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por Bruno Abreu

 

O que temos de viver e o crescimento espiritual acontecem em nós


O Mestre Jesus diz-nos que toda a maldade nasce em nós, humanidade, e que toda a bondade existe em nós.

Quando vemos uma criança nascer e em tenra idade, não vemos maldade. Podemos até ver birras, mas não existe projeção de maldade, por isso, quando quiseram afastar as crianças do Mestre, este repreendeu, dizendo para que as deixassem passar até ele e que, quem não fosse como elas, não entraria no Reino dos Céus.

Trazemos a bondade de nossa natureza, como filhos de Deus, e com o passar da idade, vamos acumulando uma forma de ser e de estar que nos leva à maldade.

A vida é violenta e vai nascendo em nós formas de estar de defesa perante esta, que nos levam a um pensamento de isolamento e de existência separada do resto da humanidade. Este pensamento, que se torna numa forma de estar, a que a psicologia chama de Ego, faz-nos ter tendências mentais egoístas, nos separando do resto da humanidade.

Esta forma de funcionamento mental, que deturpa a nossa visão da vida, faz com que o rio dos pensamentos que aparecem em nós seja sempre a favor deste Ego, entidade fictícia terrena, em vez de serem a favor do todo.

Nossa forma de educação e vida das sociedades do nosso planeta, para além de viver desta forma autodestrutiva, educa todas as gerações a fazê-lo da mesma forma. Pressionamos nossos filhos a serem “alguém” na vida, pois merecem o melhor. Tem de conseguir tudo o que é bom e entrar em competição com tudo e com todos, incluindo a própria vida.

Nossos filhos crescem e tronam-se seguidores cegos deste “deus” Mamon, tal como nós. Até na Espiritualidade cultuamos esta forma de ser, pois queremos nos “safar” para um sítio melhor, não queremos ficar no umbral. Tornamo-nos “boas” pessoas, cheios de uma individualidade espiritual de “categoria”.

Kardec afirma que sem caridade não existe salvação. É o mesmo que dizer sem nos habituarmos a viver para o todo, para a humanidade, não sairemos da nossa prisão Egoica que nos leva a um fluxo hipnotizante de uma vida com o único sentido do retorno próprio.

Esta forma de estar, este Mamon, é invisível ao pensamento, por isso não nos apercebemos da direção que tomamos nem da motivação das ações que temos. Como Paulo de Tarso nos diz, estamos a dormir, entre os mortos e por isso Cristo não nos pode esclarecer. É um hipnotismo redundante que nos mantêm nesse estado.

Este é o jogo na reencarnação, acordar deste hipnotismo, ou como o Mestre disse, conhecer a verdade que nos tirará da ilusão.

A ideia do passado e do futuro, ajuda a manter esta ilusão de forma muito cerrada.

O passado construiu nosso caráter, nosso Ego, sem ele, este não existe, e a ideia do futuro leva-nos em direção a estas construções, alimentando esta forma de ser.

Tanto um como outro são ilusões. Criamos e mantemos a memória, através da forma-perceção, que é a forma como nós percebemos o que aconteceu e é esta forma como guardamos na memória. Portanto, pode ser muito diferente da forma como outra pessoa que passou pelo mesmo, percebeu, fazendo com que haja diferentes histórias da mesma situação. O outro, o futuro, é mais fácil de perceber que é uma ilusão, sempre imaginada com o que sabemos, ou seja, a avaliação do passado que projeta uma ideia sobre o futuro.

O que realmente existe é o presente. O passado é um pensamento, uma memória com base na forma-perceção e o futuro um outro pensamento, uma imaginação.

Mantermos o nosso ser concentrado nestes dois tempos fictícios, é permanecermos em nossa mente, hipnotizados pelo funcionamento do pensamento, que se torna tão intenso que algumas pessoas, vem toda a vida através deste, raramente vindo ao presente.

Para ter uma ideia sobre este assunto, o ódio é uma permanência numa ação ou situação que aconteceu no passado. Logo, é um reviver do passado, obrigatoriamente, através do pensamento, que nos leva constantemente aquela emoção. Se eu não fosse tão manipulado pelo passado, pelo pensamento, não sentiria o ódio com a mesma intensidade ou até, não o sentiria.

A situação é antiga, mas o pensamento traz para o presente o funcionamento emocional. Tal como o medo, é uma emoção de incerteza sobre uma ideia de futuro que nos assusta, que é um pensamento vivido no presente.

No pensamento tudo pode aparecer. O arquivo da memória, que serve para as coisas úteis, como a profissão, também serve para as inúteis, como ódio, raiva, orgulho, egoísmo, todas as perceções negativas e autodestrutivas que temos por alimentarmos e cultuarmos o Ego, ou a forma de viver direcionada a uma individualização.

Esta forma de viver é tão forte que mesmo quando temos boas ações, desinteressadas, a favor dos outros, como a caridade, já fora de tempo da realidade, como por exemplo de volta a casa, ouvimos em nossa mente “hoje tive bem”. O Orgulho a alimentar o Ego, na secção de “sou uma boa pessoa”. Qual a necessidade desta frase senão para polimento Egoico? Jesus alerta-nos para este perigo quando nos diz, não saiba a tua mão esquerda o que a direita fez.

Viver no presente, é viver em atenção ao que está a acontecer. Isto inclui o funcionamento de nossa mente, o pensamento automatizado. Viver neste tempo, oferta-nos a hipótese de percebermos o que nasce em nós, que nos pode levar a tentação, a um mau caminho.

Tudo na terra acontece no presente, mesmo o pensamento que tem por base o passado, como a lembrança de algo mau. Este passa a ser presente, através da emoção que é gerada em nós, embora seja um presente mental que é um caminho completamente diferente do presente da vida.

Toda a luta terrena, o crescimento espiritual ou evolução espiritual, o bem e o mal, acontecem dentro de nós, não existe fora de nós. O que parece estar fora de nós é uma ilusão, está dentro dos outros e quando temos consciência deste, passou a estar em nós.

A evolução planetária, a evolução do ser humano, tudo está em nós, cada um, tentando andar por si próprio.

O caminho é feito no presente, com atenção ou vigia ao que nasce em nós, com direção e intenção da ação em prol de todos.

Toda a luta para o crescimento espiritual é em nós, suportando as más tendências, mantendo o silêncio da resignação, indulgência e Fé, trabalhando e sendo caridosos.

““Eu” sou o caminho a verdade e a vida”, esta é uma outra forma verdadeira de ver o Eu mencionado por Jesus. Cada um de nós é o caminho, a verdade e a vida.

 

Bruno Abreu reside em Lisboa, Portugal.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita