Espiritismo
para crianças

por Marcela Prada

 

Tema: Coragem, solidariedade


O Leão cantor


A cidade estava em festa, o circo havia chegado, um circo grande, bonito, colorido, embandeirado.

Desfilava pela rua com seus melhores artistas: trapezistas, contorcionistas, mágicos, malabaristas...

A criançada gritava, numa incontida alegria, cada carro que passava, a multidão aplaudia.

O último era o maior, chamava mais atenção. O carro, todo enfeitado, era o carro do leão! Um leão de juba larga, que rugia impaciente. Ao seu lado, o domador, todo fardado, imponente!

Quando o desfile acabou, o povo bateu em retirada. Menos Mariazinha, uma menininha, que nem sequer foi notada. Curiosa, ela ficou e, pela passagem dos fundos, entrou.

Viu o grande picadeiro, os trapézios pendurados, viu um urso que dormia, depois de ter almoçado, mas eis que ouviu, de repente, um choro na jaula ao lado.

Ficou quietinha escutando. Era o leão chorando.

Tudo aquilo a assustava, pois nunca ouvira dizer que fera também chorava.

- Ah seu Leão, por que chora? Em que lhe posso ajudar? Diga logo, pois senão também começo a chorar.

E o leão, entre soluços, respondeu à boa menina:

- Ah, como eu sou infeliz, como é triste a minha sina, imagine que me obrigam a ser mau, mas, entretanto, o que eu quero é ser bonzinho, ir à escola, estudar canto!

Naquele momento, eis que surge o domador: o temível Dom Chibata, ao lado de outro senhor.

Assim que o pobre leão percebeu seu domador, deu um rugido tão forte que todo o circo tremeu. Mariazinha, ouvindo aquilo, amedrontada fugiu, mas escondeu-se num canto e bem caladinha ouviu:

- Este leão é terrível, vive rugindo, é feroz, se escapulir algum dia, engolirá todos nós!

Felizmente, o domador foi-se embora, e logo o leão se acalmou. E, mais cautelosa agora, a Mariazinha voltou.

- Que domador mentiroso, dizer isso de você. Um leãozinho tão manso, por que mentira? Por quê?

- É porque se eu não rugir, se não fingir que estou possesso, o público não aplaude e ele não faz sucesso.

- Então, por que não confessa de uma vez ao domador que já se cansou de ser mau e agora quer ser cantor?

- Nem pense nisso, amiguinha, que surra que eu levaria! E, certamente, do circo ele me despediria.

Mariazinha preocupada meditava sobre como proceder.

– Deus criou todos para a felicidade e livres para escolher. Mas... sem o leão, o circo poderia até morrer? E neste caso… os palhaços, contorcionistas e trapezistas, do que iriam viver?

Mariazinha estava insegura, pois queria ajudar. Fechou os olhos, respirou fundo, e começou a orar:

– Meu Deus, eu aqui peço, me ajude a decidir. Qual a decisão certa, o que fazer, como agir? Se o leão está na jaula, é porque Deus quer assim? Eu, tão pequena, cuido da minha vida, e o destino dele… não cabe a mim?

Foi, então, que um bom espírito, enviado por Jesus, chegou pertinho dela e lhe falou. Só que não foi com os ouvidos que ela escutou. O que ocorreu foi que ideias, que ela nem sabia se eram dela mesma, brotaram em sua alma, com grande calma e certeza.

Disse ele:

– Os males cessam quando nada mais têm a ensinar. É quando, então, surge quem já não os consegue tolerar. Deus age no mundo através das circunstâncias e de cada atitude boa. Alguém começará o mundo melhor… não perca a chance, Mariazinha, seja você esta pessoa!

Bem mais confiante, sentindo uma inspiração, Mariazinha decidiu voltar a falar com o leão.

- Eu tenho uma grande ideia e, se você aceitar, para a plateia esta noite você não vai rugir, vai cantar!

E Mariazinha explicou sua ideia ao leão, que feliz principiou a ensaiar sua canção.

Anoiteceu, e com a noite chegou a hora marcada de começar o espetáculo. Delirava a criançada.

A algazarra ia aumentando, e o dono do circo foi logo anunciando:

- Tenho agora, meus senhores, a grata satisfação de apresentar vários números da mais alta sensação.

Vieram, então, malabaristas, o urso dançarino, equilibristas, o número de mágica e os incríveis trapezistas.

Até que o dono do circo, disse com emoção:

- Apresentamos agora nossa maior atração: Dom Chibata, o corajoso e seu terrível leão!

A plateia aplaudiu, e Dom Chibata no picadeiro surgiu:

– Meus senhores e senhoras, vou agora apresentar o leão mais perigoso que eu já consegui domar. Se um dia eu me distrair na certa estarei perdido. Prestem bastante atenção ao seu terrível rugido!

Mas quando o leão entrou, que vergonha passou Dom Chibata… O leão não rugiu, entrou tranquilo, de colarinho e gravata!

Foi aquela gargalhada. Ninguém estava entendendo nada.

Dom Chibata, enfurecido, avançou para o leão, pois nunca sofrera na vida tamanha decepção. Mas, tomando a sua frente, Mariazinha foi ligeiro. Pulou rápido, gritando, no meio do picadeiro:

- Parem! Meus amigos, tenham pena do meu amigo leão, ele nunca foi de briga, ele é mesmo da canção. Eu garanto que ele é bom, mas se querem duvidar, sem chicote, sem cadeira, nesta jaula irei entrar.

Dom Chibata, sem esperar um segundo, gritou para todo mundo:       

- Esta menina está louca, chega a dar pena a coitada. Se ela entrar nesta jaula, vai ser devorada.

Contudo, naquele momento, no meio da confusão, Mariazinha entrou na jaula e se abraçou ao leão.

O pobre do Dom Chibata ficou pálido, coitado, ao ver seu leão feroz assim desmoralizado. Tentou dizer que o leão devia estar caducando, mas todo o povo do circo pôs-se a gritar reclamando:

- Queremos ouvir o leão cantar, queremos ouvir o leão cantar!

- Pois se querem que ele cante – disse o domador – cante! Eu não ponho embaraço, só não quero é que depois me culpem pelo fracasso!

Sem perder tempo o leão, feliz, cheio de alegria, saiu de dentro da jaula, e começou a cantoria. Quando o leão terminou, toda a plateia aplaudiu..

Foi um sucesso estrondoso, pois assim, nunca se viu. Porém, o mais engraçado, de todos, quem mais gostou, foi o próprio Dom Chibata, que emocionado gritou:

- Bravo, bravo, maravilha, sucesso fenomenal, eu garanto que no mundo nunca se viu coisa igual!

E imitando Mariazinha, cheio de terna emoção, no meio do picadeiro, abraçou-se ao leão:

- Meu leão, meu leãozinho, palavra de domador, nunca mais meterás medo. Agora serás cantor.

- Viva! - disse o leão feliz. – Obrigado, boa menina, sua vinda ao circo foi uma intervenção divina!

Por isso, meus amiguinhos, fica aqui esta lição: Fazer o bem exige coragem, coragem maior… que a de um leão.


Adaptação de Cristiana Prada da história O Leão Cantor – coleção disquinho.
 
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita