Artigos

por Bruno Abreu

 

O conhecimento e a sabedoria


A humanidade sempre tentou entender os profetas através das palavras, ou seja, através do conhecimento.

Jesus, energeticamente, zangava-se com os doutores da Lei, que conheciam muito bem as palavras, mas tinham pouca sabedoria no coração.

Chegou a afirmar que eram podres por dentro, embora se apresentassem muito aprumados por fora.

No campo tecnológico ou laboral, as palavras têm uma enorme função, a de passar o conhecimento ao longo das gerações, para que possamos continuar a evolução humana. Não seria lógico cada geração ter que iniciar do princípio cada área cientifica/tecnológica da humanidade.

Os cursos são precisamente a passagem desse conhecimento ao longo dos milénios, para que os mais jovens possam prosseguir.

No campo moral, podemos ver algumas exceções maravilhosas de seres que reencarnam na Terra e os chamamos de profetas ou iluminados, por sua sabedoria sobressair no meio dos outros.

Nunca tivemos um povo que fosse avançado moralmente, para que pudesse transmitir às novas gerações essa sabedoria e assim mantivesse um nível moral alto, como fazemos com a tecnologia.

A parte moral não funciona como o conhecimento científico ou tecnológico, que é transmitido de geração a geração. Por isso vemos pais bons cujos filhos apresentam baixa moral e pais maus que têm filhos de uma enorme moral.

A primeira história da Bíblia sobre a humanidade conta-nos como o conhecimento, na área moral, expulsou Adão e Eva do Paraíso. Retrata o conhecimento moral como a maçã da árvore do conhecimento e a sua “aquisição” a saída do paraíso.

O que é o conhecimento moral? Esse “engodo” ilusório que se tem tornado um veneno que maltrata a humanidade.

Podemos considerar o conhecimento moral como o conhecimento sobre o funcionamento da vida, sem que entre na parte tecnológica ou científica.

Se eu sei como funciona a vida, pode ser que muitos outros, que não pensam como eu, não saibam. Logo acontece o choque entre dois indivíduos, causando às vezes um conflito.

Se um marido sabe como a vida deve ser feita, ele impõe a sua esposa as suas ideias, causando a discussão entre o casal.

Mesmo dentro de nós, muitas vezes uma parte quer agir de uma maneira e entra em conflito com a moral ou vice-versa.

Se não está de acordo comigo, questione o que é o conhecimento moral?

O próprio Kardec nos diz que a Doutrina Espírita nos traz a parte científica e filosófica, e na parte moral deixa o assunto para o Evangelho de Jesus, pois este é a máxima na sabedoria moral.

Ele nos deixou uma frase ligada à parte moral que nos serve de “bandeira”: Fora da caridade não existe salvação. Não existe qualquer conhecimento nisso, pois o conhecimento é saber a frase de cor, a sabedoria é a ação na caridade, que não precisa de nenhum conhecimento. Mesmo que alguém não conheça a frase, se tiver um bom coração, pode fazer caridade, em especial, de forma natural.

No Evangelho de Jesus, todos os seus ensinamentos nos remetem para algo comum nos dois mandamentos que nos deixou: amar.

Podemos saber o Evangelho de cor e isso se chama conhecimento, mas sermos imunes às más tendências e agirmos com amor, como Jesus exemplificou, é sabedoria. Para isso não precisamos conhecer nem uma palavra, se tivermos o coração puro.

A indulgência, a resignação, o perdão, a fé, o amor e todos os ensinamentos do Mestre são práticas diárias que devemos manter em funcionamento, afastando de nós os impulsos e desejos que nos aparecem para as más tendências.

Estas práticas podem ser vistas em seres humildes que passam na terra, muitos deles servindo de inspiração a novas igrejas ou doutrinas, que depois escrevem milhares de palavras para transmitirem os seus “ensinamentos”.

Vivemos estes ciclos constantes de querermos aprender a parte moral através do conhecimento, sem nos apercebermos que esta forma de funcionamento é a causa dos conflitos terrenos, o que nos afasta da harmonia e felicidade.

Vemos esta situação entre os fiéis das religiões, ainda que tenham como base o mesmo profeta, como as cristãs.

Cada um acha que a sua é a melhor e a mais verdadeira, o que será que aprendem de diferente, dentro da moral, que os possam fazer sentir superiores aos outros?

Esta é apenas uma sensação de que estão no caminho certo, sensação de que as pessoas se apegam e necessitam para acharem que estão a fazer o que é correto e que isso lhes trará a recompensa futura, após a morte.

Ao termos esta sensação, acontece a “certeza” que nos motiva a arrogância de dizermos aos outros como devem fazer a vida e passamos o tempo a chocar com os outros.

Como podemos reverter esta situação na parte moral?

A primeira característica necessária é a humildade, sem esta é impossível. Esta característica tem que nos acompanhar o tempo todo e vai-se tornando mais forte conforme formos desenvolvendo e fortalecendo a parte moral.

Saber sobre a vida é apenas um engodo a arrogância, mas não saber sobre a vida é uma ideia que nos cria falta de confiança. Não podemos saber nem podemos não saber, o que deixa as coisas mais confusas em termos mentais.

A consciência disto remete-nos a uma forma de vida atenta ao presente, pois o saber ou não saber são ideias sobre o futuro, que de nada nos servem se vivermos no presente. Jesus dá-nos o exemplo dos lírios do campo, que não se preocupam com o amanhã, com o futuro, logo não constroem a sua personalidade com memórias do passado e ideias sobre o futuro.

Vivermos no presente afasta-nos do conhecimento moral que é ilusório e nos tem maltratado; e leva-nos à sabedoria de que a vida não cabe na nossa cabeça e que teremos de lidar com cada situação no presente, como uma situação nova, pois é o que é.

Esta consciência presente traz-nos a paz e a harmonia.

Pergunte a si próprio qual o conhecimento que tem de adquirir para viver envolto de amor, resignação e indulgência?


Bruno Abreu reside em Lisboa, Portugal.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita