A morte e a poltrona
Recentemente, a humanidade enfrentou, de novo, uma
pandemia devastadora por conta da propagação do vírus
covid-19. A ameaça ainda não terminou em função do
surgimento de novas mutações do vírus e ainda ocorrem
mortes. Além destas, também estão mais sujeitos a
desencarnar, todos aqueles que se recusaram em usar a
ciência para se imunizar, por razões variadas, não
tomando nenhuma das vacinas desenvolvidas com este
objetivo, até o presente.
Estima-se que tenham ocorrido quinze milhões de mortes
por conta desta pandemia.1
Para se ter uma ideia da devastação provocada por esta
ínfima criatura, durante os quase seis de anos de
duração da Segunda Guerra Mundial, houve entre sessenta
e setenta milhões de mortes, ou seja, o covid-19 ceifou
aproximadamente o equivalente a um quarto de vidas do
que foi registrado durante um conflito armado entre
dezenas de nações, que usaram todos os tipos de
armamentos conhecidos inclusive com o emprego de
artefatos nucleares.2
A humanidade desconhecia o grau de letalidade do vírus e
o seu desfecho final, mas, mesmo assim, por temor, as
famílias se isolaram em suas residências e os efeitos
colaterais, como violência doméstica e a pedofilia,
entre tantos, não demoraram a aparecer, causando outro
prejuízo incomensurável às sociedades.
Este verdadeiro pavor não deixou de atingir os espíritas
que fecharam rapidamente as portas dos centros, uma
atitude razoável e esperada, contudo, por medo de
morrer, se recusaram a abri-las a tempo, mesmo
depois de outras vertentes religiosas já estarem
funcionando normalmente, pois, a ciência, respondendo
prontamente a este novo desafio, por meio de suas
variadas vacinas, já havia tornado possível a imunização
da grande maioria dos que quiseram ser vacinados.
Esta atitude de ponderação e bom senso, mas de relativo
descuido com os adeptos quando se percebeu que o perigo
maior já havia passado, foi um verdadeiro desastre para
o movimento, pois os efeitos se fizeram vivos logo após
algumas tímidas instituições começarem a abrir suas
portas, eventualmente, apavoradas.
Isso tudo aconteceu em dois anos e foi o suficiente para
fechar incontáveis instituições, afastando inúmeros
trabalhadores e frequentadores que passaram a preferir assistir o
Espiritismo de suas confortáveis poltronas em suas
residências por meio de intermináveis lives.
É fato que a produção dessas lives mantiveram os
espíritas conectados, foram de inegável valor, mas,
houve excesso, pois os prejuízos são contados até os
dias de hoje por desanimados espíritas que fugiram das
casas intrigados com esta conduta ímpar: afinal, os
espíritas têm mais medo de morrer do que outros
religiosos? Qual foi o exemplo dado aos materialistas e
descrentes ao saber que alguns religiosos que defendiam
com fervor a existência de Deus, a imortalidade da alma,
a realidade da reencarnação, a pluralidade dos mundos
habitados, a comunicabilidade entre vivos e mortos, por
medo excessivo, se esconderam, iludidos de que não
poderiam morrer caso estivessem trancados em suas casas?
Foi uma situação singular.
Entretanto, caso observassem detidamente algumas
orientações vindas do Alto, registradas na rica
literatura espírita, teriam condições de se opor à ideia
de que estariam seguros em suas residências, imunes ao
vírus que penetrou todos os recintos, sem exceção,
portanto, poderia também se fazer presente em qualquer
ambiente, mesmo que as portas de acesso estivessem
trancadas a sete chaves!
Uma destas referências se encontra em obra datada de
1956:
É preferível que a morte nos surpreenda em serviço, a
esperarmos por ela numa poltrona de luxo.3
Há também esta orientação de 1964:
Mais vale chegar ao termo da jornada evangélica de
coração ralado, pés feridos e mãos calejadas, a sós, mas
tranquilo, do que ser surpreendido pela desencarnação
bem acondicionado no prazer e cercado de amigos que, no
entanto, nada poderão fazer por ti, em relação à
consciência em despertamento no pórtico da Imortalidade.4
Outra foi publicada em 1973 em uma mensagem intitulada
sugestivamente por: O ponto certo.
Ainda quando filosofias negativistas nos tenham
desfigurado o raciocínio ou palavra, se o perigo nos
ameaça, secreta intuição nos afirma que Deus zela por
nós e para Deus nos voltamos de imediato.
Enquanto isso ocorre, vale pensar na forma
aconselhável e justa de nos encomendarmos ao Criador.
Decerto que muitas maneiras existem de preparar
semelhante ato de confiança, tais como a oração que
sublima e o estudo que esclarece, o trabalho que realiza
e o entendimento que reconforta; entretanto, o modo
único de nos dirigirmos corretamente ao Pai que está nos
Céus, é aquele da prática do bem.
Não nos iludamos.
Mais dia, menos dia, todos sofrem.5 (grifos
nossos)
Dizem que o pior já passou, mas as lições devem
permanecer vivas por muito tempo.
A melhor forma de demonstrarmos a nossa crença se dá
pelo exemplo e, neste particular caso em exame, seria
oportuno meditarmos detidamente no ocorrido, pois estas
chamadas desgraças, nada mais representam do que
verificações de aprendizado, por meio de provas e
contundentes expiações.
Referências:
1 BBC
Brasil
2 Brasil
Escola
3 XAVIER,
Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito
Emmanuel. Estímulo fraternal. cap. 73.
4 FRANCO,
Divaldo Pereira. Messe de amor. Pelo Espírito
Joanna de Ângelis. Mesmo assim. cap. 24.
5 XAVIER,
Francisco Cândido. Segue-me. Pelo Espírito
Emmanuel. O ponto certo. cap. 20.