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por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo

 

A oração mais repetida pelos cristãos


Ao ensinar o Pai Nosso, Jesus nos conclamou: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.” (1). Esta súplica, entoada por milhões de vozes ao longo dos séculos, carrega um convite à misericórdia – não apenas para com os que nos cercam, mas também para conosco e para com aqueles que já partiram. Pois, para seguir adiante, é preciso acertar os passos com aqueles a quem devemos e de quem, de alguma forma, nos afastamos. Esse gesto é um ato de libertação mútua: ao perdoar, libertamos o outro e, ao mesmo tempo, nos libertamos.

Nenhum barco singra os mares rumo a novos destinos se permanece preso ao cais. Assim também somos nós, quando nos recusamos a soltar as amarras do ressentimento. A lição do Cristo nos exorta a tolerar, não sete, mas setenta vezes sete vezes, permanentemente, superando os aborrecimentos. Enquanto insistimos em ancorar a alma no passado, atados a velhos desafetos, esquecemos que a vida é travessia. O vento sopra, as marés mudam, e o oceano da existência nos convida a zarpar. Você já pensou nisso?

Perdoar é essencial, um passo decisivo em nossa jornada de evolução. Allan Kardec nos lembra que “as boas ações são a melhor prece, porque os atos valem mais que as palavras.” (2) O perdão, porém, não é um simples gesto, mas um exercício contínuo da alma – um aprendizado que exige esforço e intenção. Não significa apagar da memória, mas libertar-se do desejo de revanche, permitindo que o coração siga adiante, leve como um barco que solta as amarras e se entrega ao vento.

São inúmeros os benefícios do perdão, e a ciência já aponta alguns deles como terapêuticos. Pessoas que guardam mágoas adoecem com mais frequência, e essa amargura crônica pode levar à depressão e a desequilíbrios emocionais. Relevar a ofensa é fundamental para nossa saúde mental, pois elimina a raiva, a aversão, a antipatia e outros sentimentos negativos, seja contra outrem ou contra nós mesmos.

O doutor Cajazeiras (3) afirma que, quando não ressignificamos e nos fixamos em ofensas, cada vez que revivemos a memória da afronta, nosso corpo sofre estresse como se o acontecimento se repetisse, desencadeando repetidamente substâncias químicas negativas. Inclusive, quando comentamos com alguém esses fatos, alimentamos essa dor.

O perdão e o esquecimento, através do bem, devem caminhar juntos, conforme a recomendação de Jesus: “Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele” (4). Isso nos leva a refletir: não revidar, mas orar pelo desafeto; compreender que erramos e, muitas vezes, ferimos os outros por nossa ignorância, irracionalidade ou agressividade; auxiliar quem nos ofende, para que ele se restaure. Pois a serenidade do silêncio e a prece são antídotos para evitar a retaliação.

Paulo, o apóstolo, voltou à Terra por meio da psicografia para nos aconselhar: “Não esqueçais que o verdadeiro perdão se reconhece antes pelos atos do que pelas palavras.” (5)


1)
 Jesus (Mateus 6:12) – Bíblia Online ACF

2) O Livro dos Espíritos, questão 661 – Editora EME

3) O valor terapêutico do perdão – Editora EME

4) Jesus (Mateus 5:25) – Bíblia Online ACF

5) O Evangelho segundo o Espiritismo (Paulo, apóstolo. Lyon, 1861.) – Editora EME


O autor é diretor da Editora EME.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita