Prece e obsessão
A Providência Divina, pelas providências humanas,
sustenta o amparo indiscriminado a todas as criaturas,
mas estatui a reciprocidade em todos os processos de
ação pelos quais a bondade da vida se manifesta.
Comparemos a prece e a obsessão ao anseio de saber e ao
tormento da ignorância.
O professor esclarece o discípulo, mas não lhe dispensa
a aplicação direta ao ensino. E se o aluno é surdo-mudo,
mesmo assim, para instruir-se, é obrigado a concentrar
muitas das possibilidades da visão e da audição nas
sutilezas do tato, se quer assimilar o que aprende.
Recorramos, ainda, à lição viva que surge, entre a
doença e o remédio.
Administrar-se-á medicamento ao enfermo, mas não se pode
eximi-lo do concurso necessário. E se o paciente não
consegue ou não deve acolher os recursos precisos,
através da boca, é constrangido a recebê-los por
intermédio dos poros, das veias ou de outros canais do
corpo.
Todo socorro essencial ao veículo físico reclama a
participação do veículo físico.
Ninguém extingue a própria fome pelo esôfago alheio.
Assim, também, nas necessidades do espírito.
Na desobsessão, a prece indica a atividade libertadora,
no entanto não exonera o interessado da obrigação de
renovar-se pelo serviço e pelo estudo, a fim de que se
lhe areje a casa íntima, de vez que todos aqueles que se
acumpliciaram conosco, na prática do mal, em existências
passadas, somente se transformam para o bem, quando nos
identificam o esforço, por vezes difícil e doloroso, da
nossa reeducação, na prática do bem.
*
Resumindo, imaginemos o irmão obsidiado, ainda lúcido,
como sendo prisioneiro da própria mente, convertida
então em cela escura e comparemos o socorro espiritual à
lâmpada generosa.
Obsessão é o bolo pestífero transformado em caprichoso
ferrolho na sombra. Oração é luz que se acende.
A claridade traça a orientação do que se tem a fazer,
mas o detento é chamado a tomar a iniciativa do trabalho
para libertar a si mesmo, removendo corajosamente o
tenebroso foco de atração.
Ref.: A Gênese — Cap. XIV —
Item 46, autoria de Allan Kardec.
Do livro Opinião
espírita, mensagem psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier.
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