Princípios, segundo definição em filosofia “são os conceitos ou
ideias fundamentais que servem de base a uma ordem de
conhecimentos ou sobre a qual se apoia um raciocínio.” [1]
Uma das tarefas de Allan Kardec, à frente das ações de
inauguração do Espiritismo, foi elencar os seus princípios
fundamentais, conforme assinalado por ele mesmo em artigo
publicado no jornal francês La Gironde, em 1861:
“Coordenei os princípios e formei um corpo de doutrina, não como
uma compilação, mas com base num estudo cuidadoso e prático ao
longo de oito anos de um trabalho árduo.” [2]
A súbita desencarnação de Allan Kardec impediu-o de preencher o
corpo do texto intitulado – Princípios fundamentais da doutrina
espírita reconhecidos como verdades incontestáveis. [3]
Asseverou Kardec que retardaríamos a divulgação da doutrina se
nos demorássemos demasiado em definir com detalhes suas partes
constituintes:
“Um dos maiores obstáculos que podem entravar a propagação da
Doutrina seria a falta de unidade; o único meio de evitá-lo,
senão quanto ao presente, pelo menos quanto ao futuro, é de
formulá-la em todas as suas partes e até nos mais minuciosos
detalhes, com tanta precisão e clareza, que qualquer
interpretação divergente fosse impossível.” [4]
Examinando os anais de congressos internacionais, os livros e
artigos espíritas, bem como sites de centros espíritas e
federativas, encontramos ao menos quatro dezenas de diferentes
tentativas de estabelecer uma lista dos princípios espíritas,
resultantes de um esforço bastante disseminado de busca por uma
composição dos fundamentos doutrinários.
A realização de um levantamento nas obras da codificação
permitiu-nos alinhar a identificação dos fundamentos
doutrinários a partir das citações kardequianas referentes a
‘princípios’, ‘princípios fundamentais’, ‘bases fundamentais’
etc. que apresentamos a seguir. Estudos mais aprofundados
ratificarão ou corrigirão esta proposta.
Ei-los:
I) Princípio da existência de Deus.
II) Princípio da existência da alma.
“Certamente esta prova não é necessária para firmar a convicção
dos espíritas, nem dos espiritualistas; mas, depois de Deus,
sendo a existência da alma a base fundamental do Espiritismo,
devemos considerar como eminentemente útil à Doutrina toda obra
que tenda a lhe demonstrar os princípios fundamentais.” [5]
III) Princípio da existência dos Espíritos.
IV) Princípio da intervenção dos Espíritos.
V) Princípio do perispírito.
VI) Princípio da reencarnação.
“O Espiritismo (...) não apresentou como hipóteses a existência
e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a
reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina; concluiu
pela existência dos Espíritos, quando essa existência ressaltou
evidente da observação dos fatos, procedendo de igual maneira
quanto aos outros princípios.” [6]
VII) Princípio das ordens de Espíritos ou escala espírita.
“De todos os princípios fundamentais da doutrina espírita, um
dos mais importantes é, incontrastavelmente, aquele que
estabelece as diferentes ordens de Espíritos. (...) Traçaram
eles os caracteres distintivos desses diversos graus que
constituem o que denominamos a escala espírita.” [7]
VIII) Princípio da pluralidade dos mundos habitados.
“Os princípios que se acreditam com mais facilidade são os da
pluralidade dos mundos habitados e o da pluralidade das
existências, ou reencarnação.” [8]
IX) Princípio da comunicação dos Espíritos.
“Nos Estados Unidos o dogma da reencarnação teria vindo
chocar-se contra os preconceitos de cor, tão profundamente
arraigados naquele país; o essencial era fazer aceitar o
princípio fundamental da comunicação do mundo visível com o
mundo invisível(...).” [9]
X) Princípio da individualidade da alma.
XI) Princípio da sobrevivência da alma.
XII) Princípio da imortalidade da alma.
“Provavelmente de ter sabido o que era o Espiritismo, porque
dele possuía as bases fundamentais: a crença em Deus, na
individualidade da alma, sua sobrevivência e sua imortalidade
(...).” [10]
XIII) Princípio das penas e recompensas futuras.
“Com efeito, o Espiritismo tem por base essencial, e sem a qual
não teria nenhuma razão de ser, a existência de Deus, da alma,
sua imortalidade, as penas e as recompensas futuras.” [11]
XIV) Princípio da expiação.
XV) Princípio do castigo.
“(...) Todos os princípios da sublime doutrina do Espiritismo aí
se acham confirmados: a individualidade da alma, a intervenção
dos Espíritos no mundo corporal, a expiação, o castigo e a
reencarnação são demonstrados de maneira surpreendente nos fatos
com que vos vou entreter.” [12]
XVI) Princípio da reparação.
“A necessidade da reparação é um princípio de rigorosa justiça,
que se pode considerar verdadeira lei de reabilitação moral dos
Espíritos.“ [13]
XVII) Princípio do progresso contínuo e infinito.
“Pluralidade dos mundos habitados, pluralidade das existências,
perispírito, progresso contínuo e infinito da alma, tudo está
aí.” [14]
XVIII) Princípio da influência dos assistentes.
“Não é lícito negar-se a influência que os assistentes exercem
sobre a natureza das manifestações e isso constitui um princípio
da Doutrina.” [15]
XIX) Princípio da homogeneidade das sessões.
“De onde concluímos que a homogeneidade é o princípio vital de
toda sociedade ou reunião espírita.” [16]
XX) Princípio da moral dos Espíritos Superiores ou moral do
Cristo.
“Não há, pois, considerar esta coletânea como um formulário
absoluto e único, mas apenas uma variedade no conjunto das
instruções que os Espíritos ministram. É uma aplicação dos
princípios da moral evangélica desenvolvidos neste livro, um
complemento aos ditados deles, relativos aos deveres para com
Deus e o próximo, complemento em que são lembrados todos os
princípios da Doutrina.” [17]
XXI) Princípio do livre-arbítrio.
“O essencial está em que o ensino dos Espíritos é eminentemente
cristão; apoia-se na imortalidade da alma, nas penas e
recompensas futuras, na Justiça de Deus, no livre-arbítrio do
homem, na moral do Cristo.” [18]
XXII) Princípio da não retrogradação.
“Tendo sido levantadas várias vezes questões sobre o princípio
da não retrogradação dos Espíritos, princípio diversamente
interpretado, vamos tentar resolvê-las. (...) Os Espíritos não
retrogradam, no sentido de que nada perdem do progresso
realizado.” [19]
XXIII) Princípio da morte espiritual.
“A questão da morte espiritual é um dos novos princípios que
assinalam os progressos da ciência espírita.” [20]
XXIV) Princípio da fraternidade.
“Deus patenteia por esse modo a solidariedade existente entre
todos os seres do Universo, ao mesmo tempo em que dá a lei da
natureza por base ao princípio da fraternidade.” [21]
Fontes:
[1] GREGÓRIO, Sérgio Biagi. Dicionário
de Filosofia - Dicionário,
acessado em 15/04/2024.
[2] La Gironde, 20 de junho de 1861, Variétés: 'Observations
de M. Allan Kardec sur l'article de M. Octave Girande,
concernant le spiritisme', p. 2
[3] Kardec, Allan. Obras Póstumas de Allan Kardec (Paris,
1890), Maria Lucia Alcântara de Carvalho, Credo espírita. 1ª
edição, Rio de Janeiro: CELD, 2002
[4] Kardec, Allan. Obras Póstumas de Allan Kardec (Paris,
1890), tradução de Maria Lucia Alcântara de Carvalho, Projeto
1868. 1ª edição, Rio de Janeiro: CELD, 2002
[5] KARDEC, A. Revista Espírita, julho de 1868, O
Espiritismo em toda parte. Tradução de Evandro Noleto Bezerra.
Brasília: FEB. 313p
[6] KARDEC, A. A Gênese. cap I, item 14. 36. ed. Tradução
de Guillon Ribeiro. Brasília: FEB, 1995. 20p
[7] KARDEC. A. Instruções Práticas sobre as Manifestações
Espíritas, cap I. São Paulo: Pensamento. 39p
[8] KARDEC, A. Revista Espírita, janeiro de 1868, Golpe
de vista retrospectivo. Tradução de Evandro Noleto. Brasília:
FEB. 19p
[9] KARDEC. A. Revista Espírita, maio de 1864. Tradução
de Evandro Noleto Bezerra. FEB
[10] KARDEC. A. Revista Espírita, dezembro de 1866.
Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB
[11] KARDEC. A. Revista Espírita, março de 1861. Tradução
de Evandro Noleto Bezerra. FEB
[12] KARDEC. A. Revista Espírita, janeiro de 1865.
Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB
[13] KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno, tradução de
Guillon Ribeiro da 4ª. edição, cap. VII, Código penal da vida
futura, item 17, Brasília: Editora FEB
[14] KARDEC. A. Revista Espírita, novembro de 1863.
Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB
[15] KARDEC. A. O Livro dos Espíritos, Introdução, item
XVI. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB
[16] KARDEC. A. Revista Espírita, junho de 1862. Tradução
de Evandro Noleto Bezerra. FEB
[17] KARDEC, A. Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 28,
item 1. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB
[18] KARDEC, A. O Livro dos Espíritos, questão 222.
Tradução de Guillon Ribeiro. FEB
[19] KARDEC. A. Revista Espírita, junho de 1863. Tradução
de Evandro Noleto Bezerra. FEB
[20] KARDEC, Allan. Obras Póstumas de Allan Kardec
(Paris, 1890), tradução de Guillon Ribeiro, A morte espiritual.
41ª edição, Brasília: Editora FEB
[21] KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno, tradução de
Guillon Ribeiro da 4ª. edição, cap. I, item 11, Brasília:
Editora FEB.