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por Roni Ricardo Osorio Maia

 

A negação de Pedro


O conhecido episódio A negação de Pedro, ocorrido após a passagem evangélica conhecida por lava-pés, foi narrado pelos quatro evangelistas, quando o Mestre Jesus parecia meditar gravemente na sua visão espiritual, e penetrava em um futuro bem próximo, definia o seu derradeiro final na Terra e com a peculiar sabedoria, afirmava a dispersão de todos no instante fatídico e vindouro.

Conforme a predição do Cristo, o ser humano Pedro negou Jesus e desconheceu publicamente o Mestre, que até então o rude pescador o acompanhava. Veremos, nesse contexto, a fraqueza humana devido aos temores; toda essa ocorrência se deu por conta da imperfeição humana. Pedro, Cefas, do aramaico, na tradução, pedra, tornou-se o nome adotado por Jesus a Simão Barjonas, que fora escolhido junto ao irmão André; e demais discípulos para o seguirem. Possuía um gênio forte e temperamento impulsivo, porém, muito generoso e repleto de bondade, exercia por anos a função de pescador; um enfrentador de tarefas rudes, não se abatia por adversidades, com uma coragem e iniciativa fundamentadas em seu temperamento.

Com pouca instrução, instalou residência em Cafarnaum, cidade da Galileia, era sócio do irmão na pescaria, iniciavam a labuta diária bem cedo, para poderem comercializar os peixes na hora do almoço, na cidade, e, pelas redondezas, as quais percorriam. Jesus revelou sua preferência por Simão Pedro, como constou nas citações de diversas passagens evangélicas, preparou-o devido uma liderança latente naquele pescador, e o ministério que aquele homem ignorante assumiria, mais tarde, conjuntamente com os outros discípulos. Um diamante bruto seria lapidado, lentamente, conforme a história nos revelou, após os séculos.

A casa de Pedro se tornou um ponto de referência para as reuniões em torno do Mestre dos Mestres; Por lá foi instalado por Jesus ao lhes contar histórias com essências morais o primeiro Evangelho no Lar, conforme contou-nos o espírito Neio Lúcio, no livro Jesus no Lar, psicografado por Francisco Cândido Xavier. Naquele lar também ocorreu o interessante momento da cura do paralítico de Cafarnaum, este ajudado por mãos amigas que destelharam o teto da residência do pescado, a fim de infiltrarem Natanael Ben Elias na sala onde o Rabi se reunia com as pessoas, e ao vê-lo, o Cristo lhe curou a paralisia.

O intimorato pescador faria muito mais, conforme o livro Vivendo com Jesus, pelo espírito Amélia Rodrigues, psicografado por Divaldo Pereira Franco, e realçou o fascínio inigualável que o Amigo Iluminado exerceu sobre aquela personalidade um pouco embrutecida, desde o primeiro momento que se encontraram. As lições marcantes, por intermédio do Cristo, ouvidas por Pedro, como a necessidade do perdão despertaram-no para o que aconteceria mais tarde. Inclusive, Jesus previu sua negação, por três vezes, antes de o galo cantar...

Pedro, muito curioso, durante a reunião depois do lava-pés, indagava para onde iria o Mestre e a sorte daquele grupo de homens, o Mestre explicou-lhe que haveria testemunho e sacrifício, e que o pescador não poderia acompanhá-lo...  Ao insistir com o Rabi, para acompanhá-lo, acontecesse o que estivesse por vir, e dispôs-lhe doar a própria vida, Pedro recebeu a resposta plausível e solidária de Jesus que lhe afirmou, uma vez inquieto, não poderia fazê-lo, como discípulo almejava, ainda afirmou que, naquela noite o negaria por três vezes, antes que o galo cantasse!

Pedro se sentiu ofendido, desdissera o Mestre, alegava a falta de confiança naquele que o seguia com ardor e veneração. Entretanto, Jesus, calmamente, lhe explicou que não se tratava de entendê-lo como um ingrato, contudo, as circunstâncias lhe provariam na intimidade. Simão Pedro não quis acreditar nas afirmativas de Jesus, e tão logo se sucedeu a chegada da tropa de soldados para o prenderem e o levarem, demonstrou sua disposição e atacou com a espada um dos servos do sumo sacerdote de Jerusalém, o que resultou em sérias repreensões do Mestre sobre o ato violento.

Naquele instante, o colégio apostólico, conforme previsão do Mestre se dispersou. Ficaram somente João e Pedro. Depois João rumou para a cidade de Betânia para expor a Maria de Nazaré sobre os novos fatos e a prisão do filho dela. Pedro se juntou a aglomeração humana e seguiu de longe, dirigiu-se até o pátio do palácio onde residia o sumo sacerdote – Caifás, para onde levaram o Mestre como prisioneiro, ali se sentou.          Foi abordado por uma serva se ele não estava em companhia do Galileu preso, Pedro negou. Saiu para a entrada do pátio, outra criada lhe indagou da mesma maneira. Pedro negou pela segunda vez. Outros presentes no local, afirmaram que ele acompanhava o Homem Nazareno que fora aprisionado. O pescador utilizou-se da sua bravura, começou a maldizer a até jurar que não o conhecia...

Naquele ínterim o galo cantou!

Pedro se lembrou imediatamente da profecia de Jesus, que lhe havia dito que antes que o galo cantasse ele o negaria por três vezes, e tal fato acabara de acontecer. Saiu dali e chorou copiosamente. O pescador do Mar da Galileia, com o medo de ser aprisionado, quis se poupar, caíra vergonhosamente sobre os próprios receios, fato bastante natural, em quem desconhece e não se arrisca a se aventurar. Se bem que, ele era um ser corajoso e de fibra indomável, enfrentava a pesca no mar e sua tarefa lhe exigia força física, ao recolher as redes carregadas de pescados. Então, após tanto chorar de arrependimento por ignorar o Mestre, tão amado, dominou-lhe um remorso profundo.   

Um significativo perfil psicológico de Pedro foi descrito por Amélia Rodrigues em texto psicografado por Divaldo Pereira Franco, e tal espírito retratou muito bem os bastidores daquela época com riqueza de detalhes na obra Pelos caminhos de Jesus, ao nos indicar a fragilidade latente em todo ser humano, entre outros itens relacionados à nossa inferioridade espiritual. Porém, arrependido de sua temeridade, mais tarde ele seria realmente a pedra edificada do Evangelho; iniciaria o movimento dos seguidores do Nazareno e nele atuaria pelos anos transcorridos.

Tempos decorridos, ele criou e manteve a Casa do Caminho, em Jerusalém, para abrigar infortunados, famintos e doentes, com as lições de Jesus a todos que procuravam aquela assistência pública de caridade, pelos apóstolos de Jesus Cristo, realizou viagens para disseminar a Boa Nova, junto aos apóstolos e um novo e eminente aliado à Causa do Cristo - Paulo de Tarso. Além disso, escreveu as duas epístolas com ponderações relevantes.

Na mencionada Casa do Caminho – localizada na estrada de Jope, nas cercanias de Jerusalém,  conforme registrado no livro Paulo e Estêvão, pelo espírito Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, Pedro – líder daquela instituição de caridade, onde havia muitas vítimas das atrocidades a mando de Saulo instaladas no abrigo – ao receber Paulo transformado, sentia que  permitiria o lobo adentrar  o redil, pois Tiago e  Filipe eram contrários a recebê-lo. Barnabé era favorável àquela visita. Decidiram que Barnabé intermediaria a conversa com o antes conhecido detrator. O bondoso interlocutor ficou impressionado com a modificação de Saulo e convidou-o a acompanhá-lo, praticando assim os ensinamentos do Mestre que levantou diversos decaidos e humilhados.

Pedro, com a peculiar fortaleza, recebeu o perseguidor, que, embora constrangido, explicou-lhe tudo o que ocorrera, desde Damasco e toda sua caminhada até aquele dia na Casa do Caminho. Apresentou-lhe o pergaminho do Evangelho doado por Gamaliel, como amostra de sua dedicação. Pedro exemplificou o que ouviu, estudou com Jesus e praticava; acolheu o ex-rabino convertido e deu-lhe guarida, percebeu a transformação íntima de Saulo e iniciaram estreito laço amistoso que seria muito unido dali para frente. Saulo participou de pregações na igreja do Caminho. Tiago se opusera à presença daquele recém-convertido, mas o ex-pescador apoiou Paulo de Tarso.

Frisamos que os apóstolos eram espíritos adiantados, contudo, não perfeitos, por isso o Mestre os alertou sobre a dispersão, bem como o medo que lhes tomaria as consciências; somente depois, se reuniriam e agrupados eles se fortaleceriam e enfrentariam opositores, adversidades e maldades do Império Romano aos adeptos de Jesus Cristo. Mais tarde, nas cruéis perseguições demandadas pelo Imperador Nero aos cristãos, Pedro foi preso em Roma, a condenação, como aos diversos cristãos, foi a crucificação, ele não aceitou ficar crucificado tal como Jesus, solicitou, e foi atendido - a sua crucificação foi de cabeça para baixo. Portanto, Pedro deixou-nos o rastro de bravura e reerguimento diante das adversidades da vida.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita