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Crônicas e Artigos

Ano 5 - N° 214 - 19 de Junho de 2011

GEBALDO JOSÉ DE SOUSA 
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás (Brasil)


Ciência do infinito


“Anos são precisos para formar-se um médico (...). Como pretender-se em algumas horas adquirir a Ciência do Infinito?”
1

“(...) Como Espírito que és, tens que progredir na ciência do infinito. Daí o passares pelas provas do mal, para chegares ao bem. (...)” 2

        

Conta-se que um prisioneiro, por vinte anos, passou a pão e água, em local sombrio. Um dia percebeu que a porta da prisão estivera sempre aberta. Saiu e buscou o sol, o verde, o ar puro e a liberdade! Perdera longo tempo de sua vida por falta de iniciativa!

A breve narrativa ilustra a ignorância de que somos prisioneiros, por absoluta preguiça mental.

E a porta do saber está sempre aberta! Mas acomodamo-nos à “prisão”. Conduta essa incompatível com a condição de Espíritos eternos, cuja evolução deve ser buscada consciente e prioritariamente.

É mais que tempo de buscarmos o estudo que liberta.

A Doutrina Espírita é meio adequado a essa realização, pois, bem assimilada, suaviza essa caminhada de Espíritos a caminho da luz, abreviando ou eliminando dores, por nos favorecer o entendimento das Leis Cósmicas.

Com muita propriedade, Allan Kardec a intitula Ciência do Infinito, enfatizando a necessidade de seu estudo perseverante, assíduo:

“(...) o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão grande, pode ser feito com utilidade por homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado”. 3

“Nunca (...) dissemos que esta ciência fosse fácil, nem que se pudesse aprendê-la brincando, o que, aliás, não é possível, qualquer que seja a ciência. Jamais teremos repetido bastante que ela demanda estudo assíduo e por vezes muito prolongado.” 4

Afinal, que há de tão importante nessa Doutrina, indagará o leigo, para ser assim valorizada pelos espíritas e por seu Codificador, Allan Kardec, a ponto de dedicar-se, este último, a seu estudo e divulgação, a partir de seus cinquenta anos, em 1854, até desencarnar, aos sessenta e cinco de idade, em 31.03.1869?

Responde ele próprio, em artigo intitulado “O que ensina o Espiritismo” 5 – do qual transcrevemos excertos –, publicado em obra pouco conhecida e estudada, mesmo entre os que se dizem espíritas. Pois não basta assistir a reuniões públicas e receber passes, para ser verdadeiro espírita. Indispensável estudá-la e buscar viver seus ensinos, aliando ao estudo o trabalho e a reforma íntima, corrigindo vícios e adquirindo virtudes.

Eis suas palavras:

“1º - (...) dá (...) a prova patente da existência e da imortalidade da alma. (...)

2º - Pela firme crença que desenvolve, exerce ação poderosa sobre o moral do homem; leva-o ao bem, consola-o nas aflições, dá-lhe força e coragem nas provações da vida e o desvia do pensamento do suicídio.

3º - Retifica todas as ideias falsas que se tivessem sobre o futuro da alma, sobre o céu, o inferno, as penas e as recompensas; destrói radicalmente, pela irresistível lógica dos fatos, os dogmas das penas eternas e dos demônios; numa palavra, descobre-nos a vida futura e no-la mostra racional e conforme à justiça de Deus (...).

4º - Dá a conhecer o que se passa no momento da morte; este fenômeno, até hoje insondável, não mais tem mistérios; as menores particularidades dessa passagem tão temida são hoje conhecidas; ora, como todo mundo morre, tal conhecimento interessa a todo mundo.

5º - Pela lei da pluralidade das existências, abre um novo campo à filosofia; o homem sabe de onde vem, para onde vai; com que objetivo está na Terra. Explica a causa de todas as misérias humanas, de todas as desigualdades sociais.

6º - Pela teoria dos fluidos perispirituais, dá a conhecer o mecanismo das sensações e das percepções da alma; explica os fenômenos da dupla vista, da visão a distância, do sonambulismo, do êxtase, dos sonhos, das visões, das aparições etc.; abre um novo campo à fisiologia e à patologia.

7º - Provando as relações existentes entre os mundos corporal e espiritual, mostra neste último uma das forças ativas da natureza, um poder inteligente e dá a razão de uma porção de efeitos atribuídos a causas sobrenaturais, e que alimentaram a maioria das ideias supersticiosas.

8º - Revelando o fato das obsessões, faz conhecer a causa, até aqui desconhecida, de numerosas afecções, sobre as quais a ciência se havia equivocado, em detrimento dos doentes, e dá os meios de os curar.

9º - Dando-nos a conhecer as verdadeiras condições da prece e seu modo de ação, revelando-nos a influência recíproca dos Espíritos encarnados e desencarnados, ensina-nos o poder do homem sobre os Espíritos imperfeitos para os moralizar e os arrancar aos sofrimentos inerentes à sua inferioridade.

10º - Dando a conhecer a magnetização espiritual, que era desconhecida, abre ao magnetismo uma nova via e lhe traz novo e poderoso elemento de cura.”

A moral que adota é a do Evangelho, eis que nenhuma outra existe superior à que nos trouxe Jesus, o Mestre incomparável! Traduz a Boa Nova em ações.

À vista dessa breve síntese, indagamos: tem razão, ou não, o ilustre Codificador, ao denominá-la Ciência do Infinito? É realmente sublime roteiro de luz!

Cabe-nos, a nós, abolir comodismo e preguiça mental. É dever estudá-la e compreendê-la, afeiçoando nossas vidas a seus ensinos. E divulgá-la com amor, para que outros se beneficiem de suas luzes, e realizem evolução consciente.

O próprio Codificador6 orienta-nos sobre a sequência em que deve ser estudada essa Doutrina libertadora: iniciar pelo “O que é o Espiritismo” e prosseguir, nessa ordem: “O Livro dos Espíritos”; “O Livro dos Médiuns”; “O Evangelho segundo o Espiritismo”; “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”.

É ele ainda quem nos afirma que a compreensão da teoria facilitar-nos-á a aceitação dos fatos e o entendimento de quaisquer outros ensinos posteriores. Comecemos, assim, da base, do princípio!

Além desses estudos, são inúmeros os cursos de Doutrina Espírita ministrados nas Instituições Espíritas, graciosamente, favorecendo seu conhecimento e aprendizado

 

Referências bibliográficas: 

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 84. ed. Rio de Janeiro: FEB. 2003, Introdução, Cap. XIII, p. 38/39;

2. Livro II – Cap. IX, Q. 466, p. 248.

3. Id. Ibid., Cap. VIII, p. 31;

4. Id. Ibid., Cap. XII, p. 38;

5. KARDEC, Allan. Revista Espírita. São Paulo: EDICEL. 1865, p. 222-3;

6. KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. 50. ed. Rio de Janeiro: FEB. 2004, p. 149.



 


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