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por Eder Andrade

 

Desconhecimento da verdade espiritual


Em diversos momentos da História da Humanidade, a classe dominante vai se apoderar do conhecimento, escondendo ensinamentos da população em geral. Essa omissão não vai apenas frear o acesso ao conhecimento científico e religioso, mas impedir que boa parte da população tenha o direito de pensar de forma diferente ou fazer suas escolhas.

Vários povos do Oriente, durante a Antiguidade, utilizavam uma forma de governo conhecida como Modo de Produção Asiático, onde o governante era visto como um deus. A classe dos sacerdotes fazia a manutenção dessa crença, para os camponeses trabalharem nas obras públicas, construindo templos e palácios ou produzindo alimento para o governante. O caso mais clássico era o do Antigo Egito, onde o Faraó era visto como um deus ou filho dos deuses.

Durante a Alta e Baixa Idade Média, a Igreja controlava a cultura na Europa, cabendo à Cristandade determinar a noção de certo e errado. A coisa chegou a tal ponto, que no século XIV e XV, foi difundida a ideia de que a visão bíblica do Apocalipse de João Evangelista estava acontecendo na Europa, quando a peste, a fome, a guerra e os incêndios, passaram acontecer numa boa parte da Europa Ocidental.

A visão religiosa dos quatro cavaleiros do Apocalipse era vista por boa parte da população como um castigo de Deus aos pecados cometidos pela Humanidade. Apenas poucas pessoas tinham alcance de compreensão que um conjunto de fatores sociais e políticos estava produzindo catástrofes quase ao mesmo tempo, porém era explicado pela Cristandade de forma religiosa como o final dos tempos bíblicos.

No século XVI, mais uma vez a Igreja vai se opor a divulgação de um conhecimento que possa questionar a verdade defendida pela Cristandade, como a Teoria Geocêntrica, aceita desde a Antiguidade, elaborada pelo sábio Ptolomeu. A Igreja Católica defendia esse pensamento por estar de acordo com os textos bíblicos que colocavam o homem como figura central da criação divina. Estando o homem na Terra, portanto, teria que estar no centro do Universo.

Giordano Bruno e Galileu Galilei, estudiosos, matemáticos e astrônomos, com base nas observações astronômicas e cálculos matemáticos, afirmavam que a Terra não ficava no centro do Universo. Eles diziam que o Universo era infinito e defendiam a Teoria Heliocêntrica, em que o Sol ficava no centro do sistema solar e os planetas já conhecidos na época, como a Terra, giravam em seu redor em órbitas diferentes e as estrelas não estavam fixas no firmamento.

Essa teoria poderia enfraquecer a autoridade religiosa da Igreja, num período de grande mudança na Idade Moderna, como a expansão marítima e o surgimento do Protestantismo. Não era apenas uma mudança de ponto de vista, poderia enfraquecer a autoridade do Papa e os dogmas defendidos pela Igreja, independente de serem coerentes cientificamente ou não.

Dessa forma o Tribunal da Inquisição procurava reprimir as teorias diferentes, acusadas de heresias contra a Cristandade, enquanto o verdadeiro objetivo era impedir o acesso das pessoas comuns às verdades históricas, para garantir a manutenção no poder das antigas classes da nobreza e do alto clero.

Curiosamente essa política se arrastou durante muito tempo, até que no final da Idade Moderna quando a sociedade europeia estava mais interessada nas conquistas marítimas e nas riquezas das regiões coloniais, desvia sua atenção do cenário político europeu, abrindo oportunidades para mudanças.

 Após a morte de Luiz XIV na França em 1715, surgiu um movimento cultural liderado por pensadores e homens muito eruditos para a época, que ficou conhecido na História da Humanidade como Iluminismo e Enciclopedismo. Esse acontecimento representou uma grande cisão entre o mundo feudal e a sociedade moderna, principalmente com a decadência do absolutismo real.

A combinação desses acontecimentos representou uma profunda mudança cultural na sociedade europeia, onde novas ideias passaram a ser difundidas, não se aceitando mais a ultrapassada explicação medieval das interpretações das Santas Escrituras. Os pensadores no século XVIII, conhecido como século das luzes, passaram a exigir uma comprovação científica, até para os fenômenos da natureza.

Essa mudança de postura dos nobres em relação às ciências e à Igreja, promove uma grande guinada no conhecimento da Humanidade Ocidental, contribuindo para a derrubada do Antigo Regime ou do Absolutismo Real e promovendo a Revolução Francesa. O mundo não voltaria a ser mais o mesmo.

O cenário cultural e político da Europa, na primeira metade do século XIX, permitiu o surgimento de novas correntes de pensamento, abrindo espaço para que novas ideias fossem difundidas e aceitas. Essa foi a oportunidade que a espiritualidade precisava para promover fenômenos mediúnicos, que viessem a chamar atenção da população, em particular as Irmãs Fox em 1848 na cidade de Hydesville, no estado de Nova Iorque,

Na segunda metade do século XIX, os irmãos Davenport, uma dupla de médiuns norte-americanos de efeitos físicos, que se destacaram por terem criado o chamado "Gabinete Mediúnico", onde realizavam materializações em público, atraindo centenas de pessoas às casas de espetáculo da época. Realizavam fenômenos sobrenaturais chamando atenção das pessoas, como os acontecimentos de Hydesville.

A esses acontecimentos foi acrescido os fenômenos das Mesas Girantes que passaram a atrair multidões aos Salões em Paris. Esse foi o acontecimento culminante para que o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail tivesse contato com o fenômeno mediúnico.

Passou a estudá-lo de forma séria e científica, iniciando uma pesquisa detalhada que levou ao lançamento em 18 de abril de 1857 da 1a edição de O Livro dos Espíritos, sob o pseudônimo de Allan Kardec, que fora uma antiga reencarnação sua como druida na Gália.

Ele procurou explicar de forma simples e detalhada o conhecimento da Vida Futura, que a Boa Nova trazida pelo Cristo não tinha sido compreendida na sua essência. O Espiritismo era o Consolador Prometido por Jesus. Toda essa trajetória de séculos foi necessária para que o conhecimento passasse a ser oferecido a todos aqueles que o desejassem.


Bibliografia
:

1) Xavier, Francisco Cândido; Emmanuel; A Caminho da Luz (1938); FEB.

2) Biblioteca Época; Allan Kardec (Personagens que marcaram época); Ed. Globo.

3) Wikipédia (A enciclopédia livre).
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita