Artigos

por Mário Frigéri

 

Desvelando a essência do ser


Leio no livro Viajor, de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier, uma página antológica intitulada “O olhar de Jesus”. A mensagem convida à reflexão sobre a maneira como se deve olhar para os outros, destacando a necessidade de substituir o julgamento pela compreensão. A visão esclarecida daquele que ama não se prende às imperfeições momentâneas alheias, mas sim à essência transformadora que habita em cada ser. Enquanto a tendência humana inclina-se frequentemente para a condenação e a censura, a verdadeira sabedoria consiste em enxergar além das falhas aparentes, reconhecendo, em cada criatura, um potencial latente para o crescimento espiritual.

O texto assinala que uma visão iluminada percebe no erro não um fator definitivo de condenação, mas uma etapa de aprendizado e superação. As personagens citadas por Emmanuel exemplificam essa perspectiva elevada: o homem que reencontra a luz, a mulher que resgata sua dignidade, o administrador que refaz seus princípios, o discípulo que amadurece após a queda e até mesmo aquele que cedeu à ilusão, mas não ficou esquecido no amor misericordioso. Esses exemplos revelam que a grandeza do entendimento não está em registrar a falta, mas em promover a restauração do ser.

Ao considerar essa abordagem, compreende-se que a verdadeira justiça não se expressa pela punição cega, mas pelo auxílio que conduz à regeneração. O olhar da sabedoria não exclui a responsabilidade moral dos atos, mas propõe que toda consciência em desatino carece, antes de tudo, de orientação e amparo para reencontrar seu caminho. A crítica destrutiva, portanto, se torna instrumento contraproducente, ao passo que o auxílio fraterno fortalece o ser na construção de sua própria redenção.

Por fim, o chamado à transformação pessoal encerra a mensagem com um desafio profundo: aprender a ver como aquele que ama integralmente. O convite do Cristo é, sim, para admirar uma conduta sublime, mas sem esquecer que, acima de tudo, é para integrá-la ao próprio olhar. Quando a compaixão substituir a censura e o auxílio tomar o lugar da indiferença, a Humanidade terá dado um passo fundamental para a verdadeira fraternidade. Nesse estado de consciência ampliada, cada ser será visto não pelo que ainda lhe falta para completar seu caráter, mas pelo esplendor que pode alcançar ao assimilar os benefícios da luz divina. É tudo isso que procuramos traduzir no seguinte poema:


O olhar de Jesus


Recordemos o olhar pleno de amor                 

E compreensão de Nosso Salvador,

A fim de não nos preocupar o argueiro

Que às vezes turva o olhar de um companheiro.

 

No cego Bartimeu, de Jericó,

Jesus não vê densas trevas, tão só,

Mas sim o amigo que anseia enxergar

Para as riquezas de Deus vivenciar.

 

Em Madalena vê a mulher sofrida,

Pelos demônios da sombra possuída,

E lhe restaura o coração dileto,

Para anunciá-Lo, um dia, ressurreto.

 

Não vê em Zaqueu o expoente da usura,

Mas o emissário que os bens enclausura,

E lhe devolve o trabalho e a razão

À sábia e justa administração.

 

Pedro não é, na negativa instante,

O amigo fraco, e sim invigilante,

A Lhe exigir compreensão permanente,

Até ser luz no Evangelho nascente.


Não vê o ingrato em Judas, mas o irmão

Que se traiu pela própria ilusão,

E ao perdoá-lo, estende à Humanidade

O Seu Amor-Perdão, de Idade a Idade.

 

Busquemos algo do olhar de Jesus

Para banhar nossos olhos de luz,

E toda crítica ou maledicência

Será banida de nossa consciência.

 

Porque teremos, então, atingido

Grande Entendimento prometido,

Que nos fará sentir em cada irmão

Alguém credor de auxílio e compaixão.

 

E, assim, no olhar, em branda semiluz,

Teremos algo do olhar de Jesus...


Mário Frigéri é poeta, escritor, autor e youtuber com a mente e o coração voltados para o esplendor do Evangelho e da Doutrina Espírita. Campinas-SP.
 
 

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita