A Revue Spirite
de 1868
Allan Kardec
(Parte
12)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1868. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Os princípios do
Judaísmo admitem o dogma
católico do pecado
original?
Não. No jornal israelita
La Famille de Jacob,
publicado em Avignon,
sob a direção do rabino
Benjamin Massé, em seu
número de julho de 1868,
essa questão foi
focalizada e, segundo o
periódico, ela está
longe de se achar entre
os princípios do
Judaísmo, que a repele
inteiramente. Segundo o
Judaísmo, se Adão pecou,
só a ele pertence a
responsabilidade de seu
erro; só a ele a
proscrição, a expiação e
a redenção por meio de
esforços pessoais.
(Revue Spirite de 1868,
págs. 330 a 332.)
B. Que é preciso para praticarmos o Espiritismo com eficácia?
Segundo mensagem transmitida na Sociedade de
Paris em 23 de outubro
de 1868, é preciso, para
isso, estar bem
compenetrado da
filosofia espírita e de
sua parte moral, que é
fácil de conhecer, mas é
a mais difícil de
praticar, porque só o
exemplo pode fazer bem
compreendê-lo. “Fareis
compreender melhor a
virtude dando exemplo do
que a definição”,
acrescentou o
comunicante, afirmando
que a parte filosófica
apresenta mais
dificuldades para ser
compreendida e, por
isso, requer mais
esforços. “Os adeptos
que buscam ser
militantes – acrescenta
o Espírito – devem
pôr-se à obra para bem a
conhecer, pois é a arma
com a qual combaterão
com mais sucesso.”
(Obra citada, págs. 344 a 346.)
C. O recolhimento é
necessário às sessões
mediúnicas?
Sim. Mas, em mensagem transmitida em 16 de
outubro de 1868, De
Courson (Espírito) faz
algumas oportunas
reflexões sobre o
recolhimento necessário
às sessões mediúnicas.
Segundo ele, o
recolhimento dos
encarnados, que ele
qualifica de silêncio,
está muito longe de
aproximar-se do
recolhimento dos
desencarnados presentes.
É que o corpo observa o
silêncio, mas a alma não
respeita e mesmo
perturba, com
pensamentos diversos, o
recolhimento dos que a
rodeiam.
(Obra citada, págs. 346
e 347.)
Texto para leitura
141. Um do
correspondentes da
Revue na Antuérpia
enviou a Kardec extrato
de uma obra inglesa cuja
tradução, feita da 5a.
edição, foi publicada em
Amsterdã em 1753, mais
de cem anos antes d’O
Livro dos Espíritos.
Intitulada A Amizade
após a morte, contendo
as cartas dos mortos aos
vivos, pela Senhora
Rowe, a obra contém
diversas comunicações
mediúnicas cujo conteúdo
apresenta uma identidade
notável com os ensinos
trazidos pelo
Espiritismo. Kardec
transcreve várias
passagens do livro e, no
final, explica por que
uma obra tão singular
produzira tão pouca
sensação e caíra no
ostracismo, enquanto que
a doutrina espírita
adquirira tantos
seguidores em tão pouco
tempo. O fato era,
segundo ele, a
confirmação do princípio
de que as melhores
ideias abortam quando
vêm antes do tempo. Se o
Espiritismo tivesse
vindo um século mais
cedo, não teria tido
nenhum sucesso.
(Págs. 325 a 329.)
142. A Revue
reproduz trechos do
livro A Cabana do Pai
Tomás, escrito pela
Sra. Beecher Stowe, em
que a ideia da
reencarnação é
claramente posta, embora
a obra tenha sido
escrita em 1850 em um
país onde o princípio da
pluralidade das
existências fora há
muito repelido.
(Págs. 329 e 330.)
143. O jornal israelita
La Famille de Jacob,
publicado em Avignon,
sob a direção do rabino
Benjamin Massé, em seu
número de julho de 1868,
focaliza a questão do
pecado original, um dos
dogmas da Igreja
Católica que, segundo o
periódico, está longe de
se achar entre os
princípios do Judaísmo.
De acordo com semelhante
doutrina, que o Judaísmo
repele inteiramente, a
queda e a condenação de
nossos primeiros pais
constituem uma queda e
uma condenação para toda
a posteridade. Daí os
males inumeráveis
sofridos pelo gênero
humano, os quais teriam
sido sem fim, sem a
mediação de um Redentor,
tão incompreensível
quanto o crime e a
condenação de Adão.
Assim como o pecado de
um só foi cometido por
todos, a expiação de um
só será a expiação de
todos. Perdida por um
só, a humanidade será
salva por um só. A
redenção é a
consequência inevitável
do pecado original. Ora,
se Adão pecou, só a ele
pertence a
responsabilidade de seu
erro; só a ele a
proscrição, a expiação e
a redenção por meio de
esforços pessoais. Nós,
que vimos após ele,
nascemos com a nossa
pureza e a nossa
inocência, de que somos
os únicos donos, os
únicos depositários, e
cuja perda ou
conservação não dependem
absolutamente senão de
nossa vontade e das
determinações do nosso
livre arbítrio.
(Págs. 330 a 332.)
144. Uma carta enviada à
Revue por um de
seus correspondentes,
capitão do exército na
África, diz que o
Espiritismo se espalhava
no norte da África e
ganharia o centro, se os
franceses para ali se
dirigissem.. (Págs.
332 a 334.)
145. Relatório publicado
pelo Quatterly
Journal of Psychological
Medicine revela que
uma menina que contava
então menos de cinco
anos de idade havia
substituído a língua
falada em sua casa por
um idioma diferente por
ela mesma criado. Até a
idade de três anos a
menina não sabia falar,
exceto as palavras
“papa” e “mamã”. Ao se
aproximar dos quatro
anos, sua língua se
desatou de repente, mas
de tudo quanto diz só as
duas palavras que
aprendeu a princípio
foram tiradas da língua
inglesa. Desolados com
isso, seus pais tentaram
ensinar-lhe o inglês,
mas ela a isso se recusa
terminantemente.
(Págs. 334 e 335.)
146. Tendo sido o fato
discutido na Sociedade
Espírita de Paris, um
Espírito disse que
aquela menina, em sua
última existência na
Terra, tivera a ideia de
criar uma língua
universal, a fim de
permitir aos homens de
todas as nações
entender-se e facilitar
desse modo as relações
humanas. A língua
inglesa lhe era
desconhecida e, ao ouvir
ingleses falar, achara
sua língua desagradável
e a detestara. Uma vez
na erraticidade, sua
ideia persistiu e foi
assim que compôs um
vocabulário todo
particular. Ao
encarnar-se entre os
ingleses, tomou a
decisão de não falar a
língua inglesa, decisão
que se mantinha em vida
porque ela era ajudada
por seu guia espiritual,
que velava para que o
fenômeno se verificasse,
a fim de chamar a
atenção dos homens.
Desse modo, ao mesmo
tempo que demonstrava
seu desprezo pela língua
inglesa, cumpria a
missão de provocar as
pesquisas psicológicas.
(Págs. 335 a 337.)
147. Um curioso fenômeno
em que uma música tocada
por um ser invisível se
fazia ouvir no ambiente
de uma sala de aula é
relatado em carta por um
jovem de Mulhouse. A
música parecia provir de
uma harpa tocada com
delicadeza e sentimento
e todos a ouviam. Ela
parecia vir de um ponto
determinado, mas que
mudava constantemente na
sala. Quando se apontava
com o dedo o lugar de
onde o som provinha, ele
se fixava noutro ponto
ou se fazia ouvir em
lugares diferentes.
Comentando o caso,
Kardec adverte que
devemos, antes de
atribuir um fato à
intervenção dos
Espíritos, estudar
cuidadosamente todas as
circunstâncias. Aquele
tinha, porém, todos os
caracteres de uma
manifestação e
provavelmente fora
produzido por um
Espírito simpático ao
jovem, com o fito de o
trazer às ideias
espíritas e de chamar a
atenção de outras
pessoas para estas
espécies de fenômenos.
(Págs. 337 a 339.)
148. Comentando obra do
Sr. Chassang a respeito
do efeito do
espiritualismo na arte e
na poesia, Octave Sachot,
do jornal Patrie,
diz que sua tese é toda
estética. O que ele
entende provar, diz o
crítico, é que a
literatura e a arte não
estão menos interessadas
que a vida moral na
vitória das doutrinas
espiritualistas. Ao
contrário do
materialismo, que
despoetiza a vida e
desencanta o homem,
tirando-lhe toda a
esperança, as doutrinas
espiritualistas abrem em
todos os sentidos a vida
às nobres aspirações e
entretêm o homem com o
futuro e a imortalidade.
(Págs. 339 a 342.)
149. Kardec recebeu da
Síria uma carta muito
interessante sobre o
estado moral dos povos
do Oriente e os meios de
cooperar em sua
regeneração. O
missivista vê no
Espiritismo uma poderosa
alavanca para combater
os preconceitos que se
opõem à emancipação
moral e intelectual de
seus compatriotas.
Visando concorrer para
essa obra, ele concebeu
um projeto que,
valendo-se do
Codificador, submeteu à
apreciação dos bons
Espíritos. Levado o
assunto à Sociedade de
Paris, o Espírito de
Clélie Duplantier deu
importante comunicação,
cujos principais pontos
resumimos: I – Ter a
razão e a verdade,
trabalhar visando o bem
geral e sacrificar o
bem-estar particular ao
interesse de todos é
bom, mas não é
suficiente. II – Não se
podem dar de um golpe
todas as liberdades a um
escravo modelado pelos
séculos a um jugo
severo. Só gradualmente
e medindo a extensão das
margens aos progressos
inteligentes e sobretudo
morais da humanidade é
que a regeneração poderá
realizar-se. III – Todos
quantos desejam
utilmente concorrer ao
trabalho regenerador
devem, pois, antes de
tudo, preocupar-se com a
natureza dos elementos
sobre os quais é
possível agir e combinar
suas ações em razão do
caráter, dos costumes e
das crenças daqueles a
quem querem transformar.
IV – No Oriente, para
atingir o objetivo que
os Espíritos de escol
almejam na Europa, é
necessário seguir uma
marcha idêntica quanto
ao conjunto, mas
diferente nos detalhes,
isto é, semeando a
instrução, desenvolvendo
a moralidade, combatendo
os abusos consagrados
pelo tempo, chegar-se-á
a um mesmo resultado,
seja onde for, mas a
escolha dos meios deverá
ser determinada pelo
gênio particular
daqueles a quem se
dirigirem. V – Não se
instrui o homem batendo
de frente os seus
preconceitos, mas
contornando-os,
modificando o mobiliário
de seu espírito de
maneira graduada, para
que ele chegue por si
mesmo a renunciar aos
erros pelos quais antes
teria sacrificado a
vida. VI – Não se impõem
ideias novas a um povo.
Para que ele as aceite
sem perturbação
lamentável, é preciso
habituá-lo pouco a
pouco, fazendo-o
reconhecer suas
vantagens. Há muito a
fazer no Oriente, mas a
ação do homem sozinha
seria impotente para
operar uma transformação
radical. É-lhe
necessário o concurso
dos Espíritos. (Págs.
342 a 344.)
150. Em mensagem
transmitida na Sociedade
de Paris em 23 de
outubro de 1868, um
Espírito analisa a
questão da prática do
Espiritismo e diz que,
para a exercer com
eficácia, é preciso
estar bem penetrado da
filosofia espírita e
também de sua parte
moral, que é fácil de
conhecer, mas é a mais
difícil de praticar,
porque só o exemplo pode
fazer bem compreendê-lo.
“Fareis compreender
melhor a virtude dando
exemplo do que a
definição”, acrescentou
o comunicante, afirmando
que a parte filosófica
apresenta mais
dificuldades para ser
compreendida e, por
isso, requer mais
esforços. “Os adeptos
que buscam ser
militantes – acrescenta
o Espírito – devem
pôr-se à obra para bem a
conhecer, pois é a arma
com a qual combaterão
com mais sucesso.”
(Págs. 344 a 346.)
151. Mensagem
transmitida em 16 de
outubro de 1868 por De
Courson (Espírito) traz
oportunas reflexões
sobre o recolhimento
necessário às sessões
mediúnicas. Segundo ele,
o recolhimento dos
encarnados, que
qualifica de silêncio,
está muito longe de
aproximar-se do
recolhimento dos
desencarnados presentes.
É que o corpo observa o
silêncio, mas a alma não
respeita e mesmo
perturba, com
pensamentos diversos, o
recolhimento dos que a
rodeiam. (Págs. 346 e
347.)
(Continua no próximo
número.)