Espiritismo
para crianças

por Marcela Prada

 

Tema: Orgulho


O concurso da floresta


— Como é linda!

— Que pelo bonito! Que manchas perfeitas!

Sempre que a onça aparecia, ela ouvia outros animais comentarem sobre sua beleza. Quando ia beber água, via seu reflexo no lago e ficava toda vaidosa, admirando sua bela aparência.

Acontece, porém, que toda essa beleza levara a onça a ser também orgulhosa, ou seja, a se achar melhor que os outros animais. Ela não tinha nenhuma consideração com os outros. Não se constrangia em falar mal deles, não se preocupava em ser educada e dizer “com licença”, “por favor” ou “obrigada”.

Por isso, apesar de ser admirada por um lado, ela era indesejada por outro. A beleza dela sempre chamava a atenção e todos paravam para vê-la passar. Mas quase ninguém gostava de conversar com ela, pois sempre terminavam sentindo-se humilhados ou desrespeitados.

A onça tinha tanta confiança de que era melhor do que os outros, que um dia resolveu fazer um concurso para eleger o melhor animal da floresta. Ela tinha certeza de que ganharia e, só de pensar que teria esse título, se enchia de orgulho.

Assim, ela espalhou a notícia para todos os bichos. Explicou que cada um iria votar em um animal, naquele que fosse mais especial, mais incrível e que se destacasse dos outros. Quem tivesse mais votos, seria considerado o melhor animal da floresta.

Os outros bichos não acharam muita graça no concurso. Eles percebiam que era só mais uma maneira de querer a onça se afirmar como melhor do que eles. Mas, mesmo assim, os comentários em quem cada um iria votar começaram a surgir, e a ideia do concurso foi ganhando força.

No dia combinado, uma grande quantidade de animais se reuniu na clareira e a votação começou. Porém, para surpresa da onça, as coisas não aconteceram como ela previa.

O tatu foi o primeiro e votou na borboleta azul.

— Vai votar na borboleta, tão pequena, tão silenciosa? Tem certeza, tatu? — perguntou a onça.

— Sim! Ela é encantadora! Tem uma cor rara na floresta. É delicada, voa suavemente! Vê-la entre as flores nos traz paz. Ela é uma poesia em forma de bicho! É o melhor animal da floresta — alegou ele.

Alguns animais concordaram com o tatu e também votaram na borboleta.

A votação continuou, de maneira inesperada para a onça. A formiga ganhou um voto porque era para todos exemplo de trabalho, organização, força e disciplina. A formiga agradeceu e, na sua vez, votou no vaga-lume.

A onça não se conformava: “Ele é um inseto, pequeno e feio!” pensava ela.

— O que pode ser mais especial do que ter luz? É claro que o amigo vaga-lume é o mais incrível de todos nós! — justificou a formiga.

A votação continuou e a onça foi passando de espantada para irritada, pois ainda não tinha recebido nenhum voto e, ao invés de estar sendo reconhecida como linda e maravilhosa, ela tinha que ouvir todas as qualidades dos outros animais.

Houve votos para quem voava mais alto, para quem nadava melhor, até para o macaco, que era quem mais sabia brincar e se divertir, e muitos outros.

— Meu voto é para o bicho-preguiça! — disse o coelho.

Ao ouvir isso, a onça não aguentou mais. Rosnou e disse, brava:

— O quê? Essa é uma votação séria, coelho! O que um bicho parado, lento, que não faz quase nada o dia inteiro, e além de tudo é feio, pode ter de especial?

O coelho, assustado com a cara feia da onça, deu um pulo e, de trás de uma árvore, explicou:

— Eu sei que a votação é séria, dona onça. Eu voto no bicho-preguiça porque ele é o animal mais simpático da floresta. Ele está sempre com um sorriso no rosto e não se impõe sobre ninguém. Perto dele, a gente não sente medo, não se constrange, é sempre bem recebido. Ele é um bom amigo para todos que queiram sua amizade. Por isso, para mim, ele é o melhor de todos.

A onça ficou ainda mais nervosa com a resposta do coelho, pois ele valorizava qualidades que ela estava longe de ter.

— A votação está encerrada! Vocês, além de feios, não sabem votar! Este concurso não vai chegar a lugar algum. Acabou! — gritou a onça, furiosa.

Todos ficaram mudos, com medo da reação da onça. Foi então que a coruja, o animal mais sábio da floresta, falou do alto do galho onde estava pousada:

— O concurso não vai chegar a lugar nenhum, não porque não sabemos votar, mas sim porque não existe o melhor animal da floresta. Todos somos especiais, todos temos características próprias e incríveis, mesmo sendo diferentes. O que não é especial é alguém se achar melhor só porque tem alguma coisa que os outros não têm.

E continuou:

— Você é linda, onça! Além disso, você é grande e forte. Nós vemos as suas qualidades e a admiramos. Mas você podia tentar ver as nossas, também!

Em seguida, a coruja voou para longe. Os outros animais foram embora também. Só sobrou a onça na clareira, pensando no que tinha acontecido.

No dia seguinte, a onça foi beber água e encontrou vários animais no lago. Ela cumprimentou todos eles. Disse alegremente que o dia estava muito bonito. Elogiou os filhotes da pata, que já estavam nadando tão bem. Parecia outra onça. E, no fundo, era mesmo.

O concurso pode não ter elegido o melhor animal da floresta, mas ajudou a onça a se tornar alguém melhor.


 

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