WASHINGTON L. N. FERNANDES
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São Paulo - SP (Brasil)
Gilberto Freyre escreveu
sobre manifestações dos
Espíritos
Gilberto de Melo Freyre
(1900-1987), nascido em
Recife/PE, é um dos mais
destacados escritores,
sociólogos e
antropólogos
brasileiros, reconhecido
internacionalmente.
Estudou nos EUA, morou
em vários países da
Europa e lecionou em
várias Universidades
americanas e da
Alemanha. Foi
reconhecido por
instituições americanas,
parisienses e belgas;
recebeu prêmios na
Inglaterra, Escócia,
Espanha, França,
Alemanha e Holanda.
Realizou conferências em
Londres, Coimbra,
Lisboa, Porto, várias
cidades dos EUA, em
Roma, na Índia, na
Nigéria/África e San
Marcos, no Peru. Além de
receber o reconhecimento
da ONU, teve livros
traduzidos para o
inglês, francês,
espanhol, japonês,
italiano, alemão, sueco,
norueguês e iugoslavo,
chegando a ser indicado,
em 1947, ao Nobel de
Literatura. No Brasil
foi distinguido por
Universidades em
Pernambuco, Bahia, Rio
de Janeiro, Brasília e
São Paulo. Sua
biblioteca tinha cerca
de 20 mil volumes. Em
1933 publicou seu
principal livro, Casa
Grande e Senzala,
que foi a primeira parte
de uma obra que se
chamaria Introdução à
História da Sociedade
Patriarcal no Brasil;
as outras partes
foram Sobrados e
Mocambos, de 1936, e
Ordem e Progresso,
1959.
A ADMIRAÇÃO DOS AMIGOS E
O INTERESSE PELO
SOBRENATURAL
Admirado por outros
grandes escritores
brasileiros, que assim
se referiram: Desde moço
sou absolutamente
fascinado pela prosa de
Gilberto Freyre – João
Cabral de Mello Neto
(1920-1999); A essência
dos livros de Gilberto
Freyre é serem saborosos
– Monteiro Lobato
(1882-1948); Gilberto
Freyre, homem de
espírito e ciência.
Sistematizador,
descobridor, grande
crítico e artista. –
João Guimarães Rosa
(1908-1967); Recria ante
nossos olhos um tempo,
um ambiente, uma
sociedade, usando
amplamente os seus
poderes de artista e
como artista nos
interessando e
apaixonando – Rachel de
Queiroz (1910-2003).
Escreveu cerca de 80
livros e o que poucos
comentam é que este
grande pensador
pernambucano escreveu
também sobre fenômenos
paranormais. Em 1951,
escreveu Assombrações do
Recife Velho, que foi
relançado pela Top Books
Universidade Editora,
Recife/PE, em 2000. A
obra registra crônicas
locais, e nos últimos
vinte anos de sua vida,
quando dirigia o Jornal
A Província, encarregou
seu repórter policial de
investigar as casas
ditas mal-assombradas e
os fatos inexplicáveis
pelas leis conhecidas.
Prefaciando a 2ª edição
da obra, Gilberto Freyre
comenta que os estudos
indicavam que, em
Paris/França, esta
cidade estava seduzida
pelo sobrenatural, pelo
Espiritismo. A Doutrina
Espírita que se propôs
estudar os fatos
considerados antes como
bruxaria, demonstrando
que eles são totalmente
naturais, explicáveis
pelas leis do mundo
invisível.
Com sua prosa fácil,
Gilberto Freyre relata
vários casos inusitados,
descrevendo inúmeras
aparições, vozes e fatos
incomuns. Ele relata
também que o escritor
irlandês William Butler
Yeats (1865-1939), de
quem era amigo pessoal e
com quem muito
conversava quando morava
na Inglaterra, era
alguém interessado pelo
sobrenatural. Ele
contou-lhe que entre
populações européias se
dizia que luzinhas
misteriosas eram vistas
em antigos campos de
batalha ou imediações.
Com surpresa, Gilberto
Freyre relatou que, no
Recife, da mesma forma,
havia esses relatos, e
se diziam que eram as
almas dos soldados,
guerreiros que haviam
morrido lutando.
Interessante também é o
relato de uma conhecida
senhora pernambucana que
foi fazer compras e
voltou para casa, muita
cansada. Estava
repousando na cadeira
quando, de repente, deu
um grito de terror e
desmaiou. A casa inteira
acudiu ao acontecido e
chamaram rapidamente o
médico. Momentos depois
ela acordou, dizendo ter
visto seu tio, que
residia em outra cidade,
envolvido num lençol
branco manchado de
sangue. Acalmaram a
senhora e tentaram
tranqüilizá-la. Horas
depois veio a notícia de
que seu tio havia sido
assassinado um pouco
antes, num tiroteio
ensejado por conflitos
políticos.
O próprio Gilberto
Freyre descreveu um caso
ocorrido no final do
século XIX: um centro de
sessões de Espiritismo
que chegaram a ser
freqüentadas por alguns
doutores mais ilustres
da cidade. Velho
professor da Faculdade
de Direito do Recife,
que assistiu, já formado
em Direito, a algumas
das sessões, me informa:
Freqüentei algumas vezes
as tais sessões, e certa
ocasião levei meu tio
Tomás (refere-se ao
médico Tomás de
Carvalho) e o Ribeiro de
Brito (o depois senador
federal por Pernambuco,
João Ribeiro de
Brito)...
Em outra sessão, passada
no consultório de dois
médicos ilustres dos
primeiros anos da
República, chegou-se a
fazer Espiritismo
experimental ou
científico...
Foi numa dessas
sessões que se passou o
caso que vai aqui fixado
pela primeira vez: o
encontro – segundo a
interpretação de alguns
– de Raul Pompéia
(1863-1895) (OBS.:
escritor carioca), já
morto, com Martins
Júnior (OBS.:
advogado, mestre do
Direito Positivo e da
Poesia Científica),
ainda vivo, que
assombrou-se com a
mensagem do amigo morto.
Ulisses (o médium) então
muito novo, nunca ouvira
falar de Pompéia, nem
sequer conhecia O
Ateneu. (OBS.: livro
de Raul Pompéia.)
Ao final da sessão,
Martins declarou acerca
das comunicações do
amigo: É o Pompéia,
não há mais dúvida. E
fez questão de ficar com
a papelada da sessão...
Gilberto Freyre conta
também que no Palácio do
Governo, na insurreição
de 1930, ele mesmo
atuava como secretário
particular do
Governador, e os que lá
trabalhavam diziam
estarem vendo havia
meses um vulto etéreo no
prédio, o que era
premonitório de
acontecimentos de coisas
ruins, o que realmente
se confirmou...
Fica este interessante
registro histórico,
envolvendo outro dos
mais notáveis
intelectuais
brasileiros,
demonstrando que a
atuação dos Espíritos é
algo inevitável em nossa
vida, ocorrendo em toda
parte...