ANGÉLICA
REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
A Evolução Anímica
Gabriel
Delanne
(Parte
5)
Damos continuidade nesta edição
ao
estudo do clássico A
Evolução Anímica,
que será aqui estudado
em 17 partes.
A fonte do estudo é a
8ª edição do livro,
baseada em tradução de
Manoel Quintão publicada pela Federação
Espírita Brasileira.
Questões preliminares
A. Há grandes diferenças
entre o homem e o
macaco?
Não. É insignificante a
diferença existente
entre o homem e o
macaco. A história
natural e a filosofia
revelam que, seja do
ponto de vista físico,
seja do intelectual, não
há diferença essencial.
As diferenças existentes
entre o mais inteligente
dos animais – o macaco –
e o mais embrutecido dos
homens não passam de
graduações ascendentes
de um mesmo princípio,
que vai progredindo à
proporção que anima
organismos mais
desenvolvidos.
(A Evolução Anímica,
pág. 60.)
B. Aristóteles estava
certo quando disse que a
natureza não dá saltos?
Sim. Diariamente as
descobertas dos
naturalistas estabelecem
sobre bases sólidas esta
verdade que o grande
filósofo exprimiu: A
natureza não dá saltos.
Perpétuas transições
ocorrem entre os seres
vivos. Do homem ao
macaco, deste ao cão, da
ave ao réptil, deste ao
peixe, do peixe ao
molusco etc., nenhuma
passagem é brusca. O que
se dá é sempre uma
degradação insensível.
Todos os seres se tocam,
formam uma cadeia de
vida que só nos parece
interrompida porque
desconhecemos as formas
extintas ou
desaparecidas.
(Obra citada, pág. 62.)
C. A alma animal é da
mesma natureza que a
alma humana?
Sim. Já que os animais
possuem inteligência,
instinto e
sensibilidade, e
considerando o axioma
que diz que todo efeito
inteligente tem uma
causa inteligente,
podemos concluir que a
alma animal é da mesma
natureza que a humana,
apenas diferenciada no
desenvolvimento
gradativo.
(Obra citada, pp. 63 a
65.)
Texto para leitura
45. A
alma animal
– O problema da origem
do homem na Terra é
difícil de abordar
porque, situados num
estágio de civilização
avançada, temos a
impressão de que um
abismo nos separa dos
outros seres. O
esplendor de nossos
progressos materiais não
deve, porém, obscurecer
nossa origem modesta. Ao
lado da civilização
vegetam seres degradados
que mal poderemos chamar
homens. Entre os
selvagens costuma dar-se
preeminência aos Diggers,
índios repelentes que
habitam cavernas da
Serra Nevada e são
julgados pelos
naturalistas mais
fidedignos como
inferiores ao
orangotango. Os
Tarungares (Papuas da
Costa Oriental) são de
um selvagismo inaudito.
Antropófagos
inveterados, chegam por
vezes a exumar cadáveres
a fim de os devorar. O
Autor cita, então, um
número grande de tribos
que impressionam por sua
selvajaria e atraso: os
Dokos da Abissínia; os
Weddas do Ceilão; os
Boschimans; os selvagens
da baía de Motka; os
Kytches e os Latoukas da
África; os Aetas das
Filipinas. (Págs. 57
a 60)
46. Darwin, na viagem do
Beagle, chegou a
espantar-se quando
avistou os Fueguinos.
“Ao contemplar tais
seres – diz ele –, é
difícil acreditar sejam
nossos semelhantes e
conterrâneos... À noite,
cinco ou seis criaturas
dessa espécie, nuas e
mal protegidas das
intempéries de um clima
horrível, deitam-se no
solo úmido, encolhidas
sobre si mesmas e
confundidas como
verdadeiros brutos.”
(Pág. 60)
47. Vemos com esses
exemplos como é
insignificante a
diferença entre o homem
e o macaco. A história
natural e a filosofia
revelam que, seja do
ponto de vista físico,
seja do intelectual, não
há diferença essencial.
As diferenças existentes
entre o mais inteligente
dos animais – o macaco –
e o mais embrutecido dos
homens não passam de
graduações ascendentes
de um mesmo princípio,
que vai progredindo à
proporção que anima
organismos mais
desenvolvidos. (Pág.
60)
48. Vimos que os
elementos componentes
dos tecidos de todos os
seres vivos são
substancialmente
idênticos na composição.
A carne de um animal não
se distingue da nossa. O
esqueleto dos
vertebrados não varia
sensivelmente. A
similitude dos
organismos do homem e do
animal é tal que, por
mais estranho que isso
pareça, poder-se-ia
conceber um homem viver
com um coração de cavalo
ou de cachorro.
(N.R.: Embora tenha
escrito esta obra em
época anterior aos
transplantes de coração,
Delanne está certo: o
coração dos babuínos já
foi aproveitado em seres
humanos.)
(Pág. 61)
49. Diariamente as
descobertas dos
naturalistas estabelecem
sobre bases sólidas esta
verdade que Aristóteles
exprimiu: A natureza
não dá saltos.
Perpétuas transições
ocorrem entre os seres
vivos. Do homem ao
macaco, deste ao cão, da
ave ao réptil, deste ao
peixe, do peixe ao
molusco etc., nenhuma
passagem é brusca. O que
se dá é sempre uma
degradação insensível.
Todos os seres se tocam,
formam uma cadeia de
vida que só nos parece
interrompida porque
desconhecemos as formas
extintas ou
desaparecidas.
Certamente, qualquer
pessoa saberá distinguir
um gato de uma roseira,
mas, aprofundando sua
análise, verá que
existem plantas, como as
algas, que se reproduzem
por meio de corpúsculos
agilíssimos e animais
que, no decurso de sua
existência, permanecem
imóveis, aparentemente
insensíveis. (Pág.
62)
50. Ao homem é
impossível viver de
maneira diferente dos
outros animais. O sangue
lhe circula do mesmo
jeito, o ar é respirado
nas mesmas proporções.
Os alimentos são da
mesma natureza,
transformados nas mesmas
vísceras, mediante as
mesmas operações
químicas. O nascimento
não lhe é fenômeno
particular. Nos
primeiros períodos de
vida, é impossível
distinguir o embrião
humano do canino. A
monera que haja de
produzir o “rei da
criação” é,
originalmente, composta
de um simples
protoplasma, como a de
qualquer vegetal. Em
resumo: o homem em nada
se distingue do animal e
vã é a tentativa de
estabelecer uma linha
divisória que lhe
permita atribuir-se um
lugar privilegiado na
criação. (Págs. 62 e
63)
51. É observando as
manifestações dos
indivíduos que podemos
conhecer os fenômenos
psíquicos ocorrentes no
seu íntimo. Se ele
executar atos
inteligentes,
concluiremos que possui
uma inteligência. Se
tais atos forem da mesma
índole dos que
observamos nos homens,
deduziremos que essa
inteligência é similar à
da alma humana, uma vez
que, na criação, somente
a alma é dotada de
inteligência. (Pág.
63)
52. Ora, como os animais
possuem inteligência,
instinto e
sensibilidade, e
considerando o axioma
que diz que todo efeito
inteligente tem uma
causa inteligente,
podemos concluir que a
alma animal é da mesma
natureza que a humana,
apenas diferenciada no
desenvolvimento
gradativo. O Autor
relata, então, diversos
casos que evidenciam
algumas faculdades dos
animais, tais como:
atenção, julgamento,
raciocínio, associação
de ideias, memória e
imaginação. (Págs. 63
a 65)
53. Eis de forma
resumida alguns desses
casos: I – Uma raposa
que conduzia um ganso
apresado, não
conseguindo saltar um
muro de 1m20, enfiou o
bico do ganso numa
frincha do muro, para
depois pegá-lo e seguir
seu caminho. II – Um
urso do Jardim Zoológico
de Viena, querendo
colher um pedaço de pão
que flutuava fora da
jaula, teve a ideia de
revolver a água com a
pata e formar assim uma
corrente artificial. III
– Florens revela como
dois ursos do Jardim das
Plantas perceberam que
os bolos que lhes haviam
dado estavam
envenenados. IV – Um
elefante, vendo que não
podia captar uma moeda
posta junto de uma
muralha, pôs-se a soprar
e assim fez a moeda
rolar até o ponto em que
se encontrava. V – Certa
vespa transportava a
carcaça de uma mosca
quando notou que as asas
presas à carcaça
dificultavam-lhe o voo.
Ela então cortou as asas
da mosca e librou-se
mais facilmente com o
despojo. VI – Um canguru
lançou-se ao mar para
escapar à perseguição de
um cão. Feito isto,
aguardou o inimigo que
nadava ao seu encontro,
agarrou-o e tê-lo-ia
afogado, se o dono não
acudisse a socorrê-lo.
VII – Torrebianca diz
que os criados de sua
casa assavam na lareira
algumas castanhas,
quando um macaco passou
a cobiçá-las e,
impaciente, não vendo
como pescá-las sem
queimar-se, atirou-se a
um gato sonolento e,
agarrando-lhe uma das
patas, dela se serviu, à
guisa de bastão, para
tirar as castanhas do
borralho. Aos miados
desesperados do bichano,
todos acorreram,
enquanto algoz e vítima
debandaram, uma com o
seu furto e outro com a
pata queimada. (Págs.
64 e 65)
54. A
curiosidade, diz
Delanne, é muito
desenvolvida nos
animais, mesmo nas
espécies menos
inteligentes, como os
peixes, os lagartos e as
calhandras (espécie de
cotovia). Ela cresce nos
patos selvagens, nos
cabritos monteses, nas
vacas e se mostra
irresistível nos
macacos, indiciando uma
característica da
curiosidade humana, o
desejo de compreender,
de penetrar o sentido
das coisas. O macaco
possui a faculdade de
“exame atento”, chegando
mesmo a esquecer o
alimento e tudo que o
rodeia quando busca
examinar um objeto.
(Pág. 66)
55. O amor-próprio é
observado no cão, no
elefante e no cavalo de
corrida, que é
suscetível de emulação e
experimenta o orgulho da
vitória. É sintomático o
caso de Forster
que, depois de um longo
período de
invencibilidade, ao
ver-se uma vez na
iminência de ser batido
por Elèphant, já
perto do poste de
chegada, precipitou-se
num salto desesperado e
agarrou com os dentes o
rival, no intuito de
evitar uma derrota
jamais conhecida. M.
Romanes relata, a
propósito, um fato
interessante.
Divertia-se seu cão a
caçar moscas que
pousavam na vidraça.
Como muitas se
escapassem, Romanes
entrou a chacotear,
esboçando um sorriso
irônico a cada
insucesso. Foi quanto
bastou para deixar
envergonhado o cão, que
fingiu, de repente, ter
apanhado uma mosca,
esmagando-a de encontro
ao solo. Romanes
percebeu e,
verberando-lhe a
impostura, viu que o cão
saiu a ocultar-se sob os
móveis, duplamente
envergonhado. (Págs.
66 e 67)
(Continua no próximo
número.)