Internacional
por Jorge Gomes

Ano 18 - N° 888 - 8 de Setembro de 2024

 FUNCHAL
 

Centro espírita português no foco de tese académica


"A comunicação com os espíritos é entendida, para os entrevistados, como a garantia da existência da continuação da vida. E, como o ser humano é um ser comunicante, essa comunicação é também entendida como um meio de aprendizagem, evolução espiritual e auxílio mútuo em ambos os lados da vida/morte."

Estas palavras constam da tese de mestrado de Relações Interculturais trabalhada por Mariana Caldeira, fruto de uma pesquisa que teve por objetivo, nas suas palavras, "conhecer e estudar, do ponto de vista das Ciências Sociais, o impacto da crença na vida depois da morte na vida quotidiana, a partir dos frequentadores de um centro espírita no Funchal".

A cidade do Funchal fica na ilha da Madeira e conta uma população de cerca de 105.700 habitantes. É a capital da Região Autónoma da Madeira, integrada na República Portuguesa.

Segundo o estudo realizado, “o Centro Espírita é um espaço dedicado ao desenvolvimento espiritual, à fraternidade e à compreensão de fenómenos considerados paranormais. Nele, os adeptos encontram um refúgio para explorar as relações entre o mundo material e os espíritos, seguindo os preceitos estabelecidos por Kardec”.

O presente trabalho – "Impactos da crença na vida depois da morte na vida quotidiana: estudo de caso no Centro Cultural Espírita do Funchal" – foi apresentado pela autora na sede do próprio Centro Cultural Espírita do Funchal em 1º de agosto de 2024, pelas 20h, com a presença da orientadora, a professora doutora Olga Magano, lente na Universidade Aberta. Nesse dia, conforme disse Carlos Soares, uma das pessoas presentes no evento, a orientadora referiu que este estudo “representou para a Mariana um desafio de crescimento intelectual e académico, num tema muito pouco estudado, do ponto de vista das Ciências Sociais”, o que leva justamente a quebrar barreiras e diluir estigmas sobre esta temática.

Tendo realizado muitas entrevistas na interação que teve com os frequentadores desta associação espírita – como todas, sem fins lucrativos – refere a dado momento que "as experiências mediúnicas que os participantes têm e com que não sabem lidar são o fator principal que leva as pessoas a procurarem um centro espírita".

A partir dos relatos partilhados pelos entrevistados, informa
Mariana Caldeira (foto), “ficamos a conhecer que existem várias experiências relacionadas com a mediunidade.

Para alguns, a prática mediúnica trouxe mudanças positivas, como maior disciplina e sensibilidade permitindo uma melhor comunicação com o mundo espiritual”. Porém, “outros enfrentaram desafios, especialmente quando a mediunidade não estava equilibrada, não era conhecida nem compreendida adequadamente. No entanto, a maioria dos participantes não vê a mediunidade como uma condição restritiva”, conclui.

Uma das pessoas entrevistadas na tese, inquirida sobre a sua relação com a faculdade mediúnica que possui, indica que “neste momento não”, mas anteriormente “prejudicou”. Quer dizer, “não a mediunidade em si. Simplesmente o desdobrar da mesma fez-me experienciar coisas menos positivas. Depois, ao vir cá ao centro, felizmente aprendi a lidar melhor com ela e agora estou muito bem”.

Embora o Espiritismo seja muito mais do que mediunidade, como se percebe ao longo do texto do estudo, curiosamente este inicia com um poema de Fernando Pessoa que deseja definir “o que é ser médium”: “Não sei quantas almas tenho”.

De qualquer das maneiras, certo é que o assunto em foco assume um significado especial para Mariana Caldeira, uma vez que partilha a crença na vida após a morte. A parte inicial da dissertação aborda um enquadramento teórico sobre o caminho que vai da crença na vida após a morte à prática do Espiritismo, seguindo-se uma explanação sobre as crenças na vida além-túmulo e o foco nos centros espíritas como pilares da doutrina e práticas espirituais. Feito isto, a autora passa à análise da metodologia aplicada e à apresentação e discussão dos resultados. Muito interessante!

Caso queira ler na íntegra a tese, clique neste link: Repositório aberto


Jorge Gomes, escritor, ex-vice-presidente da Federação Espírita Portuguesa e ex-editor do Jornal de Espiritismo publicado pela ADEP - Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal, da qual é membro, reside na cidade do Porto, Portugal.
 

 
  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita