A negação de Pedro
O conhecido episódio A negação de Pedro,
ocorrido após a passagem evangélica conhecida
por lava-pés, foi narrado pelos quatro
evangelistas, quando o Mestre Jesus parecia
meditar gravemente na sua visão espiritual, e
penetrava em um futuro bem próximo, definia o
seu derradeiro final na Terra e com a peculiar
sabedoria, afirmava a dispersão de todos no
instante fatídico e vindouro.
Conforme a predição do Cristo, o ser humano
Pedro negou Jesus e desconheceu publicamente o
Mestre, que até então o rude pescador o
acompanhava. Veremos, nesse contexto, a fraqueza
humana devido aos temores; toda essa ocorrência
se deu por conta da imperfeição humana. Pedro, Cefas,
do aramaico, na tradução, pedra, tornou-se o
nome adotado por Jesus a Simão Barjonas, que
fora escolhido junto ao irmão André; e demais
discípulos para o seguirem. Possuía um gênio
forte e temperamento impulsivo, porém, muito
generoso e repleto de bondade, exercia por anos
a função de pescador; um enfrentador de tarefas
rudes, não se abatia por adversidades, com uma
coragem e iniciativa fundamentadas em seu
temperamento.
Com pouca instrução, instalou residência em
Cafarnaum, cidade da Galileia, era sócio do
irmão na pescaria, iniciavam a labuta diária bem
cedo, para poderem comercializar os peixes na
hora do almoço, na cidade, e, pelas redondezas,
as quais percorriam. Jesus revelou sua
preferência por Simão Pedro, como constou nas
citações de diversas passagens evangélicas,
preparou-o devido uma liderança latente naquele
pescador, e o ministério que aquele homem
ignorante assumiria, mais tarde, conjuntamente
com os outros discípulos. Um diamante bruto
seria lapidado, lentamente, conforme a história
nos revelou, após os séculos.
A casa de Pedro se tornou um ponto de referência
para as reuniões em torno do Mestre dos Mestres;
Por lá foi instalado por Jesus ao lhes contar
histórias com essências morais o primeiro Evangelho
no Lar, conforme contou-nos o espírito Neio
Lúcio, no livro Jesus no Lar,
psicografado por Francisco Cândido Xavier.
Naquele lar também ocorreu o interessante
momento da cura do paralítico de Cafarnaum, este
ajudado por mãos amigas que destelharam o teto
da residência do pescado, a fim de infiltrarem
Natanael Ben Elias na sala onde o Rabi se reunia
com as pessoas, e ao vê-lo, o Cristo lhe curou a
paralisia.
O intimorato pescador faria muito mais, conforme
o livro Vivendo com Jesus, pelo espírito
Amélia Rodrigues, psicografado por Divaldo
Pereira Franco, e realçou o fascínio inigualável
que o Amigo Iluminado exerceu sobre aquela
personalidade um pouco embrutecida, desde o
primeiro momento que se encontraram. As lições
marcantes, por intermédio do Cristo, ouvidas por
Pedro, como a necessidade do perdão
despertaram-no para o que aconteceria mais
tarde. Inclusive, Jesus previu sua negação, por
três vezes, antes de o galo cantar...
Pedro, muito curioso, durante a reunião depois
do lava-pés, indagava para onde iria o Mestre e
a sorte daquele grupo de homens, o Mestre
explicou-lhe que haveria testemunho e
sacrifício, e que o pescador não poderia
acompanhá-lo... Ao insistir com o Rabi, para
acompanhá-lo, acontecesse o que estivesse por
vir, e dispôs-lhe doar a própria vida, Pedro
recebeu a resposta plausível e solidária de
Jesus que lhe afirmou, uma vez inquieto, não
poderia fazê-lo, como discípulo almejava, ainda
afirmou que, naquela noite o negaria por três
vezes, antes que o galo cantasse!
Pedro se sentiu ofendido, desdissera o Mestre,
alegava a falta de confiança naquele que o
seguia com ardor e veneração. Entretanto, Jesus,
calmamente, lhe explicou que não se tratava de
entendê-lo como um ingrato, contudo, as
circunstâncias lhe provariam na intimidade.
Simão Pedro não quis acreditar nas afirmativas
de Jesus, e tão logo se sucedeu a chegada da
tropa de soldados para o prenderem e o levarem,
demonstrou sua disposição e atacou com a espada
um dos servos do sumo sacerdote de Jerusalém, o
que resultou em sérias repreensões do Mestre
sobre o ato violento.
Naquele instante, o colégio apostólico, conforme
previsão do Mestre se dispersou. Ficaram somente
João e Pedro. Depois João rumou para a cidade de
Betânia para expor a Maria de Nazaré sobre os
novos fatos e a prisão do filho dela. Pedro se
juntou a aglomeração humana e seguiu de longe,
dirigiu-se até o pátio do palácio onde residia o
sumo sacerdote – Caifás, para onde levaram o
Mestre como prisioneiro, ali se sentou.
Foi abordado por uma serva se ele não estava em
companhia do Galileu preso, Pedro negou. Saiu
para a entrada do pátio, outra criada lhe
indagou da mesma maneira. Pedro negou pela
segunda vez. Outros presentes no local,
afirmaram que ele acompanhava o Homem Nazareno
que fora aprisionado. O pescador utilizou-se da
sua bravura, começou a maldizer a até jurar que
não o conhecia...
Naquele ínterim o galo cantou!
Pedro se lembrou imediatamente da profecia de
Jesus, que lhe havia dito que antes que o galo
cantasse ele o negaria por três vezes, e tal
fato acabara de acontecer. Saiu dali e chorou
copiosamente. O pescador do Mar da Galileia, com
o medo de ser aprisionado, quis se poupar, caíra
vergonhosamente sobre os próprios receios, fato
bastante natural, em quem desconhece e não se
arrisca a se aventurar. Se bem que, ele era um
ser corajoso e de fibra indomável, enfrentava a
pesca no mar e sua tarefa lhe exigia força
física, ao recolher as redes carregadas de
pescados. Então, após tanto chorar de
arrependimento por ignorar o Mestre, tão amado,
dominou-lhe um remorso profundo.
Um significativo perfil psicológico de Pedro foi
descrito por Amélia Rodrigues em texto
psicografado por Divaldo Pereira Franco, e tal
espírito retratou muito bem os bastidores
daquela época com riqueza de detalhes na obra Pelos
caminhos de Jesus, ao nos indicar a
fragilidade latente em todo ser humano, entre
outros itens relacionados à nossa inferioridade
espiritual. Porém, arrependido de sua
temeridade, mais tarde ele seria realmente a
pedra edificada do Evangelho; iniciaria o
movimento dos seguidores do Nazareno e nele
atuaria pelos anos transcorridos.
Tempos decorridos, ele criou e manteve a Casa
do Caminho, em Jerusalém, para abrigar
infortunados, famintos e doentes, com as lições
de Jesus a todos que procuravam aquela
assistência pública de caridade, pelos apóstolos
de Jesus Cristo, realizou viagens para
disseminar a Boa Nova, junto aos apóstolos e um
novo e eminente aliado à Causa do Cristo - Paulo
de Tarso. Além disso, escreveu as duas epístolas
com ponderações relevantes.
Na mencionada Casa do Caminho –
localizada na estrada de Jope, nas cercanias de
Jerusalém, conforme registrado no livro Paulo
e Estêvão, pelo espírito Emmanuel,
psicografado por Francisco Cândido Xavier, Pedro
– líder daquela instituição de caridade, onde
havia muitas vítimas das atrocidades a mando de
Saulo instaladas no abrigo – ao receber Paulo
transformado, sentia que permitiria o lobo
adentrar o redil, pois Tiago e Filipe eram
contrários a recebê-lo. Barnabé era favorável
àquela visita. Decidiram que Barnabé
intermediaria a conversa com o antes conhecido
detrator. O bondoso interlocutor ficou
impressionado com a modificação de Saulo e
convidou-o a acompanhá-lo, praticando assim os
ensinamentos do Mestre que levantou diversos
decaidos e humilhados.
Pedro, com a peculiar fortaleza, recebeu o
perseguidor, que, embora constrangido,
explicou-lhe tudo o que ocorrera, desde Damasco
e toda sua caminhada até aquele dia na Casa do
Caminho. Apresentou-lhe o pergaminho do
Evangelho doado por Gamaliel, como amostra de
sua dedicação. Pedro exemplificou o que ouviu,
estudou com Jesus e praticava; acolheu o
ex-rabino convertido e deu-lhe guarida, percebeu
a transformação íntima de Saulo e iniciaram
estreito laço amistoso que seria muito unido
dali para frente. Saulo participou de pregações
na igreja do Caminho. Tiago se opusera à
presença daquele recém-convertido, mas o
ex-pescador apoiou Paulo de Tarso.
Frisamos que os apóstolos eram espíritos
adiantados, contudo, não perfeitos, por
isso o Mestre os alertou sobre a dispersão, bem
como o medo que lhes tomaria as
consciências; somente depois, se reuniriam e
agrupados eles se fortaleceriam e enfrentariam
opositores, adversidades e maldades do Império
Romano aos adeptos de Jesus Cristo. Mais tarde,
nas cruéis perseguições demandadas pelo
Imperador Nero aos cristãos, Pedro foi preso em
Roma, a condenação, como aos diversos cristãos,
foi a crucificação, ele não aceitou ficar
crucificado tal como Jesus, solicitou, e foi
atendido - a sua crucificação foi de cabeça para
baixo. Portanto, Pedro deixou-nos o rastro de
bravura e reerguimento diante das adversidades
da vida.