Uma amiga nos perguntou que
pensamos a respeito da
existência de idéias
supostamente racistas
contidas no livro Obras
Póstumas, de Allan
Kardec, e respondemos-lhe o
seguinte:
1. O livro Obras
Póstumas não foi
publicado por Kardec.
Trata-se de textos, a
maioria de natureza
histórica, que ele não
publicou por tratar-se, em
grande parte dos casos, de
reflexões íntimas, pessoais,
que não se enquadram – nem
se enquadravam – no que
chamamos de Doutrina
Espírita. Os critérios da
generalidade e da
universalidade do ensino são
pontos indispensáveis para
caracterizar determinado
ensino como sendo espírita,
conforme está dito
claramente na introdução d´O
Evangelho segundo o
Espiritismo e em
A Gênese.
2. Não há na Doutrina
Espírita nada que nos faça
supor a existência de ranço
racista. Ao contrário.
Ensina o Espiritismo que os
Espíritos podem reencarnar
homens ou mulheres, negros
ou brancos, ricos ou pobres,
árabes ou judeus,
brasileiros ou argentinos, o
que mostra, inequivocamente,
que essas disputas
regionais, nacionalistas ou
de classes não passam de
bobagens. No caso, por
exemplo, da escravidão no
Brasil e do racismo no meio
espírita, é bom que as
pessoas leiam a entrevista
que nos foi concedida pelo
confrade José Raul Teixeira,
publicada na edição 5 da
revista O Consolador.
(A entrevista
pode ser vista neste
endereço:
http://www.oconsolador.com.br/5/entrevista.html/.)
3. Se o Espírito pode
reencarnar num corpo de pele
negra, amarela ou branca,
isso significa que é uma
infantilidade incentivar ou
tentar vislumbrar em nosso
meio o racismo.
4. Kardec, evidentemente,
não era e não poderia ser
racista. O que tentou dizer
não se aplica aos Espíritos
que animam nossos corpos.
Ele se referia ao grau
evolutivo alcançado por
determinadas culturas.
Alguém discorda de que o
grau evolutivo das tribos
indígenas do Xingu
encontra-se num nível
inferior ao de uma grande
nação européia? Claro que
não, e isso nada tem que ver
com racismo. No entanto,
pode estar reencarnado em
algumas dessas tribos
Espíritos de alta
envergadura intelectual e
moral, presentes ali em
tarefa missionária, com
vistas a apressar o
progresso intelectual e
moral daquele povo em seu
conjunto.
5. Em O Evangelho
segundo o Espiritismo,
Santo Agostinho dá-nos uma
pista do que Kardec
pretendeu dizer. No capítulo
III dessa obra lemos que os
planetas dividem-se em cinco
categorias e que nos
chamados mundos de expiação
e provas, que é a atual
condição da Terra, o mal
predomina. Essa é a razão
por que neste planeta o
homem vive a braços com
tantas misérias, mas não
explica, por si só, os
desníveis culturais, sociais
e econômicos que distinguem
a Mauritânia e a Bélgica, só
para citar um exemplo.
6. A
explicação para esse fato
encontramos numa outra
informação assinada por
Santo Agostinho, que nos diz
que na Terra os Espíritos em
expiação são, se assim se
pode dizer, seres
estrangeiros, indivíduos que
já viveram em outros mundos.
Mas nem todos os Espíritos
que se encarnam neste
planeta vêm para cá em
processo de expiação. As
raças que chamamos selvagens
são formadas de Espíritos
que apenas saíram da
infância espiritual e que na
Terra se acham, por assim
dizer, em curso de educação,
para se desenvolverem pelo
contacto com Espíritos mais
adiantados. Observemos o
vocábulo saíram, para
compreendermos que ele está
se referindo a Espíritos
jovens, estudantes que estão
começando agora seu processo
evolutivo na chamada
humanidade. E há ainda, um
grau acima delas, as raças
semicivilizadas,
constituídas desses mesmos
Espíritos em via de
progresso, as quais são, de
certo modo, raças indígenas
da Terra, que aqui se
elevaram pouco a pouco, em
longos períodos seculares.
7. Ressalve-se nos textos
referidos no item 6
tão-somente o vocábulo
raça, que hoje não seria
usado por sua impropriedade,
visto que a Ciência
demonstrou que existe apenas
uma raça no globo, a raça
humana. Na época da
Codificação do Espiritismo
não existia essa concepção a
respeito de raça e Santo
Agostinho, para se fazer
compreendido, valeu-se dos
termos usuais na ocasião,
como é comum no processo de
comunicação entre os vivos e
os mortos.
8. Finalizando, é bom
lembrar que a lei do
progresso abarca toda a
criação e, por isso, ninguém
– seja o mais miserável dos
habitantes do Nordeste
brasileiro, seja o mais
humilde irmão da Mauritânia
– estará excluído da
possibilidade de um dia
chegar à meta, que é a
perfeição, como está dito
com toda a clareza na
questão 116 d´ O Livro
dos Espíritos.
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