A Revue Spirite
de 1867
Allan Kardec
(Parte
13)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1867. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Como se explicam os
pressentimentos?
Os pressentimentos se
explicam pelo
desprendimento da alma.
Segundo Kardec, é
preciso que “algo se
desprenda de nós, veja e
entenda o que não
podemos perceber pelos
olhos e pelos ouvidos”.
“É, sobretudo, nos
momentos em que o corpo
repousa, durante o sono,
que o Espírito,
aproveitando o descanso
que lhe deixa o cuidado
de seu invólucro, em
parte recobra a
liberdade e vai colher
no espaço, entre outros
Espíritos, encarnados
como ele, ou
desencarnados, e no que
vê, ideias cuja intuição
traz ao despertar.” Essa
emancipação da alma
dá-se, por vezes, no
estado de vigília, nos
momentos de absorção, de
meditação ou devaneio, e
ocorre, sobretudo, de
maneira mais efetiva e
mais ostensiva nas
pessoas dotadas de dupla
vista ou visão
espiritual.
(Revue Spirite de 1867,
pp. 342 e 343.)
B. Nas curas
espirituais, como as que
o zuavo Jacob realizava,
a confiança do enfermo é
fator importante?
Sim. Existem circunstâncias que podem favorecer
ou paralisar a ação
fluídica e o zuavo Jacob
certamente sabia disso.
Quando rodeado de
enfermos que o buscavam
voluntariamente, a
confiança deles os
predispunha à cura. Não
existindo essa
confiança, o meio não
favoreceria o
tratamento. É um erro
crer que fenômenos dessa
espécie possam ser
manobrados à vontade. As
curas desse gênero são
espontâneas, imprevistas
e não podem ser
premeditadas nem postas
em concurso.
(Obra citada, pp. 348 e
349.)
C. Qual é o objetivo
essencial do
Espiritismo?
Suas consequências filosóficas, morais e
religiosas, eis o que
constitui o objetivo
essencial do Espiritismo
e dele faz uma obra
humanitária. Estas
palavras foram escritas
por Kardec em seus
comentários acerca do
livro A Razão do
Espiritismo, escrito
por Miguel Bonnamy, a
primeira publicação em
que a filosofia espírita
foi encarada em todas as
suas partes e em toda a
sua altura.
(Obra citada, pp. 349 a 354.)
Texto para leitura
165. Analisando os fatos contidos na reportagem,
Kardec observa que neles
se viam duas coisas bem
distintas: os
pressentimentos e os
fenômenos considerados
como prognósticos de
acontecimentos futuros.
(Pág. 342.)
166. Não se podem negar os pressentimentos, dos
quais – diz Kardec – há
poucas pessoas que não
tenham tido exemplos. Os
pressentimentos se
explicam pelo
desprendimento da alma:
é preciso que “algo se
desprenda de nós, veja e
entenda o que não
podemos perceber pelos
olhos e pelos ouvidos”.
“É sobretudo nos
momentos em que o corpo
repousa, durante o sono,
que o Espírito,
aproveitando o descanso
que lhe deixa o cuidado
de seu invólucro, em
parte recobra a
liberdade e vai colher
no espaço, entre outros
Espíritos, encarnados
como ele, ou
desencarnados, e no que
vê, ideias cuja intuição
traz ao despertar.”
(Págs. 342 e 343.)
167. Essa emancipação da alma dá-se, por vezes,
no estado de vigília,
nos momentos de
absorção, de meditação
ou devaneio. Ocorre,
sobretudo, de maneira
mais efetiva e mais
ostensiva nas pessoas
dotadas de dupla vista
ou visão espiritual. Os
pressentimentos têm,
pois, a sua razão de ser
e encontram a sua
explicação natural na
vida espiritual, que não
cessamos um instante de
viver, porque é a vida
normal. (Pág. 343.)
168. Já não se dá o mesmo com os fenômenos
físicos, tidos como
prognósticos de
acontecimentos felizes
ou infelizes, porque, em
geral, esses fenômenos
não têm nenhuma ligação
com as coisas que
parecem pressagiar. É,
pois, um absurdo crer em
prognósticos
fundamentados em
fenômenos dessa ordem.
(Págs. 343 e 344.)
169. Em novo artigo sobre o zuavo Jacob e suas
curas, Kardec faz uma
série de considerações
que adiante resumimos: I
– Acusar o Sr. Jacob de
charlatão era uma
bobagem, porque seu
desinteresse material
era um fato notório:
Jacob nada pedia e nada
aceitava, nem mesmo
agradecimentos, das
pessoas que atendia. II
– O Sr. Jacob não curava
todas as doenças; além
disso, de dois
indivíduos feridos pelo
mesmo mal, muitas vezes
curava um e nada
conseguia fazer pelo
outro. III – As curas
obtidas pelo zuavo não
representavam uma volta
à era dos milagres,
porque nelas nada havia
de sobrenatural nem de
miraculoso. Jacob era,
tão-somente, dotado de
um poder fluídico que,
independentemente de sua
vontade, podia curar
certas doenças, sem que
ele mesmo soubesse por
quê. IV – A cura era
obtida sem emprego de
remédios; resultava,
pois, de uma influência
oculta, porque o Sr.
Jacob não dava passes
nem tocava os doentes.
(Págs. 344 a 346.)
170. A crítica, informa o Codificador do Espiritismo,
não poupou o zuavo
Jacob. Como lhe
faltassem boas razões,
ela prodigalizou-lhe
troças e injúrias
grosseiras, mas nada
disso o atingiu.
Desprezando umas e
outras, o Sr. Jacob
demonstrou a todos a sua
moderação. (Pág.
347.)
171. Alguns chegaram a solicitar a sua prisão,
como impostor que
abusava da credulidade
pública. Ora, impostor é
o que promete e não
cumpre. Jacob nunca
prometeu nada. Que lhe
podiam imputar? Que
artigos da lei ele
infligia? Como o zuavo
não exercia a medicina,
nem mesmo de forma
ostensiva o magnetismo,
existia alguma lei que
proibisse curar as
pessoas olhando-as?
(Pág. 347.)
172. Um fato interessante ocorrido com o Sr.
Jacob é também examinado
por Kardec. O zuavo
recusou ir curar pessoas
internas num hospital,
sob as vistas de pessoas
capacitadas a apreciar a
realidade de suas curas.
Duas razões – adverte
Kardec – devem ter
motivado sua recusa.
Primeiro: a oferta que
lhe fizeram não foi
ditada pela simpatia;
era mais um desafio que
lhe propunham. Segundo:
existem circunstâncias
que podem favorecer ou
paralisar a ação
fluídica. Jacob deveria
saber disso. Quando
rodeado de enfermos que
o buscavam
voluntariamente, a
confiança deles os
predispunha à cura. Não
existindo essa
confiança, o meio não
favoreceria o
tratamento. (Pág.
348.)
173. O erro dos senhores que lhe propuseram esse
desafio foi crer que
fenômenos dessa espécie
possam ser manobrados à
vontade. Mas as curas
desse gênero são
espontâneas, imprevistas
e não podem ser
premeditadas nem postas
em concurso. Jacob
estava, pois, certo em
não atender o pedido.
(Pág. 349.)
174. Na seção de livros novos, a Revue
focaliza o livro A
Razão do Espiritismo,
escrito por Miguel
Bonnamy, sobre o qual o
Codificador faz as
seguintes considerações:
I – Esta é a primeira
publicação em que a
filosofia espírita é
encarada em todas as
suas partes e em toda a
sua altura. II – Seu
autor não se limita a
emitir sua opinião: ele
a motiva e dá a razão de
ser de cada coisa. III –
O ponto de vista em que
ele se colocou é
principalmente o das
consequências
filosóficas, morais e
religiosas, que
constituem o objetivo
essencial do Espiritismo
e dele faz uma obra
humanitária. (Págs.
349 a 354.)
175. Depois de transcrever alguns trechos da
obra, Kardec
acrescentou: “O Sr.
Bonnamy já é conhecido
de nossos leitores, que
puderam apreciar a
firmeza, a sua
independência de caráter
e a elevação de seus
sentimentos, pela
notável carta que
publicamos na Revue
de março de 1866, no
artigo intitulado: O
Espiritismo e a
Magistratura. Ele
vem hoje, por um
trabalho de alto
alcance, prestar
resolutamente o apoio e
a autoridade de seu nome
a uma causa que, na sua
consciência, considera
como a da Humanidade
(Pág. 357.)
176. Disto isto, Kardec lembra que, entre os
adeptos numerosos que o
Espiritismo contava na
magistratura, o Sr.
Bonnamy, juiz de
instrução em
Villeneuve-sur-Lot, e o
Sr. Jaubert,
vice-presidente do
tribunal de Carcassone,
foram os primeiros que
abertamente arvoraram a
bandeira espírita. “Os
espíritas atuais e os do
futuro saberão
apreciá-lo e não o
esquecerão”, concluiu o
Codificador. (Pág.
357.)
177. Duas notas encerram o número de novembro de
1867: I – A notícia do
lançamento do último
livro de Kardec, “A
Gênese, os Milagres e as
Predições segundo o
Espiritismo”, previsto
para dezembro. II – O
aviso de que a Revue
não tomaria em
consideração as cartas
recebidas sem
assinatura, sem endereço
certo ou com remetente
desconhecido. Tais
cartas, diz o aviso,
“são postas na cesta”.
(N.R.: O livro “A
Gênese” acabou
circulando apenas em
janeiro do ano seguinte,
e não em dezembro de
1867.) (Pág. 358.)
178. Com o título O homem antes da História,
a Revue de
dezembro transcreve
artigo assinado pelo Sr.
Camille Flammarion, em
que ele trata da
ancianidade da raça
humana. Eis algumas
informações
interessantes extraídas
do artigo: I – O
alimento dos homens
primitivos era muito
variado. O Sr. Flourens
entende que eles se
nutriam exclusivamente
de frutos, mas a verdade
é que, desde o começo, o
homem foi onívoro. II –
Todas as carnes eram
comidas cruas e
fumegantes. III – Os
selvagens primitivos não
eram todos nus. Os
primeiros habitantes das
latitudes boreais, da
Dinamarca, e da Gália e
da Helvécia, se
protegiam do frio com
peles e forros. IV – A
coqueteria, o amor pelo
enfeite, os ornamentos
não são de agora. V – Os
mortos eram colocados
nos sepulcros em atitude
agachada, com os joelhos
quase em contacto com o
queixo, os braços
cruzados sobre o peito e
aproximados da cabeça,
como é a posição da
criança no seio materno.
VI – Os homens nunca se
entenderam sobre a data
da criação, sobre o que
já haviam sido
formuladas, até então,
140 opiniões diferentes.
VII – Do ponto de vista
geológico, o último
período da história da
Terra, o período
quaternário, que
dura até hoje, foi
dividido em três fases:
a fase diluviana,
durante a qual houve
imensas inundações
parciais na Terra; a
fase glaciária,
caracterizada pela
formação de geleiras e
por um maior
resfriamento do globo; e
a fase moderna.
VIII – O homem existe no
mundo desde a primeira
dessas fases, em que
reinava uma natureza
muito diferente e outros
tipos de plantas e
animais existiam na
superfície do solo e nos
mares. (Págs. 359 a
362.)
179. A Revue reproduz interessante relato
publicado a 6/11/1867
pelo jornal La
Liberté, a respeito
de uma viagem do Sr.
Victor Hugo à Holanda. O
relato refere um caso
moderno de ressurreição
em que um homem, o Sr.
D..., um dos melhores
advogados da Holanda,
depois de ter sido dado
como morto, voltou a
respirar. A explicação
que o Sr. Victor Hugo
deu para o fato foi
muito elogiada por
Kardec. (Pág. 363 a
366.) (Continua no próximo
número.)