RENATO COSTA
rsncosta@terra.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
Homens néscios
Em sua poesia "Hombres
Necios" (Homens
Néscios) Sóror
Juana Inés de la
Cruz, grande
poetisa
hispano-mexicana
do século XVII,
uma das
encarnações de
Joanna de
Ângelis
–
mentora do
querido médium,
escritor, orador
e obreiro do bem
Divaldo Pereira
Franco
–,
mestra e
benfeitora de
todos nós, acusa
os homens de sua
época de serem
inconseqüentes
ao acusarem as
mulheres por
atitudes por
eles mesmos
causadas. É
evidente que,
naquela época,
como hoje e em
todos os tempos,
havia homens em
todos os degraus
de evolução e,
certamente, a
poetisa estava
ciente de que
aquilo que disse
em verso se
referia a uma
maioria e não à
totalidade
deles.
A poesia de
Sóror Juana nos
veio à mente há
alguns anos
diante da
badalação da
obra O
Código da Vinci
e do
argumento
central nela
contido, o de
que Jesus
ter-se-ia casado
com Maria de
Magdala e tido
filhos com ela.
Trata-se, como
todos sabem, de
uma obra de
ficção, no
entanto, não foi
imaginada na
íntegra pelo
autor Dan Brown,
uma vez que sua
tese central vem
de longa data,
da Idade Média
ou de épocas
ainda mais
remotas.
Talvez tenhamos
um vislumbre de
onde tudo se
originou,
recorrendo ao
chamado
Evangelho de
Maria, um texto
gnóstico
encontrado no
Codex Akhmin,
adquirido pelo
Dr. Carl
Rheinhardt na
cidade do Cairo
em 1896. Nesse
evangelho
singular, cujo
conteúdo
evidencia ter
sido escrito por
seguidores de
Maria de
Magdala, que
fica
caracterizada,
assim, como
apóstola,
fica-se sabendo
que os apóstolos
homens, Pedro,
em particular,
tinham ciúmes de
Maria e não
aceitavam que
Jesus ensinasse
a uma mulher
coisas que não
ensinava a eles.
Pouco poderíamos
concluir tendo
como fonte
apenas o
testemunho de
seguidores da
própria. No
entanto, é no
próprio Novo
Testamento
aceito pela
Igreja Católica
e pelas Igrejas
Evangélicas que
se verifica que
havia uma forte
resistência dos
apóstolos homens
e da nascente
comunidade
cristã contra a
participação das
mulheres no
apostolado. Uma
leitura de
qualquer dos
quatro
evangelhos nos
mostra que um
grupo de
mulheres,
incluindo Maria,
mãe de Jesus,
Maria de
Magdala, Joana
de Cusa, Susana
e Maria, mãe de
Tiago, seguiam
Jesus
constantemente
em suas
pregações. Eram,
portanto, tão
discípulas
quanto Pedro,
Tiago ou André
e, dificilmente,
Jesus as teria
deixado de lado
na missão
apostólica, uma
vez que o Mestre
jamais
demonstrou
qualquer espécie
de preconceito
em suas atitudes
nem corroborou
em momento algum
que se os
tivesse em seus
ensinamentos.
Entretanto, em
contradição com
esse
entendimento, os
evangelhos se
referem a apenas
doze homens como
apóstolos, dando
a entender que
Jesus não
confiava nas
mulheres para
divulgar sua
mensagem.
Ocorre que,
naquela época,
como ainda hoje,
mesmo que em
menor escala, a
humanidade era
profundamente
machista, sempre
relegando a
mulher à função
reprodutiva. É
de se notar,
nesse sentido,
que a veneração
por Maria, mãe
de Jesus, é em
grande parte
devida ao fato
de ela ter sido
mãe de Jesus e
não às suas
virtudes morais
e intelectuais.
Outra
mentalidade que
certamente
existia na época
e persiste nos
dias atuais é a
de que não
existe amizade
entre homem e
mulher, o único
motivo de
aproximação
possível entre
os dois sendo o
interesse
sexual. Não é
surpresa,
portanto, que
pessoas que
assim pensem
ainda hoje levem
a sério a
hipótese de que
Jesus e Maria de
Magdala casaram
e tiveram
filhos. São os
“homens néscios”
a que se referia
Sóror Juana.
Eles pensam que
todos agem da
mesma forma que
eles e assim não
aceitam que haja
pessoas que
pensem e ajam de
forma diferente,
projetando nos
outros sua forma
de ser.
Por que dizemos
que a razão e o
bom senso nos
indicam que o
casamento de
Jesus nunca
aconteceu? É
simples, basta
analisarmos a
vida de outros
grandes
mensageiros,
homens e
mulheres que a
história
registrou, e
verificaremos
que todos
ficaram
solteiros. O
casamento e a
criação de
filhos implicam
responsabilidades
que tomam grande
parte do tempo
das pessoas de
bem, pois tais
pessoas vêem no
bem-estar e na
evolução de sua
família sua
principal
missão. É por
isso que nenhum
dos grandes
mensageiros do
bem que a
história
registra
casou-se, nem
constituiu
família no
sentido estrito
do termo, antes
vendo como sua
família todos os
pobrezinhos do
corpo e do
Espírito com os
quais se
encontravam.
Esperando ter
demonstrado ao
leitor que a
razão e o bom
senso nos dizem
que Jesus não se
casou nem teve
filhos, é bom
fazer uma
observação para
que não se
interprete
errado o que
queremos dizer.
O fato de ser
nosso
entendimento que
Jesus não se
casou com Maria
de Magdala nem
teve filhos com
ela, isso não
quer dizer, de
modo algum, que,
se o tivesse
feito, isso em
algo denegrisse
a sua imagem ou
a de Maria de
Magdala. O sexo
é obra de Deus
e, como tal, é
santo em sua
natureza. É o
ser humano,
Espírito ainda
ignorante, que,
com seus
pensamentos e
atitudes, faz
bom ou mau uso
dos bens
naturais com que
Deus lhe
agraciou. Se o
sexo é praticado
com amor e
pureza no
coração, ele é
tão sagrado como
o trabalho ou a
diversão, quando
praticados da
mesma forma. Se,
por outro lado,
ele é praticado
com devassidão e
sem amor, ele
não é mais
deplorável que
outras
atividades
praticadas com
os mesmos
sentimentos
desequilibrados.
Assim sendo,
quando dizemos
que Jesus e
Maria de Magdala
não se casaram
nem tiveram
família, não
queremos dizer,
de modo algum,
que isso seria
algo errado se
tivesse
ocorrido, e sim
que o bom senso
e a razão nos
dizem que tal
não ocorreu.