Especial

por Paulo da Silva Neto Sobrinho

Construções no mundo espiritual em cartas consoladoras - Parte 2 e final

 

“A força retórica de um argumento jamais deve ser confundida com as realidades práticas que comprometem sua lógica.” (BART D. EHRMAN)


Como dit
o na primeira parte deste artigo, reportamo-nos à obra A Vida Triunfa: Pesquisa Sobre Mensagens que Chico Xavier Recebeu, cuja primeira edição foi publicada em 1990 pelo prof. Paulo Rossi Severino (1933-2017) e Equipe AME-SP.

Objetivaram os autores fazer análise com viés científico em 45 mensagens consoladoras recebidas pela notável mediunidade de Chico Xavier (1910-2002) com a precípua intenção de verificar a possível autenticidade delas.

Concluindo as citações extraídas da obra em foco, eis, a seguir, os demais casos nela relatados:


13º) Caso nº 25: Andréa Lodi, data não informada.

Como saí do lugar em que estávamos, ainda ignoro, mas acordei junto de uma senhora assim tão carinhosa e tão compreensiva, qual a senhora e a vovó.

Acalmou-me e só muito pouco a pouco me disse que era minha avó Ana [falecida em 07/07/1947] que não sei como retratar.

Sei que estou melhor e com o apoio do meu avô Sílvio estou num grande colégio cercado de jardins. Peço para ficarem tranquilos. Meu avô me diz para que eu pense que eu vim para cá a fim de aprender muitas lições de internação longa.

[…].

Nossos professores, aqui, muitos deles informam que possuem filhos na Terra e que nos amam da mesma forma como as crianças deles são estimadas e protegidas por muita gente boa no mundo. (p. 160, grifo nosso)

14º) Caso nº 27: Mauro Lira, data não informada.

A princípio, sofri o que não esperava. O choque foi nosso, porque na segunda-feira o papai me levava para São Bento, para um recreio de férias e na quarta-feira o atropelamento me estendeu no chão. Não tive dores. Tive ansiedade. Queria falar-lhes, comunicar-me depressa em casa, mas tudo foi tão rápido que não tive outro remédio senão ceder ao sono que me tomou inteiramente. Acordei numa escola-hospital, acreditando que o desastre me deixara com possibilidade de recuperação, mas quando os médicos daqui observaram que melhorava em minhas disposições íntimas, foi o estalo maior no coração.

Sabendo-me em outra espécie de vida, chorei como quando em criança, e comecei a ouvir as queixas e as preces de casa. […]. (p. 167, grifo nosso)

15º) Caso nº 28: João Carlos Frederico Coelho, em 01/09/1978.

[…] Lembro-me que estava em oração ao lado do nosso amigo senhor José (5), quando senti uma pancada na cabeça. Não pude me sustentar de pé, recordo que me carregaram para um hospital e guardo de memória um peso, de muita dor na cabeça. Mais nada, senão que dormi, graças a Deus, pensando nas orações. Acordei num lugar de muito repouso e dois amigos me disseram ser o vovô Manoel e o meu bisavô Frederico.

Eu estava na posição de um doente anestesiado, até que aos poucos fui reconhecendo a vida nova em que me achava. […].

[…] Não me alongo a escrever, porque minhas forças não dão mais. Sou um menino convalescendo, depois de um tratamento que, segundo penso, ainda demorará, mas os amigos aqui me disseram que mãezinha precisava de minhas notícias. […]. (p. 170, grifo nosso)

16º) Caso nº 29: Fátima Solange de Assis Campos, em ??/12/1978.

[…] Posso afirmar-lhe que não senti qualquer dor no choque que me pareceu imobilizar a memória. ([1]) Sem querer, entrei numa espécie de sono compulsivo, de que não pude escapar. Sonhava com a realidade, para depois reconhecer que a realidade não era sonho. Sentia-lhe o corpo ferido em meu corpo diferente e as dificuldades de meu pai Máximo a fim de se desvencilhar das dores que adquirira. Pensava em Marcelo e tudo se me afirmava dentro de uma nebulosa, cuja duração ignoro como precisar. Quando tomei posse de mim mesma, notei que alguém me despertava para o conhecimento da nova situação. Era vovó Brasilina a preparar-me. Para ser franca, os meus dias de hospital não foram menores que os seus e os meus constrangimentos para retomar o próprio equilíbrio, segundo admito, foram semelhantes aos incômodos que meus pais queridos se viram objeto. (p. 173-174, grifo nosso)

17º) Caso nº 30: Paulo Eduardo Teixeira da Silva, data não informada.

Creiam, os pais queridos, que não mais controlei qualquer ação de meu veículo físico e, conquanto, por alguns momentos rápidos, intentasse falar sem poder, um sono pesado me cerrou a vida intracraniana e ignoro se dormi ou se desapareci de mim próprio por tempo que ainda não sei precisar.

Despertando em organização de socorro, cheguei a pensar que me achasse no Hospital Santo André, em Santa Rosa, talvez conduzido pela família, mas foi o meu avô José Teixeira quem me chamou à realidade, que tive de aceitar a contragosto. Não só meu avô Teixeira, mas também minha avó-bisavó Ana [desencarnada há vários anos] e outros familiares me auxiliaram com carinho e segurança. Um médico [Dr. Constâncio Martins Sampaio, desencarnado há vários anos], que me disse ser amigo do Dr. Guido Maestrello [desencarnado], me tratou com bondade e, muito pouco a pouco, ando reconstituindo minhas próprias forças. (p. 179, grifo nosso)

18º) Caso nº 33: Roberto Muszkat, data não informada.

[...] Compreendi que era um adeus e dormi com a tranquilidade de uma criança. Mais tarde soube que meu avô Moysés Aron ditara em meu favor aqueles vocábulos santos para que me aquietasse, contando com os imperativos do Mais Alto. Quando acordei, me via num leito alvo com a vovó Rachel velando por mim. Dias se passaram sem que eu lhe saiba dar conta. Entendi sem relutância que eu já não mais me encontrava em nossa casa e sim numa ‘outra vida’, que se fazia surpresa e deslumbramento para os meus pensamentos de moço. Depois de algum tempo, o vovô Moysés veio ao meu encontro.

Reanimou-me. Restabeleceu-me o autocontrole e a autoconfiança. Quando me buscou para encontrar outros amigos no recinto dedicado à oração, no amplo educandário-hospital, chorei de emoção ao observar que formosa turma de pessoas amigas que eu não conhecia pronunciava as palavras: ‘Boi Beshalom’ [Venha em Paz]. Em seguida cantaram, esses novos companheiros, o hino ‘Shalom, Aleishem’ [A Paz esteja convosco]. Terminando o cântico, meu avô Moysés achegou-se a mim e assinalando-me com o ‘Maguem David’ [Estrela de Davi] falou abençoando-me:

– ‘Deus te faça igual a Efraim e a Menashés’. As lágrimas banharam meu rosto, enquanto o avô promovia o Seder, em cuja reunião pude fazer minhas perguntas. Vim a saber, então, que me achava em Erets Israel, ou Terra do Renascimento, cuja beleza é indescritível. Ali, naquela Província do Espaço Terrestre, se erguia uma outra cidade luminosa dos Profetas. Os que choraram no mundo, os que sofreram torturas, os que foram martirizados e queimados, perseguidos e abatidos por amor à Vitória do Eterno e Único Criador da Vida operavam repousando ou descansavam trabalhando pela edificação da humanidade Nova. Com esses apontamentos não quero dizer que estava tanto quanto, prossigo, numa cidade privilegiada, porque outras nações as possuem nas esferas que cercam o Planeta, mas aquele recanto era o meu coração pulsando com milhares ou milhões de outros corações consagrados ao Pai Único. (p. 192-193, grifo nosso)

19º) Caso nº 36: Gazia Rapé, data não informada.

Não sei descrever o que senti. Deve existir um governo de amor na vida, dedicado particularmente aos que sofrem a tribulação de que me vi objeto… Nos instantes últimos da vivência física, lembrei-me da oração e pedi a Deus que nos perdoasse pela ocorrência trágica em que nos envolvíamos. Graças a Deus não senti ódio, nem qualquer sensação de animosidade contra ele… Nunca vira, como naquela hora, a enfermidade que o minava…

Quis dizer que o compreendia e que me faria para ele a enfermeira que não soubera ser, mas era tarde demais para qualquer reequilíbrio. Reconhecia que a morte do corpo me cortava qualquer possibilidade de manifestação e apenas soube de mim própria quando despertei no espaço da vovó Gracia que me auxilia no refazimento preciso. Sei que o nosso caro Walter [esposo que depois de a matar, suicidou-se] está diante de organização hospitalar, onde ainda não tomou conhecimento de si mesmo, no entanto, é meu desejo preparar-me a fim de auxiliá-lo. A bondade de Deus, ainda quando venhamos a destruir nossas melhores oportunidades de reconciliação da vida, não nos nega na beneficência divina ensejos outros, em que o reajuste, embora mais difícil, se nos faça concedido de modo a continuarmos no aprendizado do amor que nos compete. É meu dever auxiliar o esposo e companheiro que nunca observarei na posição de culpado e sim de enfermo, que atualmente precisa de mim. É quase estranho notar que eu mesma, que mentalizava um desquite, seja agora a companheira a solicitar a reaproximação. Graças a Deus senti essa verdade em mim e compreendo que os pais queridos e queridos familiares, incluindo meu filhinho, quando crescido, me aprovarão. Como podem notar, estou melhor porque mais compreensiva e, sobretudo, mais humana, conforme os ensinos da religião cristã que é vida e lei em nossas consciências. […]. (p. 206-207, grifo nosso)

20º) Caso nº° 42: Allann Charless Padovani, em 08/02/1985.

Mas, muito antes de terminar, derivei num torpor absoluto, no qual perdi a consciência de mim próprio.

Quanto tempo gastei para voltar a mim mesmo ainda não sei… Sei que abri os olhos muito lentamente e notei que o lugar me parecia estranho, sem traço algum do nosso jeito doméstico. Chamei por mamãe Vilma e por papai Orlando, quando consegui recuperar a fala, entretanto somente uma senhora se acercou de mim e com palavras de encorajamento e de carinho. Com espanto, escutei os informes dela, solicitando-me que a chamasse por vovó Lina e me prometeu assistência e esclarecimento, declarando-me que o descanso ainda funcionava por remédio em meu auxílio na recuperação necessária, com os dias conquistei novas energias e pude voltar à nossa casa para ouvi-los a todos. A ideia de culpa me tomou de assalto ao ver as lágrimas de mamãe fixando minhas lembranças e senti em mim a dor silenciosa de papai que parecia envolver-me todo. Procurei as irmãs e os irmãos, um a um: índia e a irmãzinha, o Marco e o Fábio e em todos surpreendi a mesma nota de amargura com que me havia acontecido e por mim mesmo as ideias de culpa se avolumaram e a vovó Lina me conduziu de novo à moradia que nos agasalha na vida espiritual.

Desde esses dias de visitas e voltas entre alegria e perturbação, vivo esperando um meio de lhes pedir perdão a todos, o que faço agora explicando que eu não conservava o hábito de cheirar qualquer substância tóxica. Tanto assim que meu coração frágil não suportou aquela carga de estranho aroma a conturbar-me o corpo todo. (p. 231, grifo nosso)

Essa lista de 20 casos, que acabamos de apresentar, corresponde ao percentual de 44% do total dos constantes na obra, demonstrando serem bem significativos.

Na análise que os autores empreenderam com referência aos inúmeros detalhes de cada uma das mensagens resultou na confirmação da autenticidade delas. Bom, aí a inevitável questão é: se são autênticas no conjunto, por que nelas somente seriam falsas as citações feitas das construções no mundo espiritual?

Dos 20 casos que citamos, 17 deles fazem referência a hospital. É muito interessante isso, pois, supondo a crença comum do que acontece após a morte, seria de esperar que dissessem estarem “no céu” ou “no paraíso”, jamais numa instituição hospitalar. Disso podemos concluir que as construções no mundo espiritual não devem ser levadas à alucinação ou como reflexo de dogma de doutrinas religiosas às quais pertenciam.

 

[1]    Morreu de acidente automobilístico em 04/02/1978, embora sem qualquer lesão aparente.

   

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita