Durante dois anos, 1952-53, Chico resolveu experimentar
emoções mais fortes. Ele mesmo decidiu emprestar seu
ectoplasma aos visitantes do além. As reuniões de
materialização movimentavam, em geral, a casa de André
Xavier, seu irmão. Chico se deitava na cama em um quarto
próximo à sala, as rezas começavam, a música enchia a
sala e o desfile de aparições surpreendia os
espectadores. As criaturas iluminadas eram mais etéreas,
menos sólidas, do que as geradas por Peixotinho em seus
espetáculos.
Numa das noites, um dos espectadores e amigo de Chico, Arnaldo
Rocha, recebeu a visita de Maria José de São Domingos Ramalho
Rocha, sua mãe. Quando viva, ela tratava os filhos como
"vidrinhos de cheiro" e tinha a mania de pousar as mãos na
cabeça deles. Em sua versão fluorescente, ela repetiu os hábitos
estranhos. O filho quis saber se ela conservava também a mania
de cheirar rapé. A aparição riu, negou e mostrou a tabaqueira
vazia.
Em outra noitada, uma senhora fulgurante, coberta por véus, saiu
do cubículo onde estava Chico e iluminou a sala de visitas com
uma joia fosforescente. André Xavier identificou a
recém-chegada: era Cidália, mãe dele, segunda mulher de João
Cândido. Antes de sair, a madrasta de Chico deixou um rastro de
perfume no ar. De repente, uma nova fragrância invadiu a sala e
uma figura elegante entrou em cena. Era Meimei, ex-mulher de
Arnaldo. Ela cumprimentou a todos e pediu que a "pessoa
necessitada" se aproximasse. Um jovem tuberculoso se levantou da
cadeira. A aparição envolveu seu peito com cordões
fosforescentes. A radioatividade, livre dos efeitos negativos do
rádio, poderia curar. Em seguida, um sujeito com pose austera,
enfiado numa toga romana de tonalidade azul, surgiu na sala com
uma tocha acesa numa das mãos. Em tom grave, afirmou: - Amigos,
o que acabastes de ver e de ouvir representa maiores
responsabilidades sobre os vossos ombros. Era Emmanuel.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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