A enigmática relação parental
contemporânea
Não há dúvida de que a ausência de palavras e frases
motivadoras, cada vez mais incomuns nos ambientes
domésticos, prejudica a relação parental. Raramente
observam-se muitos homens estimulando com palavras
edificantes suas mulheres e vice-versa, não se constata
regularmente chefes estimulando com sinceridade o
trabalho de seus subordinados, não é muito comum pais e
filhos estimulando-se com palavras afetuosas.
Óbvio que o bom profissional, inobstante não almeje,
valoriza uma palavra e estímulo , o bom filho gosta de
ser reconhecido, o bom pai ou a boa mãe exultam de ser
avaliados positivamente, o bom amigo, a boa dona de
casa, a mulher que se cuida, o homem que se dedica,
enfim, vivemos numa sociedade em que um precisa do
outro; é impossível um homem viver sozinho, e as
palavras motivadoras (que não pode resvalar para
elogios) são a oxigenação de ânimo na vida de qualquer
pessoa.
Desde que adentramos nos portais dos ensinos
kardecianos, aprendemos que o elogio (ainda que bem
intencionado) nos amolece e ilude. E nada existe de mais
frágil que uma criatura iludida a seu próprio respeito.
É verdade, os Benfeitores nos advertem a fim de que não
percamos nossa independência construtiva a troco de
considerações humanas (bajulações), posto que a
armadilha que pune o animal criminoso é igual à que
surpreende o canário negligente.
Até mesmo nos momentos de agruras de alguém, nas horas
difíceis, em que vemos um companheiro despenhar-se nas
sombras interiores, não olvidemos que, para auxiliá-lo,
é tão desaconselhável a condenação, quanto o elogio.
Sussurra a prudência cristã que nunca cederíamos campo à
vaidade se não vivêssemos reclamando o deletério
coquetel da lisonja ao nosso egocentrismo doentio.
Invariavelmente ficamos submissos às injunções sociais
quando buscamos aprovação (bajulações) dos outros,
quando permanecemos na posição de permanentes escravos e
pedintes do aplauso hipócrita e do verniz, da lisonja,
condicionando-nos a viver sem usufruir de liberdade de
consciência, submetendo-nos a ser manipulados pelos
juízos e opiniões alheias.
O elogio nos arremessa à presunção, a afetação nos
remete à vaidade. Nesse insofreável desejo de chamar a
atenção alheia, queremos ser aplaudidos e reverenciados
perante os outros. Atualmente adota-se assustadoramente
o hábito dos dirigentes incautos de elogiar e exaltar
oradores em público. Essas pompas e grandiloquências,
observadas à volta de alguns oradores famosos, é bem a
repetição dos faustos do cristianismo sem o Cristo.
A rigor, se alguém vem a público dizer que um orador é
"maravilhoso", "fantástico", "brilhante",
"inesquecível", "insubstituível" e outras bajulices,
logicamente está elogiando e jamais estimulando ou
motivando tal “homenageado”.
Por essas razões, importa vigiarmos as próprias
manifestações, não nos julgando indispensáveis e
preferindo a autocrítica ao autoelogio, recordando que o
exemplo da humildade é a maior força para a nossa
transformação moral. Toda presunção evidencia
afastamento do Evangelho.
É imprescindível não elogiar (adular) as pessoas que
estejam agindo de conformidade com as nossas
conveniências, para não lhes criar empecilhos à
caminhada enobrecedora, embora nos constitua dever
prestar-lhes assistência e carinho para que mais se
agigante nas boas obras. O elogio (adulação) é peçonha
em forma verbal. Por essa razão, não esqueçamos que
ainda quando provenha de círculos bem-intencionados,
urge recusar o tóxico da lisonja, pois no rastro do
orgulho, segue a ruína.
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