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por Eder Andrade

 

Revelação muito aguardada


A crença na vida após a morte é muito antiga, porém nem todos entendiam como isso seria possível, devido à forte interferência cultural da religião. Acreditavam, desde o início dos tempos, no que os sacerdotes das tribos diziam ou nas antigas histórias dos seus antepassados. A religião tinha uma forte influência no culto da vida espiritual e nos ritos de passagem entre as gerações.

Existiam muitos médiuns de berço que acabavam tornando-se importantes xamãs, pitonisas e sacerdotes. Eram responsáveis pelo culto aos mortos, assim como os rituais de sepultamento e preparação para a vida além-túmulo.

Apesar de possuírem algum conhecimento com relação à vida após a morte, não compreendiam o fenômeno da reencarnação. Com o passar do tempo, alguns povos passam a entender que era possível os mortos retornarem ao mundo dos vivos. Observamos isso na Antiga Grécia nas palavras de Platão, quando em um dos seus diálogos nos deixou:

“É certo que os vivos nascem dos mortos e os mortos tornam a nascer”.

“A alma, após se ‘desligar’ do corpo, não morre como aquele, mas vive e volta a viver em outro corpo. Da mesma forma que do feio vem o belo, da justiça a injustiça e assim com tudo o mais, da morte vem a vida e da vida a morte. Um eterno ciclo, no qual um dá origem ao seu oposto”. 1

Pelas reflexões de Platão, a ideia de vida após a morte era uma realidade, porém não entendiam o mecanismo do que hoje conhecemos como reencarnação. Por falta de um termo mais apropriado, utilizaram a expressão já conhecida como metempsicose. Eles não acreditavam como os egípcios, que um homem poderia retornar como uma planta, embora utilizassem esse termo até que tempos depois surgiu a expressão transmigração da alma.

A vinda do Cristo representou na visão espírita a segunda revelação da espiritualidade no que diz respeito à vida após a morte e a reencarnação. O conhecimento era muito avançado para algumas mentes da época, para isso o Cristo prometeu a vinda de um Consolador que explicaria melhor aquilo que as pessoas não conseguem compreender. 2

Apesar do Cristo conversar com homens eruditos da época, era necessária uma visão mais holística da Boa Nova. O Cristo deixou ensinamentos para libertar os homens das aflições e padecimentos físicos e morais prometendo uma nova oportunidade, quando dizia que era necessário nascer de novo ou reencarnar! Em outras palavras, acenava para uma vida futura, onde teríamos novas oportunidades.

A ideia cristã na unicidade da existência e no juízo final, foi defendida e propagada pela Igreja, tanto quanto alguns povos do oriente que se restringem a esclarecer a população apenas das verdades que atendessem seus interesses. Temos como bom exemplo o Modo de Produção Asiático, onde o governante era visto como um deus. Podemos ter ideia desse controle das crenças, quando tornava possível a construção de grandes obras públicas, como palácios, mausoléus, templos e pirâmides.

Todo esse conhecimento era apenas de acesso a uma minoria, reduzida apenas a alguns membros da nobreza e ao alto clero.

O marco para o advento da terceira revelação ocorreu no século XVIII com o surgimento do Iluminismo e do Enciclopedismo. Esse movimento cultural de grande abrangência, modificou a mentalidade da sociedade ocidental, abrindo precedentes para a aceitação de novas ideias e novos conceitos filosóficos, culturais como a imortalidade da alma e a reencarnação.

Allan Kardec, ao organizar O Evangelho Segundo o Espiritismo, procurou nos oferecer reflexões para melhor compreender a ideia de reencarnação:

“A reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus sob o nome de ressurreição; só os saduceus, que pensavam que com a morte tudo se acabava, não acreditavam nela. As ideias dos judeus sobre esse ponto, assim como sobre muitos outros, não estavam claramente definidas porque eles só possuíam noções vagas e incompletas sobre a alma e sua ligação com o corpo”. 3

O trabalho de Allan Kardec consistiu em fundamentar a crença da reencarnação, revelando para todos que desejarem conhecer os aspectos organizados por ele que definem as normas e diretrizes da Doutrina Espírita.

Entre muitos colaboradores e pesquisadores que vão legitimar as ideias kardecistas, podemos destacar Arthur Ignatius Conan Doyle, escritor e médico escocês, que se interessou pelo Espiritismo em 1887, quando perdeu alguns familiares e passou a se dedicar e escrever sobre o assunto. Em 1926 publicou o livro A História do Espiritismo, onde elabora uma interessante reflexão sobre manifestações espontâneas para despertar a atenção dos encarnados sobre a existência do mundo espiritual.

Podemos destacar na introdução, quando Conan Doyle utilizando sua visão de escritor e romancista da época, diz que o mundo espiritual planejou uma invasão organizada ao mundo material. Enviou diferentes missionários e mensageiros para sinalizar que algo de ordem espiritual estava prestes a acontecer.

Conan Doyle explica dentro de uma visão histórica que personagens em diferentes épocas vinham sinalizando o advento de uma revelação para a Humanidade. Sendo que Kardec teria o papel fundamental de concluir esse processo, explicando melhor, e com exemplos, a diferença entre reencarnação e ressurreição, assim como a imortalidade da alma. 4

Quase dois mil anos se passaram entre a Boa Nova e o advento do Espiritismo, que conseguiu concluir explicando, de forma mais detalhada, aquilo que o Cristo não teve oportunidade de exemplificar aos seguidores na época. A revelação, tão aguardada, foi concluída pelo Espírito da Verdade.

 

Bibliografia:

1) Platão; Fédon; 3 – A Imortalidade da Alma: as provas no Fédon (Cap. 2º ao 7º)

2) Kardec, Allan; A Gênese; Cap 1 – itens 10, 11 e 12 - Caráter da revelação espírita; Ed. FEB.

3) Kardec, Allan; O Evangelho Segundo o Espiritismo; Cap. IV – it. 4: Ressureição e Reencarnação; Ed. FEB.

4) Conan Doyle, Arthur Ignatius; A História do Espiritismo; it. 6 - A invasão organizada; Ed. Pensamento.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita