Heroísmo oculto
Terás ouvido narrativas em torno de feitos sublimes, nos
quais criaturas intrépidas ofereceram a própria
existência para salvar os outros, quais os que tombaram
na defesa da coletividade, em honra da justiça, e os que
foram surpreendidos pela desencarnação inesperada, em
louvor da ciência, ao perquirirem processos de socorro
aos sofrimentos da Humanidade.
Reverenciemos, sim, o nome dos que se esqueceram, a
benefício dos semelhantes; contudo, não nos será lícito
esquecer que existe um heroísmo obscuro, tão autêntico e
tão belo quanto aquele que assinala os protagonistas das
grandes façanhas, perante a morte — o heroísmo oculto
dos que sabem viver, dia por dia, no círculo estreito
das próprias obrigações, a despeito dos empecilhos e das
provações que os supliciam na estrada comum.
Pondera isso, quando os embaraços da vida te amarguem o
coração!… Certifica-te de que, se existem multidões na
Terra que aplaudem as demonstrações de coragem dos que
sabem morrer pelas causas nobres, existem multidões no
Mundo Espiritual que aplaudem os testemunhos da
compreensão e sacrifício dos que sabem viver, no auxílio
ao próximo, apagando-se, a pouco e pouco, em penhor do
levantamento de alguém ou da melhoria de alguns na arena
terrestre.
Reflitamos no assunto e observa a parte mais difícil da
existência que o Senhor te confiou…
Será ela talvez o cativeiro de obrigações domésticas
inadiáveis,
o conflito íntimo,
a condução laboriosa de um filho doente,
a tutela de um companheiro menos feliz,
a tolerância permanente para com o esposo ou a esposa em
desequilíbrio ou, ainda,
a responsabilidade pessoal e direta na garantia das
obras de benemerência e cultura, elevação e concórdia na
direção da comunidade.
A matrícula na escola do heroísmo silencioso está aberta
constantemente, a nós todos.
Revisemos a anotação do Divino Mestre: “Quem quiser
caminhar nos meus passos, renuncie a si mesmo, tome a
sua cruz e siga-me”.
Qual será e como será a cruz que te pesa nos ombros?
Seja ela qual for, lembra-te de que o Cristo de Deus nos
aguarda no monte da vitória e da redenção, esperando
tenhamos suficiente coragem para abraçar o heroísmo
oculto na fidelidade aos nossos próprios deveres até o
fim.
Do livro Alma e coração, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
|