Correio mediúnico

Espírito: Vianna de Carvalho

Rei dos reis


Antes dele muitos reis haviam passado. Ramsés II, ostentando a coroa do Egito, subjugou a Fenícia e a Síria, e dominou os vales do Tigre e do Eufrates, percorrendo, vitorioso, a Bactriana e a Média, e regressou à sua pátria, acompanhado de largas multidões de cativos, em suor e lágrimas, para descer, no fim de seus dias, aos tormentos da cegueira e às trevas do suicídio.

Nabucodonosor, guardando o cetro dos assírios, tomou Jerusalém, bateu o Egito e, manobrando a intriga e o perjúrio, a rapina e a crueldade, consolidou a grandeza da Babilônia para arrojar-se, misérrimo, ao poço da loucura e ao nevoeiro da morte, depois de longo reinado a desbordar-se em vaidade e magnificência.

Ciro, exibindo a coroa dos persas, arrasou a Lídia e a Mesopotâmia, tripudiando sobre os cadáveres ainda quentes dos adversários e dos vencidos. Mas quando pretendia submeter os citas eis que a rainha Tomires mandou cortar-lhe a cabeça e mergulhando-a numa grande bacia transbordante de sangue humano exclamou, com infinito sarcasmo: “Mata a sede neste sangue de que te mostravas tão ávido!”

Alexandre, o Grande, conservando a coroa dos macedônios, assalariou milhares e milhares de combatentes, governou os gregos e massacrou os persas, conquistou vários povos e alterou a feição política do mundo, mas a febre em Babilônia consumiu-lhe o corpo ainda jovem, quando intentava desdobrar novos planos de guerra e devastação.

Júlio César, mostrando os emblemas do poderio de Roma, passeou, através das Gálias, o seu carro de triunfo sanguinolento, surdo ao clamor das viúvas e dos órfãos que lhe suplicavam comiseração e bondade, para tombar, no fastígio de sua autoridade, sob o golpe certeiro do punhal de Bruto.

Todos passaram dilacerando e usurpando, frustrando e destruindo…

Ele, porém, veio ter com os homens através de estrebaria singela. Não teve exércitos que não fossem as legiões de almas simples que o receberam confiantes na palavra divina. Não manejou outra espada que não fosse a do próprio coração inflamado de amor. Não viveu outra aristocracia que não fosse aquela do serviço infatigável aos semelhantes. Não empunhou outro cetro que não aquele da cana de escárnio que lhe puseram nas mãos na hora da angústia. Não guardou outra tiara de realeza que não fosse a coroa de espinhos. E não teve outro sólio de governança que não aquele do lenho da ignomínia, em que testemunhou o sacrifício supremo. Mas desde que o Rei dos reis veio ao encontro dos corações humanos, através da manjedoura da humildade, retirando-se do mundo através dos braços da cruz da flagelação, o seu império cresce com os dias e o seu nome é a glória das nações.

E é por isso que, ainda hoje, todos nós, os cristãos do século XX, encarnados e desencarnados, ajoelhamo-nos em espírito diante do esplendor da estrela de Belém, para reverenciá-lo, jubilosos e comovidos: “Ave, Cristo! Os que aspiram viver contigo para sempre te glorificam e te saúdam!”


Do livro Registros imortais, comunicação recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita