Ah! Pedro Leopoldo... quantas saudades!!!
Caro leitor, segue hoje uma bela evocação sentimental de Clovis
Tavares que conviveu mais de 30 anos com nosso saudoso Chico:
“Pedro Leopoldo, terra querida onde tantas bênçãos recebeu minha
alma... Sinto que para prosseguir no retrospecto dos sublimes
tesouros do Alto – meu testemunho da mediunidade de Francisco
Cândido Xavier – preciso, à semelhança de Chopin, encontrar
também a minha ‘nota azul’. E esta é a relembrança da paisagem
querida, moldura espiritual que ornou um quadro de divina
misericórdia em favor de minha alma.
Dessa época em diante, e sempre mais, Pedro Leopoldo se
transmudou, na sintonia de sua bonançosa paisagem, para alguns
companheiros queridos e para mim, num verdadeiro centro de
estudos espirituais, qual modesta Sagres, oculta e abençoada,
onde nos preparávamos humildemente, não para glórias de grandes
navegações, mas para a descoberta do verdadeiro caminho da
evolução, através do exame e da vivência dos sagrados roteiros e
dos experimentados portulanos do Evangelho. (...) Pedro Leopoldo
se tornou, para minha alma, qual segunda pátria espiritual.
Amei-a e ainda a amo hoje, imensamente, recordando o afetuoso
convívio com Inteligências sublimadas e amigas do Mundo Maior em
noites consteladas de luzes da Eternidade. E doce ao coração
recordar tudo isso: patriae memória dulcis...
Com o querido Chico, percorria suas ruas ou meditávamos em
recantos tranquilos, junto ao Ribeirão da Mata ou nas
proximidades da Represa. – Aqui, junto ao Açude, em fins de 1931
– dizia-me o Chico – foi que eu vi Emmanuel pela primeira vez.
(...) Foi ali que nosso querido médium se comprometeu com o
grande Benfeitor Espiritual a aceitar as três condições exigidas
pelo Alto em troca do apoio em favor de sua missão: disciplina,
disciplina, disciplina. Nas noites frias de julho ou nas cálidas
noites de verão, as pedras das ruas, as abas dos montes, o
marulhoso Ribeirão da Mata, os concretos do açude, ouvia nossas
confidencias amigas e eram testemunhas mudas de nossas palestras
ou das instruções que, através da inspiração mediúnica de Chico,
nos esclareciam ou confortavam... Tudo era poesia, amizade,
comunhão espiritual, imaculada alegria. (...)
Reuníamo-nos em casa de André, irmão de Chico, que nos oferecia,
após os estudos ou preces, um ‘lanche da madrugada’. Ou na
antiga sede do “Luiz Gonzaga”, onde Geni, a viúva de José Xavier
(também hoje desencarnada) com muito carinho preparava a mesa da
reunião, com a bilha de água que seria magnetizada, papel em
abundância e vários lápis devidamente apontados...
Em companhia de Chico, sempre visitávamos enfermos ou lares
humildes, onde a chegada do querido médium era festejada com
intraduzível alegria. Às vezes, demandávamos locais distantes da
cidade, como a Lapinha, onde em penúria total vivia aquela
sofredora Maria da Conceição que, mais tarde, já desencarnada,
em mensagem psicofônica recebida no Grupo Meimei (de Pedro
Leopoldo) relataria sua dolorosa experiência, remontando à
faustosa corte de Felipe II de Espanha. Minha alma se transporta
a Pedro Leopoldo e tudo recorda: a cidadezinha cercada de
montes, as ruas movimentadas ou singelas, as pequeninas praças,
a Fábrica de Tecidos, ao lado de modestas residências de
operários. Impossível esquecer o lar do querido José Cândido,
onde funcionou, durante muitos anos, o “Luiz Gonzaga”. O
ambiente acolhedor do Grupo Meimei, sob a cuidadosa direção de
Arnaldo Rocha, queridíssimo amigo... A nova sede do Grupo
Espírita Luiz Gonzaga... construída no local onde se erguia
antigamente (e que cheguei a conhecer) a casinha de Maria João
de Deus, a bondosa genitora de nosso Chico. Foi nesse lar
humilde, modestíssimo, que nasceu Francisco Cândido Xavier. Mais
tarde, sob a presidência do Dr. Rômulo Joviano, o Grupo Luiz
Gonzaga adquiriu o terreno em que se situava a singela casinha e
ali edificou sua nova sede. Numa de suas dependências, uma sala
de oração para os médiuns, encontra-se o famoso retrato
mediúnico de Emmanuel, trabalho do conceituado pintor mineiro
Delpino Filho. Esse compartimento foi, outrora, na velha casinha
de João Cândido e Maria João de Deus, o humilde quarto onde, a 2
de abril de 1910, nasceu Francisco Cândido Xavier... E nosso
querido Chico, na maravilhosa potencialidade de sua memória
mediúnica, qual se fora misterioso ‘arquivo de microfilmes’,
recorda-se dos preparativos de sua atual reencarnação, quando
era trazido pelos Benfeitores Espirituais, muitas vezes, ao lar
humílimo da inesquecível autora de Cartas de uma Morta, a
bondosa Maria João de Deus...
O painel de Pedro Leopoldo com seus verdes montes e as águas
encachoeiradas de seu ribeirão... Suas estradas, seus bosques,
seus passarinhos, suas flores... E um desfile de almas queridas,
na órbita de tantas bênçãos, a começar pela alma boa de Chico
Xavier e pela visão agradecida dos Benfeitores Espirituais: o
velho João Cândido, José, André, Bita, Luísa, Zina, Maria,
Mundico, Geralda, Lucila, Neusa, Cidália, Dorinha, Joãozinho...
Professor Cícero Pereira e D. Guiomar, José e Joffre Lellis,
Arnaldo Rocha, Oscar Coelho dos Santos e D. Lola, Joaquim Alves,
Gonçalves Pereira, Lindolfo Ferreira, Zeca Machado, Geni,
Pachequinho, Manuel Ferreira Diniz, “José do S”, os dois
Martins, Isaltino Silveira, César Burnier, Rodrigo Antunes,
Efigênio Vítor, Dr. Camilo Chaves, Nelson Sbampatto, Jacques
Aboab, José Paulo Virgílio...
Em minha retina espiritual entrelaçam-se almas, mensagens e
flores... Eucaliptos coroando a silhueta das colinas, algodão de
nuvens no céu intensamente azul, e laranjeiras em flor, e
ciprestes e magnólias nas estradas... E para todas essas almas
queridas, que estão longe e que estão perto, no Céu ou na Terra,
um pensamento de amor e um ósculo de gratidão, entre as lágrimas
de saudade de Pedro Leopoldo...”
Do livro Trinta anos com Chico Xavier,
de Clovis Tavares.
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