Especial

por Juan Carlos Orozco

Anjo tem sexo?

 

De vez em quando, escutamos dizer: anjo não tem sexo!

Então, perguntamos: anjo tem sexo? Como a Doutrina Espírita explica?

Para responder a esse questionamento, realizamos pesquisas na literatura básica espírita e na complementar, considerando a dinâmica das revelações do mundo espiritual, que são contínuas, acumulativas e progressivas.

Na Introdução, em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, temos: “Há no homem três coisas: 1º, o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2º, a alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo; 3º, o laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito. Tem assim o homem duas naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos instintos lhe são comuns; pela alma, participa da natureza dos Espíritos. O laço ou perispírito, que prende ao corpo o Espírito, é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro. O Espírito conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, porém que pode tornar-se acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede no fenômeno das aparições.”

No mesmo livro, na questão 76, somos informados que os Espíritos são seres inteligentes da criação e povoam o Universo, fora do mundo material. Kardec comenta que a palavra Espírito é empregada para designar as individualidades dos seres extracorpóreos e não mais o elemento inteligente do Universo.

Na questão 80, sabemos que Deus jamais deixou de criar os Espíritos e as suas criações são permanentes. Em seguida, na questão 81, somos esclarecidos que Deus cria os Espíritos como a todas as outras criaturas, pela sua vontade. Na questão 83, os instrutores espirituais ensinam que os Espíritos são imortais, ou seja, eles não têm fim.

O Mestre Jesus disse: “O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito” (João 3: 6).

A esse respeito, Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo IV, comenta: “... Jesus estabelece aí uma distinção positiva entre o Espírito e o corpo. O que é nascido da carne é carne indica claramente que só o corpo procede do corpo e que o Espírito independe deste.”

Por esses esclarecimentos, pode-se verificar que o corpo procede do corpo e o Espírito tem origem divina, sendo imortal, sem fim, por conseguinte não há reprodução entre Espíritos para o surgimento do ser espiritual. A reprodução biológica, que perpetua a espécie humana na Terra, é inerente da carne, que recebe o Espírito na encarnação. Além disso, cada Espírito imortal tem a sua individualidade, mantendo-a em todas as suas existências.

O perispírito, corpo espiritual ou corpo fluídico, elemento semimaterial que serve de primeiro envoltório ao Espírito, liga a alma ao corpo. Ele é vaporoso e sutil, que tem a forma humana, sendo invisível no seu estado normal. O Espírito está sempre revestido do perispírito, cuja natureza se eteriza à medida que ele se depura e se eleva na hierarquia espiritual.

O Espírito encarnado no corpo constitui a alma. Quando o deixa, por ocasião da morte, sai dele com o perispírito, conservando a forma humana e, nas aparições espirituais, traz a forma que lhe conhecíamos.

Espírito com mais conhecimento pode alterar a forma perispiritual, assumindo a de existências anteriores, outras diferentes ou até mesmo formas não humanas, por ação hipnótica, ou seja, dependendo da sua evolução, a forma perispiritual pode ter a forma que o Espírito queira: da última existência, de existências passadas ou outra diferente, seja a forma perispiritual de homem ou mulher.

Essa assertiva é confirmada pela questão 201, quando Kardec pergunta: “Em nova existência, pode o Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher e vice-versa?” A resposta é: “Decerto; são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres.”

Por conseguinte, um Espírito imortal, em pluralidade de existências, poderá assumir o corpo de homem ou mulher, quer seja durante sua encarnação como no mundo espiritual, e vice-versa.

Pela questão 132, os Espíritos Superiores esclarecem que Deus impõe a encarnação ao Espírito com o fim de fazê-lo chegar à perfeição. Para alcançar essa perfeição, tem que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal. Visa, ainda, outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.

Assim, o Espírito precisa sofrer todas as vicissitudes da existência corporal para evoluir na busca da perfeição, quer seja como homem ou mulher, e vice-versa.

Em O Livro dos Espíritos, na Introdução, somos informados que os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais em poder, inteligência, saber e moralidade.

Os da primeira ordem são os Espíritos superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeição, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor do bem: são os anjos ou puros Espíritos.

Os Espíritos dessa ordem percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria, tendo alcançado a soma de perfeição de que é suscetível a criatura, não têm mais que sofrer provas, nem expiações. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus.

Gozam de inalterável felicidade, porque não se acham submetidos às necessidades, nem às vicissitudes da vida material. Eles são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para manutenção da harmonia universal. Comandam a todos os Espíritos que lhes são inferiores, auxiliam-nos na obra de seu aperfeiçoamento e lhes designam as suas missões. Assistir os homens nas suas aflições, concitá-los ao bem ou à expiação das faltas que os conservam distanciados da suprema felicidade, constitui para eles ocupação gratíssima. Eles são designados às vezes pelos nomes de anjos, arcanjos ou serafins.

Na questão 128, Kardec pergunta se os anjos, arcanjos e serafins formam uma categoria especial, de natureza diferente da dos outros Espíritos. A resposta é: “Não; são os Espíritos puros: os que se acham no mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições”.

Na questão 129, Kardec pergunta: “Os anjos hão percorrido todos os graus da escala?” A resposta é: “Percorreram todos os graus, mas do modo que havemos dito: uns, aceitando sem murmurar suas missões, chegaram depressa; outros, gastaram mais ou menos tempo para chegar à perfeição”.

Kardec complementa essa resposta: “A palavra anjo desperta geralmente a ideia de perfeição moral. Entretanto, ela se aplica muitas vezes à designação de todos os seres, bons e maus, que estão fora da Humanidade. Diz-se: o anjo bom e o anjo mau; o anjo de luz e o anjo das trevas. Neste caso, o termo é sinônimo de Espírito ou de gênio. Tomamo-lo aqui na sua melhor acepção.”

Então, pode-se verificar que os anjos são Espíritos puros, da primeira ordem, que percorreram todas as ordens até chegar à perfeição, não havendo mais a necessidade de reencarnar.

Kardec trata do tema “Sexo nos Espíritos”, das questões de 200 a 202, a saber:

“200. Têm sexos os Espíritos?

Não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos.

202. Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem, ou no de uma mulher?

Isso pouco lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja de passarOs Espíritos encarnam como homens ou mulheres, porque não têm sexo. Visto que lhes cumpre progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, lhes proporciona provações e deveres especiais e, com isso, ensejo de ganharem experiência. Aquele que só como homem encarnasse só saberia o que sabem os homens”.

Logo, os Espíritos, na profundidade do termo, não têm sexo como entendemos da organização física. O sexo se apresenta no perispírito diferenciando e, ao mesmo tempo, ajustando a matriz da carne como homem ou mulher. No entanto, mesmo no perispírito, ele pode desaparecer pela sublimação do Espírito.

No entanto, os Espíritos precisam progredir em tudo, em cada sexo, para ganharem a experiência necessária que proporciona as provações e os deveres especiais.

O Espírito Emmanuel, no livro Vida e sexo, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, no Capítulo 1 - Em torno do sexo, ensina:

“Atendendo à soma das qualidades adquiridas, na fieira das próprias reencarnações, o Espírito se revela, no plano físico, pelas tendências que registra nos recessos do ser, tipificando-se na condição de homem ou de mulher, conforme as tarefas que lhe cabe realizar.”

Emmanuel, no Capítulo 21 – Homossexualidade, esclarece:

“A vida espiritual pura e simples se rege por afinidades eletivas essenciais; no entanto, através de milênios e milênios, o Espírito passa por fileira imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas.

O homem e a mulher serão, desse modo, de maneira respectiva, acentuadamente masculino ou acentuadamente feminina, sem especificação psicológica absoluta.

Em face disso, a individualidade em trânsito, da experiência feminina para a masculina ou vice-versa, ao envergar o casulo físico, demonstrará fatalmente os traços da feminilidade em que terá estagiado por muitos séculos, em que pese ao corpo de formação masculina que o segregue, verificando-se análogo processo com referência à mulher nas mesmas circunstâncias.

Obviamente compreensível, em vista do exposto, que o Espírito no renascimento, entre os homens, pode tomar um corpo feminino ou masculino, não apenas atendendo-se ao imperativo de encargos particulares em determinado setor de ação, como também no que concerne a obrigações regenerativas.”

Portanto, Espíritos em pluralidade de existências podem encarnam como homens ou mulheres e, no plano espiritual, ter essas aparências pelo perispírito ao impulso do Espírito.

O Espírito André Luiz, no livro Evolução em dois mundos, no Capítulo 12, em “Diferenciação dos sexos”, para a pergunta: Como se iniciou a diferenciação dos sexos? O Espírito Benfeitor expressou:

“Os princípios espirituais, nos primórdios da organização planetária, traziam, na constituição que lhes era própria, a condição que poderemos nomear por ‘teor de força’, expressando qualidades predominantes ativas ou passivas. E entendendo-se que a evolução é sempre sustentada pelas Inteligências superiores, em movimentação ascendente, desde as primeiras horas da reprodução sexuada começou, sob a direção delas, a formação dos órgãos masculinos e femininos que culminaram morfologicamente nas províncias genésicas do homem e da mulher da atualidade.

Não podemos esquecer, porém, que o trabalho evolutivo no aperfeiçoamento fisiológico das criaturas terrestres ainda não foi terminado, prosseguindo, como é natural, no espaço e no tempo.

Quanto à perda dos característicos sexuais, estamos informados de que ocorrerá, espontaneamente, quando as almas humanas tiverem assimilado todas as experiências necessárias à própria sublimação, rumando, após milênios de burilamento, para a situação angélica, em que o indivíduo deterá todas as qualidades nobres inerentes à masculinidade e à feminilidade, refletindo em si, nos degraus avançados da perfeição, a glória divina do Criador.

É imperioso reconhecer, contudo, que não podemos, ainda, em nossa posição evolutiva, formular qualquer pensamento concreto acerca da natureza e dos atributos dos Anjos, nem ajuizar quanto ao sistema de relações que cultivam entre si.”

André Luiz infere que a perda das características sexuais, que definem o sexo masculino e feminino, ocorrerá, espontaneamente, quando as almas humanas tiverem assimilado todas as experiências necessárias à própria sublimação, rumando, após milênios de burilamento, para a situação angélica.

Isso significa que, durante muito tempo, os habitantes do mundo espiritual estão definidos como pertencentes a um dos dois sexos, masculino ou feminino.

Supõe-se, então, que os Espíritos de elevada hierarquia não revelem características sexuais distintivas, sobretudo quando comparadas às do corpo físico.

Assim, pode-se verificar que o anjo não tem sexo, porque como Espírito puro percorreu todas escalas espíritas evolutivas até atingir a perfeição, sem a necessidade de mais reencarnar para adquirir valores e atributos, quer sejam eles masculinos ou femininos.

 

Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA.

EMMANUEL (Espírito), na psicografia de Francisco Cândido Xavier. Vida e sexo. 27ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2021.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

LUIZ, André (Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. Evolução em dois mundos. 27ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.

MIRAMEZ (Espírito); na psicografia de João Nunes Maia. Filosofia espírita: comentários às perguntas de “O Livro dos Espíritos”. Volume IV. 1ª Edição. Belo Horizonte/MG. Editora Fonte Viva, 1988.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Estudo aprofundado da Doutrina Espírita: filosofia e ciências espíritas. Livro V. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.

    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita