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por Jorge Hessen

A enigmática relação parental contemporânea


Não há dúvida de que a ausência de palavras e frases motivadoras, cada vez mais incomuns nos ambientes domésticos, prejudica a relação parental. Raramente observam-se muitos homens estimulando com palavras edificantes suas mulheres e vice-versa, não se constata regularmente chefes estimulando com sinceridade o trabalho de seus subordinados, não é muito comum pais e filhos estimulando-se com palavras afetuosas.

Óbvio que o bom profissional, inobstante não almeje, valoriza uma palavra e estímulo , o bom filho gosta de ser reconhecido, o bom pai ou a boa mãe exultam de ser avaliados positivamente, o bom amigo, a boa dona de casa, a mulher que se cuida, o homem que se dedica, enfim, vivemos numa sociedade em que um precisa do outro; é impossível um homem viver sozinho, e as palavras motivadoras (que não pode resvalar para elogios) são a oxigenação de ânimo na vida de qualquer pessoa.

Desde que adentramos nos portais dos ensinos kardecianos, aprendemos que o elogio (ainda que bem intencionado) nos amolece e ilude. E nada existe de mais frágil que uma criatura iludida a seu próprio respeito. É verdade, os Benfeitores nos advertem a fim de que não percamos nossa independência construtiva a troco de considerações humanas (bajulações), posto que a armadilha que pune o animal criminoso é igual à que surpreende o canário negligente.

Até mesmo nos momentos de agruras de alguém, nas horas difíceis, em que vemos um companheiro despenhar-se nas sombras interiores, não olvidemos que, para auxiliá-lo, é tão desaconselhável a condenação, quanto o elogio.

Sussurra a prudência cristã que nunca cederíamos campo à vaidade se não vivêssemos reclamando o deletério coquetel da lisonja ao nosso egocentrismo doentio.

Invariavelmente ficamos submissos às injunções sociais quando buscamos aprovação (bajulações) dos outros, quando permanecemos na posição de permanentes escravos e pedintes do aplauso hipócrita e do verniz, da lisonja, condicionando-nos a viver sem usufruir de liberdade de consciência, submetendo-nos a ser manipulados pelos juízos e opiniões alheias.

O elogio nos arremessa à presunção, a afetação nos remete à vaidade. Nesse insofreável desejo de chamar a atenção alheia, queremos ser aplaudidos e reverenciados perante os outros. Atualmente adota-se assustadoramente o hábito dos dirigentes incautos de elogiar e exaltar oradores em público. Essas pompas e grandiloquências, observadas à volta de alguns oradores famosos, é bem a repetição dos faustos do cristianismo sem o Cristo.

A rigor, se alguém vem a público dizer que um orador é "maravilhoso", "fantástico", "brilhante", "inesquecível", "insubstituível" e outras bajulices, logicamente está elogiando e jamais estimulando ou motivando tal “homenageado”.

Por essas razões, importa vigiarmos as próprias manifestações, não nos julgando indispensáveis e preferindo a autocrítica ao autoelogio, recordando que o exemplo da humildade é a maior força para a nossa transformação moral. Toda presunção evidencia afastamento do Evangelho.

É imprescindível não elogiar (adular) as pessoas que estejam agindo de conformidade com as nossas conveniências, para não lhes criar empecilhos à caminhada enobrecedora, embora nos constitua dever prestar-lhes assistência e carinho para que mais se agigante nas boas obras. O elogio (adulação) é peçonha em forma verbal. Por essa razão, não esqueçamos que ainda quando provenha de círculos bem-intencionados, urge recusar o tóxico da lisonja, pois no rastro do orgulho, segue a ruína. 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita