EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Além do olhar do
ocidente
A
terra é feita de
céu.
(Fernando
Pessoa)
Ação razoável é
a de
ressignificar a
ordem em si
mesmo para
ressignificar a
ordem no
universo, pois
os físicos
explicam a
inter-relação
que une as
partes ao todo e
o todo às
partes. O sonho
individual
adere-se ao
grande sonho
cósmico.
Talvez para
alguns seja
suficiente
considerar que
nossas escolhas,
tímidas ou
fortes, estão
tecidas com
àquelas de todos
os demais,
contudo, por
resistência
física, poderá
haver para
alguns a dúvida
psíquica.
Nesse caso, a
dúvida é nascida
da inflação do
ego. Assim, é
preciso sentir
receio de ouvir
os pensamentos
indomáveis, à
medida que eles
alimentam as
culpas e a idéia
de
auto-abandono.
Para que mudar a
si mesmo? Então,
a cada manhã,
com insistência,
é preciso fazer
a travessia
desse deserto e
se pôr em
relação com as
possibilidades
que retirem o
ego da
perspectiva de
seguir fechado
em si mesmo.
Creio que neste
caminho, além da
busca do amor, a
amizade de seres
humanos e de
animais pode
ajudar bastante.
Tenho uma gata
que me ajuda a
entender sobre a
simplicidade do
viver e me faz
recordar,
vendo-a
meditativa no
parapeito da
varanda, o
quanto tenho
dificuldade em
me manter
silencioso.
Habitar por um
tempo em um
espaço-tempo de
silêncio faz-me
retornar ao
centro, no qual
posso
despojar-me das
couraças para me
abastecer sem
medo em minha
essência.
Com isso,
consigo perceber
que a matéria e
o mundo não são
maus. A
dificuldade
reside na
fixação do
“olhar de
serpente”,
sempre atrelado
à feiúra e aos
estados de
inferioridade.
Com respeito,
posso inserir o
Espírito na
matéria deixando
de ser escravo
das coisas,
porém
reconhecendo o
lugar de cada
uma delas na
minha vida,
utilizando-as de
uma maneira
correta.
Um pássaro é
sempre um
pássaro qualquer
seja o ângulo
que o
observemos.
Porém, podemos,
em relação a um
pássaro, dispor
dos símbolos da
direita e da
esquerda para
apreender melhor
a totalidade do
real.
Dessa maneira, o
pássaro pode
tornar-se não só
um objeto que
ocupa o campo de
visão, mas pode
tornar-se um
elemento que
permite o não
estar
enclausurado no
ocidente do
mundo mental,
reencontrando
nossa intuição,
nosso oriente –
nossa orientação
interna. Esta
última é apta a
nos reconduzir
ao espaço azul
do céu, no qual
podemos recordar
que também somos
governados pela
luz.
O masculino e o
feminino. Em
nossa vida temos
necessidade
desses dois
aspectos. Então,
direita e
esquerda,
ocidente e
oriente, não
devem separados
um do outro para
que o conflito e
a doença não se
instalem e, em
conseqüência,
não fiquemos
presos na recusa
de perceber que
somos tanto
enraizados na
dimensão física,
quanto imantados
pela luz.
Ora, são essas
duas dimensões
que nos levam a
desenvolver, de
maneira atenta e
paciente, a
lucidez do
coração.
A lucidez do
coração nos
livra das
algemas da
categoria do
“isto”,
estimulada pela
estreiteza da
lógica da mente,
o ocidente. Sim,
não há dúvida:
olhar com os
dois olhos, o
ocidente e o
oriente, à
medida que há
mais de uma
dimensão que
tece a condição
humana, pois “o
homem não é um
isto, mas um
tu”, na
expressão de
Martin Buber.