FUNCHAL
Centro espírita português no foco de
tese académica
"A comunicação com os espíritos é entendida, para os
entrevistados, como a garantia da existência da
continuação da vida. E, como o ser humano é um ser
comunicante, essa comunicação é também entendida como um
meio de aprendizagem, evolução espiritual e auxílio
mútuo em ambos os lados da vida/morte."
Estas palavras constam da tese de mestrado de Relações
Interculturais trabalhada por Mariana Caldeira, fruto de
uma pesquisa que teve por objetivo, nas suas palavras,
"conhecer e estudar, do ponto de vista das Ciências
Sociais, o impacto da crença na vida depois da morte na
vida quotidiana, a partir dos frequentadores de um
centro espírita no Funchal".
A cidade do Funchal fica na ilha da Madeira e conta uma
população de cerca de 105.700 habitantes. É a capital da
Região Autónoma da Madeira, integrada na República
Portuguesa.
Segundo o estudo realizado, “o Centro Espírita é um
espaço dedicado ao desenvolvimento espiritual, à
fraternidade e à compreensão de fenómenos considerados
paranormais. Nele, os adeptos encontram um refúgio para
explorar as relações entre o mundo material e os
espíritos, seguindo os preceitos estabelecidos por
Kardec”.
O presente trabalho – "Impactos da crença na vida depois
da morte na vida quotidiana: estudo de caso no Centro
Cultural Espírita do Funchal" – foi apresentado pela
autora na sede do próprio Centro Cultural Espírita do
Funchal em 1º
de agosto
de 2024, pelas 20h, com a presença da orientadora, a
professora doutora Olga Magano, lente na Universidade
Aberta. Nesse dia, conforme disse Carlos Soares, uma das
pessoas presentes no evento, a orientadora referiu que
este estudo “representou para a Mariana um desafio de
crescimento intelectual e académico, num tema muito
pouco estudado, do ponto de vista das Ciências Sociais”,
o que leva justamente a quebrar barreiras e diluir
estigmas sobre esta temática.
Tendo realizado muitas entrevistas na interação que teve
com os frequentadores desta associação espírita – como
todas, sem fins lucrativos – refere a dado momento que
"as experiências mediúnicas que os participantes têm e
com que não sabem lidar são o fator principal que leva
as pessoas a procurarem um centro espírita".
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A partir dos relatos partilhados pelos
entrevistados, informa |
Mariana Caldeira
(foto),
“ficamos a conhecer que existem várias
experiências relacionadas com a mediunidade. |
Para alguns, a prática mediúnica trouxe mudanças
positivas, como maior disciplina e sensibilidade
permitindo uma melhor comunicação com o mundo
espiritual”. Porém, “outros enfrentaram desafios,
especialmente quando a mediunidade não estava
equilibrada, não era conhecida nem compreendida
adequadamente. No entanto, a maioria dos participantes
não vê a mediunidade como uma condição restritiva”,
conclui.
Uma das pessoas entrevistadas na tese, inquirida sobre a
sua relação com a faculdade mediúnica que possui, indica
que “neste momento não”, mas anteriormente “prejudicou”.
Quer dizer, “não a mediunidade em si. Simplesmente o
desdobrar da mesma fez-me experienciar coisas menos
positivas. Depois, ao vir cá ao centro, felizmente
aprendi a lidar melhor com ela e agora estou muito bem”.
Embora o Espiritismo seja muito mais do que mediunidade,
como se percebe ao longo do texto do estudo,
curiosamente este inicia com um poema de Fernando Pessoa
que deseja definir “o que é ser médium”: “Não sei
quantas almas tenho”.
De qualquer das maneiras, certo é que o assunto em foco
assume um significado especial para Mariana Caldeira,
uma vez que partilha a crença na vida após a morte. A
parte inicial da dissertação aborda um enquadramento
teórico sobre o caminho que vai da crença na vida após a
morte à prática do Espiritismo, seguindo-se uma
explanação sobre as crenças na vida além-túmulo e o foco
nos centros espíritas como pilares da doutrina e
práticas espirituais. Feito isto, a autora passa à
análise da metodologia aplicada e à apresentação e
discussão dos resultados. Muito interessante!
Caso queira ler na íntegra a tese, clique neste link: Repositório
aberto
Jorge Gomes, escritor, ex-vice-presidente
da Federação Espírita Portuguesa e ex-editor do Jornal
de Espiritismo publicado pela ADEP - Associação de
Divulgadores de Espiritismo de Portugal, da qual é
membro, reside na cidade do Porto, Portugal.