O socorro ao cangaceiro
“O bem que praticares, em algum lugar, é teu advogado
em toda parte.” (Vinha de luz, cap. 162, de
Emmanuel, psicografia de Chico Xavier.)
- Preciso de socorro, estou com o rosto queimado, sinto
muitas dores, sinto o mau cheiro do meu ferimento,
socorro, socorro...
Assim aportou um Espírito extremamente desesperado na
sessão mediúnica em andamento no Centro Espírita.
- Ajudem-me... fui colocar fogo naquela casa e alguma
coisa explodiu atingindo o meu rosto... olha como
está... apodrecendo, muita dor, mas não posso ser
descoberto, me escondam...
- Meu irmão - interveio o amigo dialogador nas ações
mediúnicas - estamos aqui para socorrê-lo, tenha calma;
Deus a ninguém desampara.
- Não, moço, eu não sou de Deus não, sou um cangaceiro,
comando um bando que saqueia fazendas, mata pessoas só
para ver o tombo, abusa das mulheres, judia das
crianças... não, não, Deus não...
- Meu irmão, se quer ajuda precisa sim recorrer a Deus,
que é o pai de todos nós e sempre está à disposição para
nos amparar.
- Deus não vai querer um filho como eu; apenas me
socorra, que logo vou embora. Fui traído, meu bando me
abandonou, mas eu vou alcançar aqueles traidores e aí
verão o que farei com eles.
- Do seu lado está um médico em plenas condições de
ajudá-lo neste momento, aceite seus conselhos e
medicamentos.
- Moço, ninguém pode me ver aqui, só o médico, senão os
“home” me pegam e eles não têm dó não, acabam com a
gente, mas também sempre que possível acabamos com eles.
- Fique tranquilo, meu irmão - falava sempre solicito o
companheiro da Casa Espírita, procurando infundir
confiança ao Espírito sofrido, para que o socorro
necessário fosse efetivado.
Naquele momento e local ninguém se preocupava em fazer
qualquer menção mental com referência aos erros que o
visitante cometera no passado. Aquela casa era um núcleo
de amor e fraternidade, envidando esforços para o amparo
de quem necessitasse.
O Espírito recebeu a atenção do médico espiritual
presente e a solidariedade de muitos outros
desencarnados que formavam a equipe socorrista daquele
trabalho.
- Preciso perguntar uma coisa... por que vocês estão
cuidando tão bem de alguém que só fez o mal na Terra.
Carrego comigo um peso enorme de crimes e barbaridades e
aqui ninguém me acusa de nada...
- Na Terra, meu irmão, nós não fazemos só o mal, embora
muitas vezes nossos atos sejam equivocados e até
perversos... Lembra-se daquela tarde em que você à
frente do seu bando de cangaceiros se aproximou de um
casebre à beira de um riacho, com a intenção de roubar e
matar quem estava ali? Na porta surgiu uma mulher
rodeada por dois filhos pequenos e com uma barriga
enorme prenunciando a chegada de mais uma criança, todos
muito pobres e sem nada para ser roubado. Você pediu
para o bando parar, adiantou-se um pouco e muito
penalizado pegou um leitão que havia roubado em outra
casa e deu para aquela mãe cozinhar para os filhos. Logo
em seguida chegou o marido e, vendo-os, muito se
assustou, quando foi informado que não fariam nada com
sua família. Você ainda tirou umas moedas da algibeira e
pediu também para os outros cangaceiros fazer o mesmo e
deu para o pai de família assustado.
- É verdade; demos umas patacas (dinheiro muito
antigo) para ele. Como você sabe disso, se faz tanto
tempo e eu nem me lembrava mais? Mas... o que isso tem a
ver com o socorro que estou recebendo?
- Tem tudo a ver, meu irmão, pois foi essa sua atitude
que permitiu o socorro de hoje... Você sabe quem pediu a
Deus por você? Olhe para frente e veja quem vem
chegando...
Nessa hora o ex-cangaceiro caiu em pranto ao deparar
diante dos seus olhos aquele casal que um dia ele poupou
da morte e ainda ajudou com alimento e dinheiro.
- Como é possível isso!
O casal agradecido diz ao irmão sofrido que jamais se
esqueceram dele e que o leitão que ganhara deu para
alimentar os filhinhos por alguns dias.
***
Uma única ação no bem criou condições para que a
Providência divina conseguisse prestar socorro ao irmão
de vida infeliz.
Claro que pela lei de causa e efeito ele responderá
pelos erros cometidos, mas as leis de Deus não são de
punições e castigos, mas de amor e justiça, e
oportunidades serão dadas ao Espírito devedor para que
promova a sua redenção.
O bem... sempre o bem...