Tema: Orgulho
O concurso da floresta
— Como é linda!
— Que pelo bonito! Que manchas perfeitas!
Sempre que a onça aparecia, ela ouvia outros animais
comentarem sobre sua beleza. Quando ia beber água, via
seu reflexo no lago e ficava toda vaidosa, admirando sua
bela aparência.
Acontece, porém, que toda essa beleza levara a onça a
ser também orgulhosa, ou seja, a se achar melhor que os
outros animais. Ela não tinha nenhuma consideração com
os outros. Não se constrangia em falar mal deles, não se
preocupava em ser educada e dizer “com licença”, “por
favor” ou “obrigada”.
Por isso, apesar de ser admirada por um lado, ela era
indesejada por outro. A beleza dela sempre chamava a
atenção e todos paravam para vê-la passar. Mas quase
ninguém gostava de conversar com ela, pois sempre
terminavam sentindo-se humilhados ou desrespeitados.
A onça tinha tanta confiança de que era melhor do que os
outros, que um dia resolveu fazer um concurso para
eleger o melhor animal da floresta. Ela tinha certeza de
que ganharia e, só de pensar que teria esse título, se
enchia de orgulho.
Assim, ela espalhou a notícia para todos os bichos.
Explicou que cada um iria votar em um animal, naquele
que fosse mais especial, mais incrível e que se
destacasse dos outros. Quem tivesse mais votos, seria
considerado o melhor animal da floresta.
Os outros bichos não acharam muita graça no concurso.
Eles percebiam que era só mais uma maneira de querer a
onça se afirmar como melhor do que eles. Mas, mesmo
assim, os comentários em quem cada um iria votar
começaram a surgir, e a ideia do concurso foi ganhando
força.
No dia combinado, uma grande quantidade de animais se
reuniu na clareira e a votação começou. Porém, para
surpresa da onça, as coisas não aconteceram como ela
previa.
O tatu foi o primeiro e votou na borboleta azul.
— Vai votar na borboleta, tão pequena, tão silenciosa?
Tem certeza, tatu? — perguntou a onça.
— Sim! Ela é encantadora! Tem uma cor rara na floresta.
É delicada, voa suavemente! Vê-la entre as flores nos
traz paz. Ela é uma poesia em forma de bicho! É o melhor
animal da floresta — alegou ele.
Alguns animais concordaram com o tatu e também votaram
na borboleta.
A votação continuou, de maneira inesperada para a onça.
A formiga ganhou um voto porque era para todos exemplo
de trabalho, organização, força e disciplina. A formiga
agradeceu e, na sua vez, votou no vaga-lume.
A onça não se conformava: “Ele é um inseto, pequeno e
feio!” pensava ela.
— O que pode ser mais especial do que ter luz? É claro
que o amigo vaga-lume é o mais incrível de todos nós! —
justificou a formiga.
A votação continuou e a onça foi passando de espantada
para irritada, pois ainda não tinha recebido nenhum voto
e, ao invés de estar sendo reconhecida como linda e
maravilhosa, ela tinha que ouvir todas as qualidades dos
outros animais.
Houve votos para quem voava mais alto, para quem nadava
melhor, até para o macaco, que era quem mais sabia
brincar e se divertir, e muitos outros.
— Meu voto é para o bicho-preguiça! — disse o coelho.
Ao ouvir isso, a onça não aguentou mais. Rosnou e disse,
brava:
— O quê? Essa é uma votação séria, coelho! O que um
bicho parado, lento, que não faz quase nada o dia
inteiro, e além de tudo é feio, pode ter de especial?
O coelho, assustado com a cara feia da onça, deu um pulo
e, de trás de uma árvore, explicou:
— Eu sei que a votação é séria, dona onça. Eu voto no
bicho-preguiça porque ele é o animal mais simpático da
floresta. Ele está sempre com um sorriso no rosto e não
se impõe sobre ninguém. Perto dele, a gente não sente
medo, não se constrange, é sempre bem recebido. Ele é um
bom amigo para todos que queiram sua amizade. Por isso,
para mim, ele é o melhor de todos.
A onça ficou ainda mais nervosa com a resposta do
coelho, pois ele valorizava qualidades que ela estava
longe de ter.
— A votação está encerrada! Vocês, além de feios, não
sabem votar! Este concurso não vai chegar a lugar algum.
Acabou! — gritou a onça, furiosa.
Todos ficaram mudos, com medo da reação da onça. Foi
então que a coruja, o animal mais sábio da floresta,
falou do alto do galho onde estava pousada:
— O concurso não vai chegar a lugar nenhum, não porque
não sabemos votar, mas sim porque não existe o melhor
animal da floresta. Todos somos especiais, todos temos
características próprias e incríveis, mesmo sendo
diferentes. O que não é especial é alguém se achar
melhor só porque tem alguma coisa que os outros não têm.
E continuou:
— Você é linda, onça! Além disso, você é grande e forte.
Nós vemos as suas qualidades e a admiramos. Mas você
podia tentar ver as nossas, também!
Em seguida, a coruja voou para longe. Os outros animais
foram embora também. Só sobrou a onça na clareira,
pensando no que tinha acontecido.
No dia seguinte, a onça foi beber água e encontrou
vários animais no lago. Ela cumprimentou todos eles.
Disse alegremente que o dia estava muito bonito. Elogiou
os filhotes da pata, que já estavam nadando tão bem.
Parecia outra onça. E, no fundo, era mesmo.
O concurso pode não ter elegido o melhor animal da
floresta, mas ajudou a onça a se tornar alguém melhor.