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por Eder Andrade

 

Esclarecimento e consolação


Existe um grande marco na História do Espiritismo no Brasil, o antes e o depois de Francisco Cândido Xavier. O Espiritismo na segunda metade do século XIX até à década de 1930 tinha um perfil específico, era frequentado por pesquisadores e curiosos.

Eram reduzidas as fontes de consulta para estudo e pesquisa, ficando limitadas a pouquíssimas pessoas que tinham condições financeiras para adquirir as poucas obras vendidas na época. Algumas precisavam ser encomendadas por reembolso postal.

Existiram grandes trabalhadores da Doutrina Espírita, que procuravam atender as pessoas humildes e necessitadas. Podemos destacar alguns, como Batuíra em São Paulo, Bezerra de Menezes no Rio de Janeiro, Eurípedes Barsanulfo em Sacramento e Cairbar Schutel em Matão. Eles tinham como material de estudo e pesquisa a codificação espírita e algumas obras de Léon Denis e Gabriel Delanne. Não podemos esquecer que esses personagens viveram no final do século XIX e início do século XX.

Os médiuns mais ostensivos da época trabalhavam por conta própria, contando às vezes com a improvisação. Existiam muitas agremiações espíritas, mas quase não havia reuniões de estudo doutrinário. A grande maioria eram reuniões mediúnicas para atendimento ao público em geral.

O trabalho era muito básico, influenciado pelos pesquisadores europeus sobre os fenômenos paranormais, que deixaram um legado surpreendente de informações e curiosidades. Muitas reuniões mediúnicas acabavam sendo improvisadas com a boa vontade dos participantes. Principalmente devido à influência de nomes como William Crookes, quando, em meados da década de 1870, conseguiu a materialização do espírito de Katie King, com ajuda da médium Florence Cook. (1)

Temos como exemplo o trabalho mediúnico de Ana Rebello Prado em Parintins, no estado do Amazonas, no início do séc. XX. Portadora de uma mediunidade de efeitos físicos fantástica, realizava materializações à luz do dia, em reuniões dirigidas por seu esposo, Eurípedes de Albuquerque Prado, atraindo muitos curiosos e a inimizade do clérigo local.

Essas reuniões públicas tinham uma assistência limitada, pois eram realizadas na sala da casa onde moravam. Os relatos são impressionantes de aparições de espíritos e das manifestações, que, segundo eles, eram experiências, com alternativas de êxito ou fracasso. Acabou, infelizmente, tornando-se um espetáculo que atraía apenas a curiosidade das pessoas na época. (2)

Quando Francisco Peixoto Lins, mais conhecido como Peixotinho, chegou a Pedro Leopoldo-MG em fevereiro de 1948 e assim apresentado a Chico Xavier, iniciaram-se uma série de materializações de efeitos físicos extraordinários, que marcaram a História do Espiritismo no Brasil. Os interessados em participar deviam seguir um rigoroso protocolo, ou seja, não comer carne, não fumar nem beber nos dias que iriam anteceder a reunião de materialização.

Essa experiência fantástica se encontra registrada no livro de Rafael Ranieri, Materializações Luminosas (4), com algumas fotografias e o depoimento na época das pessoas que presenciaram as materializações de entidades espirituais que se identificaram para as pessoas, como o caso da enfermeira alemã Scheilla, que permitiu ser fotografada, deixando a plateia perplexa por assistir a algo nunca visto em suas vidas.

O próprio Chico Xavier entre 1952-1953, animado com os fenômenos, passou a realizar sessões de materialização na casa do seu irmão André Xavier. As materializações feitas pelo Chico não eram não nítidas e densas, como as de Peixotinho. (3)

Ocorreram várias materializações, sendo que Emmanuel aproveitou para deixar uma mensagem de advertência a todos. A enfermeira Scheilla se materializou novamente e atendeu algumas pessoas que pediram ajuda a um amigo de Chico, Arnaldo Rocha, muito atuante no Espiritismo, na União Espírita Mineira (UEM), que ficou maravilhado quando Meimei se materializou. Ela havia sido sua esposa e desencarnara pouco tempo antes do fenômeno. (3)

Emmanuel nessa mesma época interveio nas reuniões de materializações, pois apesar de despertarem a curiosidade das pessoas, servindo para promover a divulgação do Espiritismo, elas fugiam ao verdadeiro compromisso que Chico Xavier havia assumido junto à espiritualidade, ou seja, promover o esclarecimento e a consolação dos necessitados.

O mais interessante disso tudo é que hoje essas reuniões são raríssimas, devido ao despreparo dos participantes, assim como ao nível de exigência para se obter um resultado semelhante aos obtidos no passado.

As reuniões de materialização que ainda acontecem no trabalho mediúnico são voltadas para cura e tratamento de enfermidades dos necessitados, exceção essa que Emmanuel admitiu ser a única que as justificaria. O número de médiuns de efeitos físicos e doadores de ectoplasma estão tornando-se cada vez mais raros.

No final do livro de Rafael Ranieri, encontramos a mensagem de Emmanuel, esclarecendo a mudança no curso das reuniões de materialização. Apesar de despertar a curiosidade das pessoas, não ajudava no processo de evangelização, pois a assistência estava mais interessada nos efeitos físicos, que deslumbravam os participantes. (4)


Referências
:

1) Doyle, Arthur Ig. Conan; A História do Espiritismo; Cap. XI - As pesquisas de Sir William Crookes (de 1870 até o ano de 1874); Ed. Luz Espírita.

2) Magalhães, Samuel Nunes; A Mulher que falava com os mortos (2012); Cap. 3 - Manifestações Iniciais; FEB.

3) Maior, Marcel Souto; As Vidas de Chico Xavier (Ed.2022): Cap. Humberto de Campos, o escândalo; Ed. Planeta. (Edição do Kindle).

4) Ranieri, Rafael Américo; Materializações Luminosas; Cap. VIII - Página de Emmanuel; Ed. FEESP.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita