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Crônicas e Artigos
Ano 4 - N° 159 - 23 de Maio de 2010

RENATO COSTA
rsncosta@terra.com.br

Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
 

Quarenta dias sem comer


A história não registra apenas o Mestre Jesus entre os que passavam longos períodos sem comer. No entanto, tampouco registra que qualquer pessoa que tenha tido tal habilidade conhecesse uma técnica própria para ensinar aos outros. Alguns críticos das escrituras simplesmente ironizam tal relato considerando-o não mais que uma lenda, mas, em nossa opinião, o tom irônico e o desinteresse pela pesquisa sobre o fenômeno não é a melhor abordagem para uma questão tão intrigante quanto pouco estudada.  

Ensina a ciência que uma pessoa que não come acaba consumindo suas próprias reservas, primeiro as de gordura e, depois, as musculares, a não ser que também não respire ou tenha um metabolismo totalmente diferente do humano. O que essa teoria não explica, no entanto, é como aparecem certas pessoas ao longo da história capazes de jejuar por longos períodos sem a significativa perda de peso esperada e sem ficarem doentes. A maior parte dos cientistas, de forma pré-concebida, prefere descartar o relato de tais fatos como folclore. 

A natureza apresenta exemplos interessantes ao nosso estudo. A hibernação é um estado letárgico pelo qual certos animais de sangue quente passam durante o inverno, principalmente em regiões temperadas e árticas. Durante a hibernação, o animal mergulha num estado de sonolência e inatividade, no qual as funções vitais de seu organismo são reduzidas ao mínimo necessário à sobrevivência. A maior parte dos animais que hibernam o faz nos períodos de maior dificuldade de obtenção de alimentos ou de sobrevivência ao ar livre. Há alguns, no entanto, que hibernam de qualquer jeito, como os esquilos que, mesmo levados a ambientes aquecidos durante o inverno, hibernam no mesmo período em que o fariam no seu habitat natural. Isso sugere que as alterações no seu metabolismo necessárias à hibernação já estão programadas de forma automática, dispensando estímulos exteriores. 

É fato conhecido que os indivíduos das espécies que hibernam perdem peso durante a hibernação, mas muito menos do que perderiam no mesmo período se não estivessem hibernando. 

No caso das espécies animais que hibernam, sabemos que tal comportamento lhes é instintivo. Eles não decidem racionalmente hibernar nem reduzem conscientemente seu metabolismo para tal. Isso não quer dizer, no entanto, que um efeito semelhante não possa ser obtido por decisão racional e de forma consciente.  

Quando o Senhor Jesus passou 40 dias em meditação no deserto sem se alimentar, ele deve ter feito algo semelhante ao que dizem que iogues avançados sabem fazer, que é reduzir ao mínimo a respiração e parar totalmente os movimentos corporais para, assim, diminuir o ritmo do metabolismo e, em consequência, a necessidade energética do corpo. Nada mais natural, portanto, que, como relatam os Evangelhos, ao voltar do deserto, o Mestre tenha sentido fome, mas não estivesse doente nem esquálido. 

Como espíritas, devemos ainda notar que, caso o amado Mestre tivesse querido usar sua sabedoria imensa para viver sem comer, ele certamente não teria tido qualquer dificuldade em fazê-lo, pois teria, de forma consciente, moldado em seu corpo físico um metabolismo próprio para tal. Se não o fez é porque desejou vir ao mundo humilde e igual a todos nós, com as mesmas necessidades biológicas que temos, de modo a nos mostrar que um dia, não importa quão distante esteja, todos poderemos fazer o que ele fez.

 

Bibliografia: 

De Cicco, Lucia Helena Salvetti. Saúde Animal. Obtido, em 08/07/2006, de http://www.saudeanimal.com.br/2mil_002.htm
 


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita