Um minuto
com Chico Xavier

por Regina Stella Spagnuolo

   

Foi na Federação Espírita Brasileira que o jornalista Clóvis Tavares viu Chico Xavier pela primeira vez. Mesmo se preparando para concursos e estudando muito, não deixava de frequentar as sessões doutrinárias das sextas-feiras nem de assistir às conferências dominicais na Casa de Ismael, na Avenida Passos. Ele nos relata quanto era confortador ouvir a palavra sábia e ponderada do saudoso Dr. Guillon Ribeiro, as interpretações judiciosas de Manuel Quintão, as palestras eruditas de Dr. Carlos Imbassahy, de Daniel Cristóvão, do professor Leopoldo Machado...

Relata Clóvis que numa sexta-feira, 12 de junho de 1936, subiu as escadas da Federação para assistir à palestra doutrinária da noite. O grande templo estava repleto. Quem calculasse uma assistência de mil pessoas não teria errado. Sentou-se e qual não foi sua surpresa, e surpresa para todos, quando foi anunciada, pelo presidente da sessão, a presença do jovem médium de Pedro Leopoldo, Francisco Cândido Xavier.

Um turbilhão de emoções inexplicáveis lhe envolveu a mente e o coração. Mal ouviu as palavras do diretor da Federação, antes da prece inicial, palavras que o “Reformador”, dias depois, transcreveria. Chico permanecia silencioso e cabisbaixo, sentado à grande mesa, dando a impressão de que aquelas palavras o incomodavam, ferindo sua humildade e simplicidade de espírito.

Clóvis, comovido, fitava aquele moço simpático, o jovem médium daquele “Parnaso” que tanto amava. Sentia, na indigência dos seus raciocínios sinceros e na ebulição silenciosa de sentimentos desconhecidos, que laços misteriosos e indefiníveis os uniam em espírito.

Permaneci perplexo, diz ele. Que régio presente dos Céus a presença do médium do “Parnaso” ali, diante de seus olhos, naquela noite maravilhosa. Em seguida, o moço de Minas Gerais começou a escrever. Escrever celeremente, páginas e mais páginas se sucediam sob o lápis ligeiro. Tudo aquilo era para Clóvis um quadro absolutamente insólito, inédito, maravilhoso, admirável.

Conta-nos que se recorda ter ouvido, com os olhos molhados de lágrimas, como tantos outros que não puderam dominar as emoções daquela noite memorável, o magnífico soneto que o grande poeta português João de Deus ofertou aos corações através do lápis prodigioso de Chico Xavier:

 

TEMPLO DA PAZ

 

Aqui é o templo augusto da Esperança,

De cujo abar o Espírito, se crê.

Em claridades doces entrevê

O País da Verdade e da Bonança!

 

Oásis de repouso, onde descansa

todo aquele que chora e que tem fé,

Templo divino que Ismael provê

de luminosa bem-aventurança.

 

Enquanto o mundo clama em desconforto,

O crente encontra aqui seguro porto,

Cheio de amor e fé, de vida e luz!

 

Templo de paz da vida verdadeira.

Santuário da Terra Brasileira

de onde se espalha o ensino de Jesus!

 

Ao soneto primoroso do grande bardo do Algarve, seguiu-se uma bela e profunda mensagem de Emmanuel, intitulada “Pela Revivescência do Cristianismo”, que a revista da FEB publicaria quatro dias depois. Ambas as produções mediúnicas foram lidas imediatamente para a grande assembleia da Casa de Ismael, todos cheios de profunda emoção.

 

Do livro Trinta anos com Chico Xavier, de Clóvis Tavares.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita