Alguém já disse que a falta de perdão e de esquecimento
de injúrias tem sido a causa de muitos fracassos. Muitos
irmãos perdoam, dizem, mas não esquecem as ofensas
recebidas. Não sabem ou não podem esquecer. Por mais que
façam por onde, a ofensa, a ingratidão, a injustiça, que
ferem e magoam, não saem de suas mentes e de seus
corações.
Alguns confrades seguiram essa conversa depois de haverem
participado da sessão do Luiz Gonzaga, que fora como sempre
instrutiva. Nela, diante de uma grande assistência, o tema que
caiu foi a lição evangélica sobre o perdão e o esquecimento das
ofensas, que foi comentado por irmãos que tomaram parte na mesa.
A caminho para a casa do seu irmão André, Chico Xavier, que
ouvira a conversa, contou o seguinte:
- Há tempos, cerca de 20 anos ou menos, recebi uma grande ofensa
por parte de alguém a quem muito beneficiara. Calei-me, tendo
pedido a Jesus para me ajudar a não guardar mágoa pelo ofensor,
a não lhe querer mal e a esquecer a ofensa recebida. O ofensor
mudou-se de Pedro Leopoldo e não lhe soube mais notícias.
Esqueci-o de fato. Passado muito tempo, observei que um irmão
daqui não me era estranho, e, logo assim me via, escondia-se,
fugia de mim. Fiquei preocupado: teria eu feito a ele algum mal?
E esperei. Numa tarde, numa esquina de rua, encontramo-nos e fui
ao seu encontro e o abracei, dizendo-lhe: Que sucede? por que
foge de mim, será que o molestei alguma vez? O irmão, mostrando
nos olhos grande surpresa e comoção, me respondeu:
— Eu é que estou arrependido da ofensa que lhe fiz...
— Ofensa, não me lembro, quando, em que lugar?
— Há uns 20 anos, ali no bar.
Foi, então, que me lembrei da ofensa que, dentro de mim, estava
morta, porque Jesus me ajudara a esquecê-la... Abraçamo-nos. E,
de novo, caminhamos como bons irmãos.
A lição do caso nos comoveu, e valeu pela mais linda das lições
e pelo melhor dos remédios à nossa doença de não querermos
perdoar ou de não sabermos ou querermos esquecer ofensas
recebidas.
Do livro Lindos casos de Chico Xavier, de Ramiro Gama.
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