Meditação
“Doutrina de amor e luz, Ciência, Fé e Consolação,
prometida há dois mil anos por Jesus, diretriz da humana
perfeição...”. A Doutrina Espírita, que há mais de cento
e sessenta e seis anos, desde a sua codificação, pelo
eminente Allan Kardec, oferece material vasto para
iluminar a trajetória de ascensão espiritual, de
espíritos encarnados e desencarnados.
Seguindo a proposta de pesquisa, o Concurso “A Doutrina
Explica” vem às nossas mãos, como uma ferramenta,
construindo entendimento e provocando reflexões, de
temas da vida cotidiana, à luz do Evangelho Redivivo.
Estar consciente da necessidade da própria
autoiluminação é medida urgente e instigante.
Escolhemos discorrer sobre a Meditação, sua importância
e costume, na manutenção da saúde mental, conforme a
matéria acima citada nos oferece. O texto base tece
alguns comentários a respeito dessa técnica milenar, que
é um dos formatos de promoção do autoconhecimento. Nessa
proposta de agregar conhecimento, instrução e valores,
uniremos ao tema do presente comentário, conteúdos
revelados pelo Espiritismo.
Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa,
meditação é: ”Ato ou efeito de meditar; concentração
intensa do espírito; reflexão”. Destaca-se que a oração
mental, que consiste, sobretudo, em considerações e
processos mentais discursivos, recebe o mesmo
significado.
“A Meditação é um conjunto de práticas que se concentra
na integração da mente e do corpo, e busca a calma e o
bem-estar de quem a utiliza. É o que explica o Centro
Nacional de Saúde Complementa e Integrativa dos Estados
Unidos (NCCIH) (na sigla em inglês) entidade médica
oficial do governo norte-americano”.
Podemos entender, também, que meditar envolve o ato de
contemplar, reflexionar sobre algo; pensar sobre algum
assunto que necessite de uma análise mais profunda e
sólida de nossa parte; e até mesmo a oração, pode se
tornar uma ação meditativa. A técnica contemplativa é
reconhecida por ser um agente de gestão das emoções e do
estresse, e oferecer conforto e segurança durante seu
uso. Alguns elementos são comuns, são recomendados,
quando se trata do assunto, que descremos a seguir:
1 – Recomenda-se a escolha de um local com poucas
distrações, sem tantos estímulos sensoriais, onde seja
possível cultivar a tranquilidade;
2 – Que a postura seja confortável: sentado, de pé,
caminhando, deitado, ou na famosa “postura de lótus”.
Essa postura recebe tal nome por assemelhar-se a uma
flor de lótus, pois a posição da planta dos pés fica
voltada para cima, exatamente como a flor.
3 – É sugerida a eleição de um “foco de atenção”, que
pode ser uma palavra, uma frase ou conjunto de frases,
que facilitem a concentração e faça sentido para o
praticante; a atenção na própria respiração, facilitando
o relaxamento a que se propõe a ação.
4 – Digna de atenção é a “atitude observadora”, que
consiste na observação de pensamentos e ideias, em suas
idas e vindas, pelo praticante, sem nenhuma forma de
julgamento; observar e deixar ir, com leveza.
A meditação exerce efeitos sobre o Sistema Nervoso
Simpático, que é responsável pelas alterações no
organismo em situações de estresse ou emergência. Assim
sendo, estando o organismo inundado de hormônios
liberados pelo estado de alerta ou perigo que o
indivíduo capta, sejam reais ou não, o corpo e todo o
cérebro são banhados por essa carga energética, que pode
gerar desconfortos vários e até doenças, se permanentes
e constantes. Em momentos tais, sendo detentor da
ferramenta relaxante, que é a meditação, pode a criatura
valer-se desse instrumento, promovendo em si a volta à
calma, auxiliando a retomada do fluxo sanguíneo de seu
corpo, a diminuição da pressão arterial, a reorganização
da troca de gases pulmonares, anteriormente afetada.
Necessário enfatizar que a qualidade do sono é um dos
destaques do ato de cismar, bem como o manejo da dor, do
funcionamento do intestino, o bem-estar geral do corpo.
Para formar o hábito de meditar, torná-lo rotina, alguns
dias da semana precisam ser reservados para tal, até que
a satisfação se instale e passe a ser ato essencial,
como orar e respirar. A paciência e a constância devem
ser convidas para esse desiderato.
Abaixo citaremos algumas práticas em voga, a título de
ilustração e convite à execução das mesmas.
1 - “MINDFULNESS” - É uma prática de plena
atenção, usando técnicas de respiração e gentileza,
propondo melhorar a concentração e equilíbrio da saúde
mental. Sua base é a conexão do corpo e da mente, no
“aqui” e no “agora”. Propõe a observação dos padrões de
pensamentos, das sensações (positivas ou negativas)
pelas quais se passa durante o processo de cogitar.
A técnica da atenção plena oferece alguns exercícios,
tendo por alvo o prolongamento do bem estar e
tranquilidade.
a) Permita-se
“sentir suas emoções” – pergunte a si mesmo: que
necessidades minhas estão ou não, sendo atendidas. Por
que me sinto dessa ou daquela maneira, em determinadas
circunstâncias e não em outras? O que minhas emoções
estão revelando?
b) Cultive
a gratidão logo pela manhã - liste pessoas e
circunstâncias que o auxiliam na manutenção de sua
qualidade de vida.
c) Pratique
a “caminhada meditativa” - aproveite cada momento de
modo silencioso e atento, não tenso, por onde quer que
vá. Observe a paisagem natural (animais, plantas), o
local escolhido para a caminhada, sua localização.
Lembre-se, é importante focar no presente, sem
preocupações futuras ou passadas.
d) Experimente
“a refeição contemplativa” - evite se distrair durante
suas refeições com assuntos outros, que não o alimento à
sua mesa. Há ainda a opção de fechar os olhos,
degustando a comida, suas texturas e sabores.
e) Elimine
suas distrações - afaste, apague, descarte, de sua Casa
Mental, informações desnecessárias. Aquilo que roube sua
atenção, que não lhe traga crescimento pessoal e ou
espiritual, jogue fora.
f) Alimente
sua mente e alma com conteúdos saudáveis – aprenda a
escolher seu alimento mental: bons livros; filmes,
entretenimento de boa qualidade; fontes seguras de
informações sobre atualidade; sites e blogs que promovam
seu crescimento pessoa e espiritual.
g) Conecte-se
com a natureza – ajuste sua rotina para estar em contato
com o ambiente natural (parques, jardins, lagos,
bosques, praias), experimentando, assim, a troca
energética e salutar com esses elementos. Desse modo,
reencontrar-se consigo mesmo se fará de modo
descontraído e produtivo.
h) Encontre
seu grupo de amigos – encontre amigos interessados em
temas comuns, em “Mindfulness”, por exemplo, e desfrute
de ótimos momentos de alegria e trocas de conhecimentos
e experiências enriquecedoras.
i) Passe
algum tempo meditando – reserve momentos para “olhar
para dentro” de você, examinando seus pensamentos,
julgamentos e perceba como os sentimentos tendem a se
acalmar. Observe sua respiração e as respostas que seu
corpo dará.
j) Faça
uma atividade que alimente corpo, alma e mente – há
atividades que promovem relaxamento e outras, movimentos
corporais mais intensos, encontre a que mais lhe agrada
e vá em frente!
k) Escreva
um diário – anote: num caderno, num bloco de notas, no
celular, num meio eletrônico, os sentimentos e
pensamentos, após seus momentos meditativos, comparando
o processo evolutivo que vai se consolidando.
É fundamental ser verdadeiro nessa avaliação pessoal.
Essa última recomendação guarda correspondência com a
questão 919 “a”, de O Livro dos Espíritos? Pense
nisso!
Até aqui falamos apenas da meditação com foco na ação
plena, mas gostaríamos de falar sobre outras, de que
trata a matéria que deu origem aos presentes
comentários.
2 – MEDITAÇÃO GUIADA – trata-se de uma técnica
que sugere que o praticante forme imagens mentais e as
sensações que surjam, referentes a lugares, situações,
cheiros, sons, texturas, enquanto medita. Geralmente
envolve um guia ou professor, que vai dando orientações.
O instrutor auxilia o praticante a relaxar e atingir o
estado meditativo usando músicas ou outros sons, para
facilitar a concentração.
3 – MEDITAÇÃO FOCADA – “focar em algo”, com
intensidade, no momento atual, para desacelerar o
diálogo interno, a conversa mental, tão comum quando se
inicia esse tipo de investigação interior. O objetivo da
meditação focada é diferente da meditação clássica, onde
o executante não dirige pensamentos para algo em
específico, muito pelo contrário, é estimulado a
“esvaziar a mente”.
4 – MEDITAÇÃO COM MANTRAS - que é bastante comum,
onde são usados sons produzidos por instrumentos ou
músicas, palavras ou frases, que poderão ser repetidas,
conforme deseje o praticante, favorecendo a concentração
e sua manutenção. Os Mantras podem ser usados para
silenciar a mente ou para alcançar um determinado
objetivo de crescimento íntimo ou espiritual.
5 – MEDITAÇÃO NA CORRIDA - poderá ser feita com o
objetivo de combinar atividades essenciais para a saúde
do corpo e da mente: movimento e respiração conscientes;
e, além disso, aprimorar a desempenho do corpo físico.
Como o próprio nome sugere, é meditar enquanto corre,
observando os movimentos de respiração, o expirar e
inspirar, de forma lúcida e grata. Bastante interessante
notar, nesse movimento, todo o trabalho muscular, a
locomoção executada, toda a engrenagem que é mobilizada
durante a corrida, e encantar-se com a sincronia desse
organismo físico que usamos nessa jornada evolutiva.
Em movimento ou em estado contemplativo, a meditação
poderá ser executada. Existem vários tipos, para todos
os gostos e necessidades, encontre o seu “modo” e faça
essa viagem para “dentro”.
Ao meditar, o indivíduo pode demover de sua mente as
coisas exteriores que o afetam, tais como preocupações e
a algazarra do dia a dia, que tanto interferem na
qualidade de vida; bem como a ansiedade, que domina e
gerencia as relações interpessoais nos dias atuais; os
pensamentos acelerados, que constroem um ritmo de vida
que não permite uma experiência de ação plena e
gratificante.
Meditar é voltar-se para dentro de si mesmo, uma viagem
ao próprio interior, na busca de respostas para algumas
perguntas básicas, tais como: quem sou eu? Para onde
devo e posso ir? Com quem seguir nesses caminhos? Qual
meu papel no mundo, qual o objetivo de minha
reencarnação?
Tal introspecção incrementa a análise das respostas
vindas a partir das cogitações efetuadas, oriundas dos
pensamentos; ou pelo acesso às crenças e conceitos que
carregamos; ou ainda, pela ação de Amigos espirituais,
que aguardam por momentos preciosos de intimidade
conosco, nos oferecendo o auxílio necessário para aquilo
que buscamos.
A prece e a meditação são ações que se assemelham a
brechas que se abrem ao “EU INTERIOR”, descortinado
horizontes e paisagens até então desconhecidos. As
energias mentais geradas pelo ato de “cismar”, estão à
nossa disposição, para a construção de um “oásis de paz
e saúde”, que poderá ser visitado a qualquer momento.
Espíritos ilustres praticaram a meditação ao longo de
suas experiências corporais, no anseio por respostas às
suas inquietações. Escolhemos destacar alguns deles, nas
transcrições abaixo.
Na obra intitulada Ilumina-te, de Joanna de
Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, Capítulo
1, intitulado “Em Pleno Deserto”, há pontos preciosos,
sobre o ato de meditar e o processo de Autoconhecimento.
Assim nos descreve a Mentora: “A aridez do deserto de
alguma forma sempre atraiu o ser humano, especialmente
aquele necessitado de paz, em luta contínua pela
superação das tendências negativas e ansioso pelo
autoencontro.
Nas tradições do judaísmo encontramos Moisés com o povo
libertado da escravidão no Egito, vagando no deserto até
encontrar a terra prometida, quarenta anos depois...
“Antecipando o ministério de Jesus, João buscou a
solidão do deserto para impregnar-se da mensagem
precursora da Boa-Nova, adquirindo resistência física e
moral para os grandes enfrentamentos que o
aguardavam...”.
Joanna de Ângelis, Espírito, ainda nos relembra que
Jesus, aprontando-se para estar com as multidões
sedentas de conhecimento e alento, se refugiou no
deserto, por quarenta dias e quarenta noites, jejuando e
comungando com Deus.
Em se falando sobre Saulo de Tarso, o jovem rabino,
desejoso de trabalhar em si as forças morais para as
lutas que adviriam se manteve por três anos no Oásis de
Dan, organizando-se para a nova fase de experiências,
definitivas e redentoras, passando de Fariseu a Apostolo
dos Gentios.
Sócrates, um dos precursores da doutrina do Cristo,
permanecia por horas, em cogitações profundas no recanto
de sua Casa interior.
É ainda, na obra citada acima, que a Mentora esclarece:
“... O deserto, simbolicamente, pode ser comparado, em
uma metáfora, ao lugar ideal para a meditação profunda,
a fixação do pensamento sublime distante das distrações,
do imenso contingente das tentações...”
Quais seriam os benefícios da meditação para a saúde
mental?
No tratamento da ansiedade e da depressão, já foram
feitos estudos e obtidos resultados significativos,
observando-se que a meditação atua de maneira eficaz na
manutenção da saúde mental. Com esse manejo de “estudar”
os pensamentos, emoções e atitudes, pode o indivíduo,
manobrar de forma satisfatória seu comportamento,
aliviando a pressão cerebral que os pensamentos
recorrentes e conflituosos, geram no cérebro físico. Por
conseguinte, o corpo físico e o perispírito, seu molde
plástico e impressionável, podem receber, pela
meditação, cargas energéticas de alta qualidade, que
reverberarão no Espírito imortal que é.
Afirma Jason de Camargo, no livro Educação dos
Sentimentos, Capítulo 14, Hábito da Meditação, que:
“... todo ser humano deveria ter o seu ritual egoístico,
isto é, um momento de paz só para ele...” Logo, “... O
inconsciente irá incorporando outros elementos de saúde
mental e isso o tornará cada vez mais calmo e puro
interiormente...”
Encontramos em O Livro dos Espíritos as questões
919 e 919 “a”, onde Santo Agostinho nos sugere a prática
do Autoconhecimento, usando a meditação para acessar as
“sombras” que carregamos e as virtudes que já plantamos;
convocando-nos para as mudanças que devemos executar,
diariamente.
Encerrando as considerações a que nos propomos,
destacamos do livro Dentro de Mim, Capítulo 9, de
José Carlos de Lucca, Magistrado e Palestrante Espírita,
o seguinte conteúdo: “Quando a mente se aquieta, a alma
se expande, e a essência divina assume a gerência
amorosa do nosso Ser. “A meditação é o vento que sopra a
vela da alma”. Tenho certeza de que nossa vela carece
desse vento!
Fontes:
1 – Meditação e saúde mental – disponível
em LINK-1
2 – National Center of Complementary
and Integrative Health, disponível em LINK-2
3 – Harvard Health Publishing –
Harvard Medical School, disponível em LINK-3
4 – Meditação Mindfulness: o que é
e como praticar? Disponível em www.yopro.com.br
5 – O Livro dos Espíritos, Allan
Kardec;
6 - Ilumina-te, pelo Espírito
Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira
Franco;
7 – Dentro de mim, por José Carlos De
Lucca;
8 – Educação dos Sentimentos, por
Jason de Camargo.
*Artigo participante do Concurso A
Doutrina Explica 2023, promovido pelo Jornal Brasília
Espírita, em parceira com a revista O Consolador e
a Web Rádio Estação da Luz.
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