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por Bruno Abreu

 

A paz e a felicidade


Passamos a vida à procura da paz e da felicidade, que nos parecem inalcançáveis.

Por vezes sentimos um pouco de paz e outras, um pouco de felicidade. Conforme os anos passam, vai parecendo mais difícil.

Em criança, salvo algumas crianças em exceção, sentíamos paz e felicidade, bastando alguma brincadeira.

A nossa desculpa, como adultos, é o peso da vida, as obrigações e os problemas que nos aparecem.

A vida é difícil, o próprio Mestre Jesus diz-nos que a felicidade não é deste mundo e adverte-nos que na oração devemos pedir força e coragem, antevendo os problemas para cada um de nós.

Foi-nos dito que no sofrimento nasce o crescimento espiritual, embora no sofrimento seja difícil de percebermos seja o que for. A visão está muito obscurecida e capeada devido ao sofrimento por que passamos naquela altura.

O mesmo Mestre diz-nos que o reino de Deus está em nosso interior e não virá de forma externa. Temos de acreditar que o reino de Deus é constituído pela paz e pela felicidade, senão seria um Umbral e não um Reino de Deus.

Tudo isto é muito confuso para nós, estamos envoltos em sofrimento, mas temos o reino de Deus em nosso interior.

Com este mapa, a direção que temos de tomar é para dentro, pois para fora é onde se encontra o sofrimento.

É claro que não me refiro para dentro do corpo, pois duvido que encontremos paz ou felicidade nos órgãos do corpo.

Nós não somos o corpo, embora temporariamente nos expressemos através deste.

Aqui na Terra, se tirarmos o corpo, sobra-nos claramente a parte psíquica ou mental. É aqui que nascem as doenças psíquicas, os problemas, as angústias, o egoísmo, o orgulho, as opiniões, o caráter, as paixões etc. Mas aqui também se dá a paz e a felicidade.

Tem de ser aqui, neste campo mental, que também é chamado de corpo mental, por ser tão complexo, que se dá o caminho para o Reino de Deus, para o nosso interior.

Este campo mental movimenta-se através das emoções, sentimentos e pensamentos, que criam as paixões, os desejos e as opiniões sobre os outros, sobre a vida e sobre nós, que se transformam em nosso caráter. Ele é tão intenso que desencarnamos e mantemos a personagem que vivíamos na Terra, embora essa personagem seja o caráter, o pensamento, uma figura completamente instável.

Pergunte-se a si próprio se há cinco, 10 ou 15 anos era a pessoa que é hoje?

A personalidade vai-se alterando ao longo da vida, não conseguimos ver que ontem éramos uma pessoa diferente, pelas experiências e pensamentos que tivemos, modificamos ligeiramente, mas, se aumentarmos o tempo, como por exemplo, um ano ou cinco anos, percebemos que somos pessoas diferentes. Personagens diferentes a viver ao longo da vida encarnada. O que não muda é o nome. Esta diferença, para muitos, torna-se enorme depois de entrarem num Centro Espírita.

Nós temos ideia de que somos sempre a mesma pessoa que se vai alterando. Essa ideia está ancorada na ideia de que somos este corpo, mas a verdade é que, se assim fosse, acabaríamos com o corpo. Também não somos o personagem, se este se altera tanto ao longo da vida, seu final dá-se quando este acaba numa nova reencarnação, pois não nos lembramos dos personagens das reencarnações anteriores.

A nossa alteração é tão grande ao longo de uma vida, em especial, se for longa, que se repartirmos de 10 em 10 anos, somos seres muito diferentes.

Poderei dizer que já fui de muitas formas diferentes, já tive diversos caracteres, o que chamamos de Ego, mas eu não sou esse Ego, pois este “morre” de reencarnação para reencarnação e eu permaneço.

A pergunta “que serei eu?” é um questionamento fantástico; já alguma vez se fez essa mesma pergunta?

A teoria aparece rapidamente, sou um espírito reencarnado etc., etc., … e na prática?

Se não somos o corpo, se não somos o Ego, pois ambos estão condenados e continuaremos a existir, o que somos nós?

Dificilmente esta questão será respondida, mas é de uma utilidade enorme, pois causa o desapego.

A maioria das lutas que entramos, com os outros, com a vida, causando um enorme sofrimento, é por desejarmos que a vida, as coisas, sejam como idealizamos mentalmente. Esta idealização cria a comparação entre o que está a decorrer e o que queremos, que cria o conflito e o sofrimento. Por isso, a resignação e a indulgência são tão importantes para a paz e a felicidade.

Todo este conflito e sofrimento acontecem porque nos identificamos com as ideias, com o Ego, com um ser terreno criado mentalmente, pelo qual damos a vida e subjugamos o espírito.

Dificilmente saberemos o que somos enquanto estamos encarnados, pois a ilusão é muito forte e faz-nos lutar com tudo e com todos, mas o desenvolvimento da ideia de que não somos este ego que se modifica diariamente, leva-nos a não sermos tão apegados a uma forma de ser que nos direciona ao conflito e ao sofrimento.

Transcendermos o Ego é percebermos que somos algo que já foi sujeito a muitos Egos em inúmeras reencarnações e que esta figura ilusória e temporária não merece o nosso sofrimento na Terra. Este desapego, a esta figura, é a paz e a felicidade.

Experimente estar em silêncio mental, apenas sentindo o ambiente, sem qualquer escolha ou opinião e veja a paz que nasce disso.

O mais fácil é no meio da natureza. Observando-a, sentimo-nos próximos a Deus e exercemos o nosso direito ao silêncio mental e a paz e a felicidade natural do ser nascem.

Todos sentimos isto de vez em quando, é a indicação do caminho, que de vez em quando surge. Infelizmente, acreditamos mais no funcionamento do Ego e apegamo-nos a este ser terreno temporário e a todos os seus conflitos, que são formações mentais.

Como o Mestre ensinou. não podemos agradar a Deus e a Mamon.

 

Bruno Abreu reside em Lisboa, Portugal.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita