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por Wellington Balbo

 

A benevolência que não faz seleção...


É muito comum após as palestras que realizo nos centros espíritas, mais especificamente nos bastidores, surgirem perguntas referentes ao momento em que vivemos.

Como, por exemplo, lidar com divergências de toda ordem de maneira leve e respeitar o ponto de vista alheio? Em geral, a tendência é fazer com que nossa forma de ver o mundo vença a disputa retórica, afinal, quem não quer ter razão? Quem não quer bradar aos quatro ventos que ganhou um debate verbal?

Entretanto, quando temos o Espiritismo a nortear nossa conduta é muito mais coerente buscarmos a verdade ao invés de uma vitória que pode até ser considerada de Pirro.

Os Espíritos, aliás, ajudam nesta tarefa de fazer com que respeitemos todos, principalmente aqueles que em determinados momentos estão a divergir de nós.

Pois bem, essa ajuda dos Espíritos encontra-se em O Livro dos Espíritos, na questão 886.

Dizem os Espíritos a Kardec que o sentido da caridade conforme entendia Jesus é:

Benevolência para com todos, indulgência às faltas alheias e perdão das ofensas.

Os Espíritos poderiam ter parado na benevolência com todos que a resposta já estaria perfeita, o que vem depois trata-se de algo a mais.

Percebam que a benevolência é geral, não importa se torce para o time A ou B ou se vota em A ou B.

Aliás, a grande beleza da benevolência é para com o divergente.

A generosidade se faz mais bela quando direcionada aos adversários no campo das ideias. Qual o mérito, aliás, de ser benevolente com quem pensa como nós? O mérito é pequeno, até porque é um processo um tanto quanto narcísico, pois ao celebrar junto ao convergente a benevolência estamos, de certo modo, olhando para o espelho.

O ponto é que, quase sempre, nossa benevolência é seletiva: aos amigos a caridade, aos adversários minha implacável perseguição.

Se o pensar caracteriza a individualidade do sujeito, não dispensar ao outro benevolência é querer apagá-lo do mundo, é não permitir com que seu pensamento possa transitar e isto, por si, é um atentado contra a liberdade; liberdade, inclusive, impressa e explicada nas páginas de O Livro dos Espíritos.

A realidade é que quando nego ao outro o direito de existir o que menos sou é benevolente. E existir implica em ter o direito de pensar o oposto do que, a propósito, pensa a maioria. A benevolência, contudo, não necessita dizer “sim” ao que lhe traí, ao contrário disso, a benevolência permite-nos também discordar. Não se chama benevolência a concordância apenas para agradar ou impedir o conflito, isto seria um contrassenso, chama-se benevolência o ato de respeitar e dar dignidade ao pensamento alheio mesmo que este nos contrarie.

A propósito, você, eu, nós, estamos dispostos a "conceder", de forma benevolente, o direito ao outro de existir?

Um ponto a pensar...


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita