Cinco-marias

por Eugênia Pickina

 

Apreço pelo idioma


Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
 Manoel de Barros


Gosto de escrever. Na infância, desenhava e fazia versinhos, um bem querer pela palavra, um carinho profundo pelo idioma, o português, a “última flor do Lácio, inculta e bela”, segundo explicou o poeta Olavo Bilac.

Insisto com os pais: incentivem o amor pela língua, estimulem o falar correto, o respeito pelas regras e a evitação do mau uso das palavras e a comunicação violenta…

O modo como falamos, escrevemos, ou seja, nos comunicamos, muito influencia, marca, define a forma como convivemos, nutrimos vínculos e encontros e desencontros…

Desde cedo incentive seu filho ou sua filha a ler, escrever, criar versos soltos ou brincar de fazer rimas, tecer histórias, criar poesia. A arte nos salva quando estamos tristes e fortalece nosso humor e criatividade quando estamos nos dias bons.

Ninguém precisa tornar-se um Manoel de Barros para apreciar o português ou o bom hábito de cortejar as palavras, as regras de gramática, o sentido do português que encanta …

Escrever e falar de modo decente, rico, coerente, polido, ajudam o ser humano a bem conviver - e em casa, no trabalho, na pracinha, no parque, na festa da vizinha, no mundo da vida. Ganhamos todos!

Vou deixar aqui uns escritinhos que fiz e relacionados à minha infância… Abraços, meus queridos!

 

Picada de marimbondo


Sob o zumbido das abelhas,

depois de xeretar o roseiral,

subi na goiabeira.

Avistei o maracujá abundado em flor

mas distraída para o inseto ardido.

Naquela tarde, a picada do marimbondo

me ensinou a sofrer sem vergonha.

 

Doce de goiaba


Minha mãe apurava o doce no tacho,

o fogo aceso junto do tanque para não ter emergência nem perigo.

A gente almoçava as goiabas brancas,

embora fossem as vermelhas as preferidas.

No pomar, brincar de casinha

e pega-pega,

o dia grande escurecendo.

 

Manhã de meninazinha


Na sala, em frente à janela,

pintar ou brincar de casinha?

Almoçar arroz, tomate e feijão bolinha,

balançar na rede ouvindo histórias

de saci e bruxa muito malvada,

o futuro, ainda longe, aguardando

na outra porta.


Herança


Com minha mãe aprendi a ser forte,

apurar doce e ser honesta.

Com minha avó, a mãe dela,

fiz o laço com as rosas e a Virgem Maria.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita