GEBALDO JOSÉ DE
SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás
(Brasil)
Ciência do
infinito
“Anos são
precisos para
formar-se
um médico (...). Como pretender-se em algumas horas adquirir a Ciência do
Infinito?”
1
“(...) Como
Espírito que és,
tens que
progredir na
ciência do
infinito. Daí o
passares pelas
provas do mal,
para chegares ao
bem. (...)”
2
Conta-se
que um prisioneiro,
por vinte anos,
passou a
pão e
água,
em local
sombrio. Um dia
percebeu
que
a
porta
da
prisão
estivera
sempre
aberta. Saiu e buscou o sol, o verde, o
ar puro
e a
liberdade!
Perdera longo tempo de sua vida por falta de iniciativa!
A
breve narrativa ilustra a ignorância
de
que
somos
prisioneiros,
por absoluta
preguiça mental.
E a
porta
do saber está sempre aberta! Mas
acomodamo-nos à
“prisão”.
Conduta
essa
incompatível
com
a
condição
de Espíritos eternos, cuja evolução deve ser buscada consciente e prioritariamente.
É
mais que tempo de
buscarmos o
estudo
que
liberta.
A
Doutrina Espírita é meio
adequado a essa
realização, pois, bem assimilada, suaviza essa
caminhada
de
Espíritos
a
caminho
da
luz,
abreviando
ou
eliminando dores, por nos favorecer o entendimento das Leis
Cósmicas.
Com
muita propriedade, Allan Kardec a intitula Ciência do Infinito,
enfatizando a
necessidade
de seu estudo
perseverante,
assíduo:
“(...) o estudo de uma doutrina,
qual a Doutrina
Espírita, que
nos lança
de súbito numa
ordem
de coisas tão nova quão grande, só pode
ser feito com
utilidade por
homens sérios, perseverantes, livres
de
prevenções
e
animados
de firme e
sincera
vontade
de chegar a um
resultado”.
3
“Nunca (...)
dissemos
que
esta
ciência
fosse
fácil,
nem
que se pudesse aprendê-la brincando, o que, aliás, não é possível,
qualquer que
seja a
ciência.
Jamais teremos
repetido bastante que ela demanda estudo assíduo
e
por
vezes
muito
prolongado.”
4
Afinal,
que
há de
tão
importante
nessa
Doutrina,
indagará o leigo, para
ser
assim valorizada
pelos
espíritas e por
seu Codificador,
Allan Kardec, a
ponto
de dedicar-se, este último, a seu estudo e divulgação, a partir de seus cinquenta anos,
em 1854, até
desencarnar, aos sessenta e
cinco
de
idade,
em
31.03.1869?
Responde
ele próprio, em artigo intitulado “O que
ensina o Espiritismo” 5 – do qual transcrevemos excertos
–, publicado
em
obra
pouco conhecida
e estudada,
mesmo
entre
os
que
se dizem
espíritas.
Pois não basta assistir a reuniões públicas e receber
passes, para ser verdadeiro espírita. Indispensável
estudá-la e
buscar
viver seus ensinos,
aliando ao
estudo
o
trabalho
e a reforma
íntima,
corrigindo vícios e adquirindo virtudes.
Eis
suas palavras:
“1º - (...) dá
(...) a
prova
patente da
existência
e da
imortalidade
da alma. (...)
2º -
Pela firme crença que desenvolve, exerce ação
poderosa sobre
o
moral
do
homem;
leva-o ao
bem,
consola-o nas
aflições,
dá-lhe
força
e
coragem
nas
provações
da
vida
e o
desvia
do
pensamento
do
suicídio.
3º - Retifica
todas as ideias
falsas que se tivessem sobre
o
futuro
da
alma,
sobre o céu,
o
inferno,
as
penas
e as
recompensas;
destrói radicalmente, pela
irresistível
lógica
dos
fatos,
os
dogmas
das
penas
eternas e dos demônios; numa palavra,
descobre-nos a
vida
futura
e no-la
mostra
racional
e
conforme
à
justiça
de
Deus
(...).
4º - Dá a
conhecer
o que se passa no
momento da morte;
este fenômeno,
até hoje
insondável, não
mais tem
mistérios;
as
menores
particularidades
dessa
passagem
tão
temida
são
hoje
conhecidas;
ora,
como
todo mundo
morre,
tal
conhecimento
interessa a
todo
mundo.
5º -
Pela lei da pluralidade
das
existências,
abre um novo campo à filosofia;
o
homem
sabe de
onde
vem,
para
onde
vai;
com
que
objetivo está na Terra. Explica a causa de todas as misérias
humanas, de
todas as
desigualdades
sociais.
6º -
Pela teoria dos fluidos
perispirituais,
dá a
conhecer
o
mecanismo
das
sensações
e das
percepções
da
alma;
explica os
fenômenos
da
dupla
vista,
da
visão
a
distância,
do sonambulismo,
do
êxtase,
dos
sonhos,
das
visões,
das aparições
etc.; abre um novo campo à fisiologia
e à
patologia.
7º - Provando as
relações
existentes
entre
os
mundos
corporal e
espiritual,
mostra neste último
uma das
forças
ativas
da
natureza,
um
poder inteligente
e dá a
razão
de uma
porção
de
efeitos
atribuídos a causas sobrenaturais,
e
que
alimentaram a
maioria
das ideias
supersticiosas.
8º - Revelando o
fato
das
obsessões,
faz
conhecer
a
causa,
até aqui desconhecida,
de numerosas
afecções, sobre as quais
a
ciência
se havia
equivocado, em detrimento
dos
doentes,
e dá os meios de os curar.
9º - Dando-nos a
conhecer
as verdadeiras
condições
da prece e seu modo de ação, revelando-nos a
influência
recíproca dos
Espíritos
encarnados e desencarnados, ensina-nos o
poder do homem
sobre os
Espíritos
imperfeitos para
os
moralizar
e os
arrancar
aos sofrimentos
inerentes
à sua inferioridade.
10º - Dando a
conhecer
a
magnetização
espiritual,
que era
desconhecida, abre ao magnetismo uma nova
via e lhe
traz
novo e
poderoso
elemento de cura.”
A
moral que adota é a do Evangelho,
eis que
nenhuma
outra
existe superior à que nos trouxe Jesus, o Mestre
incomparável! Traduz a Boa Nova em ações.
À
vista
dessa
breve síntese,
indagamos: tem
razão, ou não, o ilustre Codificador, ao
denominá-la
Ciência do
Infinito?
É realmente sublime
roteiro de luz!
Cabe-nos, a
nós,
abolir comodismo e preguiça
mental. É dever estudá-la
e compreendê-la,
afeiçoando
nossas
vidas
a
seus
ensinos.
E divulgá-la
com
amor,
para que outros se beneficiem de suas
luzes, e realizem
evolução
consciente.
O
próprio
Codificador6
orienta-nos
sobre
a sequência em que deve ser estudada essa Doutrina
libertadora:
iniciar
pelo
“O
que
é o
Espiritismo”
e
prosseguir,
nessa
ordem:
“O
Livro
dos
Espíritos”;
“O
Livro
dos
Médiuns”;
“O
Evangelho
segundo o Espiritismo”; “O Céu
e o
Inferno”
e “A Gênese”.
É
ele ainda quem nos
afirma
que
a
compreensão
da teoria
facilitar-nos-á
a
aceitação
dos fatos e o entendimento
de quaisquer
outros
ensinos
posteriores. Comecemos, assim, da base,
do
princípio!
Além desses
estudos,
são inúmeros os
cursos
de
Doutrina
Espírita
ministrados nas Instituições Espíritas,
graciosamente, favorecendo seu conhecimento
e
aprendizado.
Referências
bibliográficas:
1. KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos.
84. ed. Rio de
Janeiro:
FEB. 2003, Introdução, Cap. XIII, p. 38/39;
2. Livro II – Cap.
IX, Q. 466, p.
248.
3. Id. Ibid.,
Cap. VIII, p.
31;
4. Id. Ibid.,
Cap. XII, p. 38;
5. KARDEC,
Allan.
Revista
Espírita. São Paulo: EDICEL. 1865, p. 222-3;
6. KARDEC,
Allan. O que é o Espiritismo.
50. ed.
Rio de
Janeiro:
FEB. 2004, p.
149.