A menina que não nasceu
Lemos há muitos anos em Seleções do Reader’s Digest de
fevereiro de 1966 uma página memorável intitulada “Um
diário inacabado”, de H.
Schwab.
O assunto ficou latejando em nosso inconsciente até que
resolvemos escrever um poema sobre ele e demos-lhe o
nome de “Diário de uma flor despetalada”. Ele apresenta
uma narrativa comovente sobre o ciclo de vida de uma
criança não nascida, expressa através do diário
imaginário da própria criança. No título é utilizada a
metáfora da flor para simbolizar a vida humana em seu
estado mais frágil e precioso, criando uma atmosfera de
ternura e sensibilidade ao longo dos versos.
A estrutura do poema, dividida em entradas datadas de
diário, contribui para a sensação de progressão temporal
e desenvolvimento do ser em gestação, desde a concepção
até o trágico desfecho. Cada entrada revela novas
descobertas e emoções da criança em formação, desde a
alegria inicial até a ansiedade pelo contato com os
pais.
A linguagem poética é simples e acessível,
característica que reforça a inocência e pureza do
nascituro, enquanto as rimas suaves e o ritmo cadenciado
conferem fluidez e harmonia ao poema. Destaca-se também
a repetição de temas como a relação com os pais e a
curiosidade sobre o mundo exterior, elementos que
reforçam a identificação emocional do leitor com a
narrativa.
No entanto, é o desfecho abrupto e chocante que
realmente impacta o leitor. Ele evoca uma mistura de
tristeza, indignação e reflexão sobre a fragilidade da
vida e as consequências de decisões tomadas de forma
precipitada e irresponsável. Esse final surpreendente
visa a transmitir uma mensagem poderosa sobre o valor e
a sacralidade da vida humana desde seu início mais
vulnerável.
Enfim, o poema combina uma narrativa delicada e poética
com uma profunda e impactante mensagem sobre a beleza e
a fragilidade da vida humana em seu estado mais
embrionário. Através de uma linguagem simples e
acessível, o poeta convida o leitor a refletir sobre
temas complexos como o amor, a perda e o valor da vida,
deixando uma marca indelével na consciência e na
sensibilidade de quem o lê.
DIÁRIO DE UMA
FLOR DESPETALADA
5 de outubro
Hoje eu estou tão contente!
Começou minha vidinha!
Sou pequenina semente,
E também sou menininha...
19 de outubro
Eu já cresci um pouquinho.
Mamãe sabe? Ainda não...
Mas eu estou bem pertinho
De seu meigo coração.
25 de outubro
Já se desenha a boquinha...
Vou sorrir muito amanhã!
A primeira palavrinha
Que vou dizer é... mamã.
31 de outubro
Sou pura como a açucena,
Mas já tenho uma vaidade:
Embora assim tão pequena,
Já sou gente de verdade!
3 de novembro
Sinto o coração batendo
E dando leves saltinhos...
Também já estão crescendo
As perninhas e os bracinhos!
7 de novembro
Meu coração vai parar
Um dia... eu não sei quando.
Mas pra que me preocupar?
Eu só estou começando!
16 de novembro
Vou crescendo cada dia
Um pouquinho... sempre mais,
E toda a minha alegria
É logo abraçar meus pais.
19 de novembro
Meus dedinhos são tão finos
E transparentes, meu Deus!
Mesmo assim tão pequeninos
Eu os adoro: são meus!
24 de novembro
Mamãe ouviu, com receio,
Do doutor, pela manhã,
Que já me traz no seu seio...
Você está bem, mamã?
8 de dezembro
Já quase vejo! Isso vai
Excitando este “bebê”:
Como será meu
papai?
Mamãe, como é você?
15 de dezembro
Meus olhos... são cor do céu,
Meus cabelos... cor de ouro.
Já tenho n’alma um troféu:
Meus papais são meu tesouro!
19 de dezembro
Logo, mamãe, quero estar
Abraçada ao seu colinho;
Também mal posso esperar
Pra lhe fazer um carinho!
24 de dezembro
Eu sinto o seu coração
Batendo juntinho ao meu.
Pode haver na Criação
Alguém mais feliz que eu?
25 de dezembro
Socorro! Estou
morrendo!...
O meu coração parou!
Ó meu Deus... não compreendo...
A minha mãe... me M-A-T-O-U!...
Mário
Frigéri é poeta, escritor, autor e youtuber com a mente
e o coração voltados para o esplendor do Evangelho e da
Doutrina Espírita. Reside em Campinas-SP.
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