crueldade…
No tumulto do dia a dia e dos compromissos, não paramos
para perceber as oportunidades que a vida nos oferece e,
egoístas que ainda somos, esquecemo-nos de agradecer a
experiência da nossa reencarnação e também pelas nossas
conquistas e benesses. Mas, por que também não podemos
agradecer pelo mal que nos aconteceu? Pelas pedras e
obstáculos do caminho? Pelas dores que chegam?
Os benefícios da gratidão são inúmeros, gerando paz
íntima e predispondo-nos a colaborar com Deus em Sua
obra.
Ampliemos, portanto, a nossa resignação, pois já
compreendemos que os desígnios divinos são justos,
sempre nos impulsionando para frente, ensinando-nos a
superar as desavenças, as mágoas, vivendo bem melhor e
semeando uma existência mais feliz nos corações daqueles
que partilham conosco a jornada.
Emmanuel, em Ato de Gratidão, nos envolve: “Agradeço-te,
Oh! Pai! o amor com que me envolves. Agradeço-te a vida,
o pão, a luz, o lar e os amigos queridos que me estendem
as mãos. Mas agradeço, ainda, a luz do sofrimento que me
faz caminhar. Pela dor que me envias, sê bendito, Meu
Deus! Agradeço, Senhor!”