GEBALDO JOSÉ DE SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás (Brasil)
“Uma só coisa é necessária”
"Marta!
Marta!
Andas
inquieta e
te
preocupas
com
muitas cousas.
Entretanto,
pouco
é
necessário,
ou
mesmo uma só
cousa; Maria,
pois,
escolheu a boa
parte
e esta
não
lhe
será
tirada.”
1
- Jesus – Lc.,
10:41/2.
O
destaque
acima integra o relato de Lucas
acerca
de uma das
passagens
de Jesus
pela
aldeia de Betânia, situada a
dois
quilômetros a
leste
de Jerusalém, ao
pé
do
Monte
das
Oliveiras.
Ali
hospedara-se
em
casa
de
Marta,
irmã de
Lázaro
e Maria.
Contudo,
no
breve
episódio que
ora estudamos,
não
há
referência
àquele
irmão, que
bem podia ser
um
dos
ouvintes.
O
Mestre,
cônscio de sua
missão, colhia todas
oportunidades,
ainda que
aparentemente
triviais,
para nos
transmitir
sublimes
ensinos.
E o
Evangelista,
sabiamente,
registra
nessa
passagem
significativa
lição.
Naquele
lar,
Ele era
recebido
com
muito
carinho e real
intimidade.
Provavelmente
numerosa
caravana
acompanhava o
Divino
Amigo
e
era,
assim,
justa a
preocupação
da
dona
da
casa,
para bem atendê-los.
Servir-lhes
alimentos
e,
quem
sabe,
pousada,
implicava,
certamente,
em muito
trabalho.
E
Marta,
justamente por
isso atarefada, solicitava,
sem
sucesso, à irmã
que
a auxiliasse.
Esta,
indiferente
aos
aspectos
materiais
do
instante,
“(...)
quedava-se
assentada aos
pés
do
Senhor
a ouvir-lhe os
ensinamentos”.
Imaginemos a
cena
ali
vivida! Que
raro e doce
privilégio desfrutava Maria, nesse
momento
singular! As
vibrações
puríssimas,
sublimes,
que
emanavam de
Seu
Espírito,
impregnavam o
modesto
ambiente
de
plena
Paz, de serena
Harmonia. Somadas a
elas,
o
magnetismo
de
Sua
voz, de Sua
amorável presença;
e
ouvir a
Verdade
que
fluía,
cristalina,
de
seus
lábios! Tudo,
enfim, que
d’Ele
emanava
era,
e é,
doce
refrigério
às
almas
sedentas de
luz.
Maria rendera-se
a
estes
suaves
encantos, pois
quedara-se a
Seus
pés.
Numa
entrega
total,
com toda
sua alma,
voltara-se
para
Ele,
ouvindo-O,
fascinadamente.
Natural
que,
sintonizada
naquele
clima
de
rara
beleza, se mantivesse
alheia
aos
apelos
da irmã,
ou
que nem
mesmo a ouvisse chamá-la,
tão
embevecida se
encontrava!
Que
outra
tarefa poderia
ser mais
urgente
que ouvir-Lhe as sábias
palavras,
que privar
de
Sua
breve
passagem por
seu lar?
O
essencial
era
ouvi-Lo.
Contudo,
Marta,
ou
porque não
despertara
ainda
para
as
lições
de
natureza
espiritual, ou
por delicadeza
para com o
nobre
hóspede e seus
acompanhantes, “agitava-se de
um
lado para
outro,
ocupada em
muitos serviços”.
Portava-se
como
a
maioria
de
nós,
na
azáfama
do
dia-a-dia,
seja na
busca
do
ganha
pão, seja mesmo
nas
atividades
de
natureza
beneficente. Inquietamo-nos,
desequilibramo-nos,
à
mercê
da
impaciência,
de
aspectos
formais,
de
horários,
de rotinas etc.
— faltando as
mais
das
vezes
com a sublime
virtude da
Caridade,
ainda que
no
afã de
praticá-la.
Preocupada
em
bem servir e,
quem
sabe, cansada de
pedir
ela
mesma à irmã
que
a ajudasse na
urgente
e
inesperada
tarefa, dirige-se,
com
manifesta
intimidade,
a Jesus,
recorrendo à
Sua
autoridade:
– “Senhor,
não te
importas de
que
minha
irmã tivesse
deixado
que
eu
ficasse a
servir
sozinha?
Ordena-lhe,
pois,
que
venha
ajudar-me”.
Este, buscando
despertá-la
não
só
para a grandeza
do
momento,
mas
também para
a
importância
do
aprendizado
espiritual –
razão
de
Sua
vinda
entre nós
–, responde-lhe,
incisivo:
– “Marta!
Marta! Andas
inquieta e
te
preocupas
com
muitas cousas.
Entretanto,
pouco
é
necessário,
ou mesmo
uma
só
cousa; Maria,
pois,
escolheu a boa
parte
e esta
não
lhe será tirada”.
Carlos
Torres
Pastorino2
afirma-nos:
“...de
bem
pouco precisa
o
homem
na
Terra
para seu
sustento.
As complicações
e complexidades
são
criadas
pelos
desejos
do
próprio
homem,
não pela
necessidade.
Ora,
não há razão
para preocupações
desnecessárias:
o
essencial
é
pouca
coisa; aliás,
o
essencial
é
apenas
uma
coisa:
o
reino
de
Deus.
Assim sendo,
Maria é
que
está
com
a
razão.
Escolheu o
que
é
bom,
a “boa
parte”,
e esta
jamais
lhe
será
tirada.
Trata-se da
conquista
do
Espírito
que,
à
medida
da
evolução,
aprende a
selecionar
o
essencial
do
supérfluo.
(...)
Agir
com
as
mãos,
meditar
com o coração.
Andar com
os
pés
do
corpo,
enquanto o
Espírito
permanece
“sentado” a
conversar
com
o
Amigo
Sublime.
Olhar as coisas
com os olhos
físicos, mantendo o
olhar
do
Espírito
preso
às
belezas
do
Amor.
Raciocinar
com
o
intelecto,
deixando a
mente
a
contemplar
o
Amor
do
Amado.”
Emmanuel analisa
o
versículo
42 do
capítulo
10 de Lucas,
em
dois
textos. Num deles, intitulado “O
Necessário”3,
fala da transitoriedade de todas as
circunstâncias
de
natureza
material,
e assinala:
“Uma
só
coisa é necessária’,
asseverou o
Mestre,
em
sua lição
a
Marta,
cooperadora
dedicada e
ativa.
Jesus desejava
dizer
que,
acima de tudo,
compete-nos
guardar,
dentro
de
nós
mesmos,
uma
atitude
adequada,
ante
os
desígnios
do
Todo-Poderoso,
avançando,
segundo
o
roteiro
que nos
traçou a
Divina
Lei.
Realizado
esse
“necessário”,
cada
acontecimento,
cada pessoa
e
cada
coisa
se ajustarão, a
nossos
olhos,
no
lugar
que
lhes é próprio.
Sem essa
posição
espiritual de sintonia
com
o
Celeste
Instrutor,
é
muito
difícil
agir alguém
com proveito”.
No
segundo,
denominado “A
Boa
Parte”4,
recomenda-nos
valorizar
o
lado
bom que
há
em
tudo
e
em
todos:
“Não
te
esqueças da “boa
parte”
que
reside
em
todas as
criaturas
e
em
todas as
coisas.
(...) Busquemos
o
lado
melhor
das
situações,
dos
acontecimentos
e das pessoas.
‘Maria escolheu
a boa
parte,
que
não lhe
será
tirada’
– disse-nos o
Senhor.
Assimilemos a
essência
da
divina
lição.
Quem
procura
a ‘boa
parte’
e nela se detém,
recolhe no
campo
da
vida
o
tesouro
espiritual
que jamais
lhe será roubado”.
Aquele
era
momento raríssimo,
invulgar.
Naquelas
circunstâncias,
talvez
não se repetisse
jamais
em suas
vidas: O
privilégio
de
receber
o
Divino
Mestre
na
própria
casa,
privar de sua
companhia, no
aconchego
do
lar
humilde!
Que
outro
assunto
é
mais
relevante
para nossos
Espíritos
eternos
que o do
aprendizado
espiritual?
Qual
outro sobreleva-se a
ele?
Enquanto não
despertamos,
todos
os
outros
nos escravizam.
Mas
a
Verdade,
ao
chegar,
liberta-nos a
pouco
e
pouco.
Ouvir-Lhe a
excelsa
mensagem!
Sentir o calor
de
Sua
presença,
de
Seus
pensamentos
sublimados!
Ouvir
do
Mestre
maior, do
Espírito
de
Verdade,
conceitos
de
vida,
com
a
clareza
daquele
que
sabe as
limitações
dos
discípulos
e,
didaticamente,
desce ao
nível
de
nossa
compreensão infantil.
Para se
fazer
compreendido,
fala,
quase
sempre, de
coisas
próximas às
criaturas:
do
sal
da
terra;
da
árvore
e de
seus
frutos;
do
semeador;
da
candeia;
do
joio;
do
grão
de
mostarda;
do
fermento;
do
tesouro
escondido; da
pérola;
da
rede;
da
ovelha
perdida; do
filho
pródigo;
dos
trabalhadores
na
vinha;
da
figueira;
dos
lavradores
maus; das bodas;
do
bom
e do
mau
servo; da porta
estreita; de um
senhor que
distribui
talentos
aos servos etc.
Apreender
qual
seja a
vontade
de
Deus,
nosso Pai,
a
nosso
respeito,
é a “boa
parte”;
aquela
que
nos cumpre realizar.
Claro que
sem descurar
das
obrigações
que
a
vida
material
nos impõe e que
exigem
nossa
dedicação
sincera.
A
questão
circunscreve-se,
em
essência,
à
compreensão
da
prioridade
de
cada
momento.
Ao distinguirmos
aquilo
que
é
mais
importante
fazer a cada
dia, damos
grande
passo, no
caminho
da
Evolução.
Pois
“... há
tempo
para
todo propósito
debaixo do céu...”
(Eclesiastes
3-1.)
Maria
bem
exemplificou-nos
a
correta
utilização
do
tempo,
na
caminhada
evolutiva. Soube
sintonizar,
no
momento
preciso,
a “boa
parte”.
Essa a
tarefa
maior que
nos cabe: identificar,
a
cada
dia,
qual seja a boa,
perfeita
vontade de Deus
a
nosso
respeito,
e
buscar
realizá-la,
com
alegria nos
corações, sem
nos deixarmos enlear
pelos enganos
do mundo.
Importa-nos,
pois, seguir a Maria,
sem
nos escravizarmos aos
apelos
dominadores da
Marta!
Esta a
forma
ideal para
também
recebê-Lo
em
nossa
‘casa’,
em
nosso coração;
tornando-nos,
assim,
discípulos
dignos do
Mestre
a
nós
concedido
por
acréscimo da
misericórdia
do
Pai!
Referências
bibliográficas:
1. Bíblia
Sagrada.
Trad. João
Ferreira
de Almeida.
Brasília:
Sociedade
Bíblica do
Brasil, 1969;
2. PASTORINO,
Carlos T.
Sabedoria
do
Evangelho.
Rio de Janeiro:
Sabedoria. v. 5, 1968, 184p. p. 20.
3. XAVIER,
Francisco C.
Vinha
de
Luz,
pelo Espírito
Emmanuel. 6ª ed.
Rio de
Janeiro:
FEB, 1981. 376p.
p. 17, Cap. 3;
4. XAVIER,
Francisco C.
Fonte
Viva, pelo
Espírito Emmanuel. 8ª ed.
Rio
de
Janeiro:
FEB, 1979. 415p.
p. 79, Cap. 32.