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por Eder Andrade

Desequilíbrio mental ou mediunidade


Durante muito tempo a Ciência, como a Medicina, não tinha como diagnosticar habilidades paranormais de uma pessoa com mediunidade de berço. Acabava infelizmente por rotular o indivíduo como um desequilibrado mental ou portador de uma doença hereditária.

Muitos sanatórios surgiram com o objetivo de acolher pessoas aparentemente ou não enfermas, com diagnósticos de esquizofrenia ou outras doenças mentais. Pessoas que escutavam vozes e conversavam com pessoas ou familiares que já haviam falecido.

Como a religião católica no passado era predominante, estabelecia as normas de conduta vigente e com isso muitas pessoas foram tachadas de perturbadas ou endemoniadas quando afirmavam que conversavam com os mortos.

Na Idade Média muitos médiuns naturais foram perseguidos pela Igreja e queimados em fogueiras pela Inquisição, acusados da prática da bruxaria assim como o exercício da magia negra quando entravam em contato com o mundo sobrenatural.

Na segunda metade do século XIX, Allan Kardec organiza a Terceira Revelação, lançando O Livro dos Médiuns em 1861, projetando uma luz de esclarecimento sobre o fenômeno mediúnico, assim como as faculdades mediúnicas.

Paralelo ao surgimento da Doutrina Espírita, o Mundo Ocidental acompanhou o aparecimento de fenômenos ou manifestações mediúnicas em lugares públicos, observadas e estudadas por muitas pessoas.

Podemos destacar o fenômeno das Irmãs Fox, ocorrido na cidade de Hydesville em 1848, assim como dos irmãos Davenport na cidade de Nova Iorque em 1864, ambos nos Estados Unidos, despertando a atenção da imprensa e saindo nas primeiras páginas de vários jornais da época.(1)

Ao mesmo tempo ocorria na Europa, em Paris, a manifestação das mesas girantes, quando em 1853 atingiram grande popularidade nos salões parisienses.(2)

A normatização dos fenômenos espirituais só foi possível a partir da metade do século XIX e início do século XX, principalmente após o lançamento de importantes obras como O Livro dos Espíritos de Allan Kardec, Depois da Morte de Léon Denis e A Loucura sob um novo prisma de Bezerra de Menezes.

Essas obras se complementam umas às outras procurando explicar o fenômeno da mediunidade e o seu desdobramento na vida das pessoas, assim como a visão espiritual da morte do corpo físico. Apesar de todas as dificuldades culturais, hoje podemos fazer uma anamnese e avaliar a natureza do problema pelo qual uma pessoa está passando, sem sermos preconceituosos.

O conhecimento científico permitiu aos interessados desenvolver uma visão holística, através de uma capacitação pessoal como autodidatas sobre determinados assuntos, fato que no século XIX era quase impossível por falta de material de consulta e de pesquisa.

Na virada do século XIX para o século XX no Brasil, ocorreu um fenômeno que vale a pena comentar e recordar. No Estado do Amazonas, na cidade de Parintins, existiu uma médium de efeitos físicos que chamou a atenção, não apenas do Brasil, mas também de pesquisadores estrangeiros, foi o caso de Anna Rabello Prado, que viveu de 1883 até 23 de abril de 1923, quando faleceu de um acidente doméstico.

Seu esposo, Eurípedes Prado, realizava reuniões espíritas em sua própria casa e se surpreendeu com uma mediunidade espontânea da própria esposa que se desenvolveu rapidamente, principalmente de efeitos físicos.

O conhecimento na época era escasso e todas as reuniões eram feitas quase que intuitivamente, devido ao pouco material de consulta disponível. Devido à forte influência da Igreja, ocorreu uma perseguição religiosa que acusava Anna Prado de usar truques ilusionistas em sessões feitas durante a luz do dia.

Em 28 de abril de 1921, numa sessão de materialização se manifestou o espírito de Rachel Figner, anteriormente desencarnada, na presença de seu pai, Frederico Figner, antigo Membro do Conselho Fiscal, Tesoureiro e Vice-Presidente da FEB na época.(3)

Os acontecimentos sob a ótica espírita permitiram anos depois, que a FEB editasse o livro O Trabalho dos Mortos de Nogueira de Farias, uma interessante obra que compilou e organizou todo o trabalho mediúnico desenvolvido por Anna Prado ao longo da sua vida. Entre várias fotos de materializações de espíritos e psicografias, temos uma entrevista com o Vice-Presidente da FEB, após presenciar a materialização da sua filha.(4)

Mais de um século já se passou e ainda encontramos muita dificuldade de entender a relação entre as doenças e a mediunidade. Allan Kardec procurou nos mostrar que desde a Antiguidade mais remota, Platão e Sócrates já discutiam a questão da imortalidade da alma e as questões pertinentes a alma e não necessariamente ao corpo, quando nos disse:

“- Os médicos não obtêm bons resultados na maior parte das doenças porque tratam somente do corpo, sem levar em consideração a alma. Se o todo não estiver bem, é impossível que uma parte dele esteja.

O Espiritismo explica as relações que existem entre a alma e o corpo, e prova que existe a reação incessante de um sobre o outro. Ele abre, assim, um novo caminho para a Ciência, mostrando-lhe a verdadeira causa de certas afecções e dando-lhe os meios de combatê-las. Quando a Ciência se der conta da ação do elemento espiritual no organismo ela fracassará muito menos”. (5)


Referências:

1) Doyle, Arthur Ig. Conan; A História do Espiritualismo (1926); IV - O episódio de Hydesville; X - Os Irmãos Davenport; Ed. Luz Espírita.

2) Wantuil, Zêus; As Mesas Girantes e o Espiritismo (1958); Cap. VI – Giram as mesas por toda a Europa em maio de 1853; FEB.

3) Magalhães, Samuel Nunes; A mulher que conversava com os mortos (2012); Cap. 5 - Materializações de Espíritos; FEB.

4) Farias. Nogueira de; O Trabalho dos Mortos (1943); 4a parte – Entrevista com o Sr. Frederico Figner – pág. 280; FEB; (Edição do Kindle).

5) Kardec, Allan; O Evangelho Segundo o Espiritismo; Introdução - It. IV - Resumo da Doutrina de Sócrates e de Platão (it. XIX); FEB. 

 

 

     
     

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