O Espiritismo perante a
Ciência
Gabriel
Delanne
(Parte
13)
Damos continuidade nesta edição
ao
estudo do livro O
Espiritismo perante a
Ciência,
de Gabriel Delanne,
conforme
tradução da obra
francesa Le
Spiritisme devant la
science,
publicada originalmente
em Paris em 1885.
Questões preliminares
A. Onde podemos
encontrar a gênese da
corrente materialista
surgida no século 18?
Foi o enfraquecimento
das concepções
religiosas em face do
avanço das pesquisas
astronômicas e das
ciências em geral. A
concepção de Universo
até então ensinada com o
apoio da Igreja ruiu com
os estudos de Copérnico
e Galileu. Ampliaram-se
os conhecimentos humanos
e, com isso, o infinito
descobriu os seus
espaços. As estrelas não
eram mais pontos
brilhantes disseminados
pela mão do Criador,
para iluminar as noites,
mas mundos imensos que
rolam no vazio, sóis
radiantes, que arrastam
em sua corrida, através
do infinito, um cortejo
de planetas. O Universo
inteiro ostentou diante
do homem os esplendores
de sua harmonia eterna,
a simetria inalterável
de suas transformações,
sua imutabilidade, sua
imensidade! Diante de
tão novos espetáculos,
reconheceram os homens a
inanidade de suas
crenças primitivas,
queimaram o que haviam
adorado e, levando o
desdém do passado aos
últimos limites,
repeliram a noção de
Deus e a da alma, como
de entidades vetustas,
sem nenhum valor
objetivo. Assim se
estabeleceu a corrente
materialista nascida no
século 18 da luta contra
os abusos.
(O Espiritismo perante
a Ciência, Terceira
Parte, Cap. I - Provas
da imortalidade da alma
pela experiência.)
B. Há duas fases
distintas na história do
Espiritismo. Quais são
elas?
A primeira compreende o
período que vai do ano
de 1846, data de sua
aparição, até o ano de
1869, que foi o da morte
de Allan Kardec. Durante
esse tempo, estudou-se
em toda parte o fenômeno
espírita, as
experiências se
multiplicaram e os
observadores sérios
descobriram que os fatos
novos eram produzidos
por inteligências que
viviam uma existência
diferente da nossa.
Dessa certeza nasceu o
desejo de estudar tão
curiosas manifestações,
e, com documentos
recolhidos em toda
parte, Allan Kardec,
compôs O Livro dos
Espíritos e, mais
tarde, O Livro dos
Médiuns, que são o
indispensável às pessoas
desejosas de se
iniciarem nessas novas
práticas. O segundo
período, que se estende
de 1869 até os nossos
dias, é caracterizado
pelo movimento
científico, que se
voltou para as
manifestações dos
Espíritos.
(Obra citada, Terceira
Parte, Cap. I - Provas
da imortalidade da alma
pela experiência.)
C. Em que data ocorreram
os fatos que tornaram a
família Fox e Hydesville
conhecidos em todo o
mundo?
Foi no dia 31 de março
de 1848 que se registrou
a primeira conversa
estabelecida nos tempos
modernos entre os seres
deste e do outro mundo,
e com isso nascia o
chamado Espiritismo
moderno.
(Obra citada, Terceira
Parte, Cap. I - Provas
da imortalidade da alma
pela experiência.)
Texto para leitura
326. Braid pretendera
estabelecer, por suas
experiências, que o
sonambulismo magnético
não era determinado pela
ação fluídica do
operador sobre o
paciente. Ele empregava
irritantes físicos para
produzir o sono, mas só
tinha visto um lado da
questão. Poder-se-ia
responder-lhe, agindo
com os anestésicos, que
só esses agentes eram
capazes de produzir o
sonambulismo. Em suma,
de todos esses reparos,
se verifica que a alma
se desprende, quando o
sistema nervoso
sensitivo está
paralisado.
327. Cremos, portanto,
bem estabelecido, que os
diferentes estados do
corpo humano conhecidos
pelos nomes de
sonambulismo natural,
sonambulismo magnético,
hipnotismo e estado
anestésico são devidos,
simplesmente, à ação de
irritantes de diversas
naturezas do sistema
nervoso sensitivo.
328. A
fascinação é o primeiro
grau da ação
modificadora, a letargia
é um estado mais
acentuado do fenômeno, o
sonambulismo é a ação
integral do irritante
sobre o sistema nervoso
e, enfim, a catalepsia é
o exagero da ação
irritante, o começo dos
estados mórbidos.
329. Este é o lado
puramente material de
tais fenômenos. Os
aspectos psíquicos, que
se têm querido atribuir
a uma superexcitação dos
sentidos, são devidos ao
desprendimento da alma.
Enquanto não se nos
tiver demonstrado que
estamos em erro por
outros argumentos que
não os que se têm
apresentado até agora,
temos o direito de
afirmar que a existência
da alma está
experimentalmente
provada pelos fatos do
magnetismo, do
hipnotismo e da
anestesia.
330. À pergunta – existe
a alma? – a ciência
responde talvez, os
fenômenos do magnetismo,
do hipnotismo e da
anestesia dizem que sim,
e nisso confirmam todas
as deduções da filosofia
e as afirmações da
consciência.
331. Constrangidos, pela
evidência dos fatos, a
admitir uma força
diretriz no homem,
grande número de
materialistas se
refugiam em uma última
negativa, sustentando
que essa energia se
extingue com o corpo, de
que ela não era senão
uma emanação. Como todas
as forças físicas e
químicas, dizem eles, a
alma, essa resultante
vital, cessa com a causa
que a produz; morto o
homem, está aniquilada a
alma.
332. Será possível? Não
seremos mais que um
simples conglomerado
vulgar de moléculas sem
solidariedade umas com
as outras? Deve
desaparecer para sempre
nossa individualidade
cheia de amor e, do que
foi um homem, não
restará verdadeiramente
senão um cadáver
destinado a
desagregar-se,
lentamente, na fria
noite do túmulo?
333. Temos, contudo,
provas seguras da
existência da alma após
a morte; podemos
estabelecer
irrefutavelmente que
estamos com a verdade, e
isto com o auxílio de
experiências simples,
práticas, ao alcance de
todos, e para cuja
explicação não se faz
mister um gênio
transcendente. O
ignorante pode, como o
sábio, ter uma
convicção, e esse
resultado é devido a uma
ciência nova – o
Espiritismo.
334. A
fé cega, imposta pelos
padres, produziu erros e
crimes sem número,
contra os quais se
revoltou o espírito
humano, livre dos
preconceitos. Ninguém
encara, sem horror, as
matanças dos valdenses,
dos albigenses, dos
camisardos. Os fanáticos
que condenaram Galileu
nada conheciam das
maravilhas do Universo;
a fé estreita e
intolerante que possuíam
só podia gerar a
ignorância e a
credulidade.
335. Os cristãos da
idade média faziam
mesquinha ideia de nosso
Mundo, que só conheciam
em parte.
Consideravam-no como a
base do Universo; não
viam no Céu senão a
morada de Deus e nas
estrelas mais que pontos
luminosos. Tinham,
assim, estabelecido uma
hierarquia grosseira,
colocando o inferno no
centro da Terra e o
paraíso acima do Sol, de
sorte que éramos o eixo
de toda a criação, e
fora do nosso mundículo
nada existia.
336. A
Astronomia, porém, veio
destruir essa fabulosa
concepção. Ampliaram-se
os nossos conhecimentos
e aos nossos olhos,
enlevados, o infinito
descobriu os seus
espaços. As estrelas não
são mais pontos
brilhantes disseminados
pela mão do Criador,
para iluminar as noites,
porém mundos imensos que
rolam no vazio, sóis
radiantes, que arrastam
em sua corrida, através
do infinito, um cortejo
de planetas. A
imensidade nos apareceu
com suas profundezas
insondáveis; sabemos que
nossa Terra é parte
ínfima dessa poeira de
mundos que turbilhonam
no éter, de sorte que as
crenças baseadas em
nosso orgulho
apagaram-se ao sopro da
realidade.
337. O Universo inteiro
ostentou diante de nós
os esplendores de sua
harmonia eterna, a
simetria inalterável de
suas transformações, sua
imutabilidade, sua
imensidade! Diante de
tão novos espetáculos,
reconheceram os homens a
inanidade de suas
crenças primitivas,
queimaram o que haviam
adorado e, levando o
desdém do passado aos
últimos limites,
repeliram a noção de
Deus e a da alma, como
de entidades vetustas,
sem nenhum valor
objetivo. Assim se
estabeleceu a corrente
materialista nascida no
18º século, da luta
contra os abusos.
338. O homem de nossa
época não quer mais
crer, desconfia mesmo da
razão e se refugia na
experiência sensível
como a única que lhe
pode trazer a verdade;
eis por que exige
provas positivas dos
fenômenos que eram, até
então, do domínio da
filosofia, o que explica
o pouco êxito de
escritores eminentes
como Ballanche, Constant
Savy, Esquiros, Charles
Bonnet e Jean Reynaud,
que pregaram a
imortalidade da alma.
339. Em nossos dias, um
filósofo e sábio,
Camille Flammarion,
segue a rota gloriosa
desses grandes homens.
Este vulgarizador de
gênio semeia a mancheias
as ideias da
palingenesia humana, e
os resultados
correspondem a seus
nobres esforços; ele
deve, porém, a fama que
alcançou, mais à beleza
do estilo que às ideias
que emite. O espírito
humano, agitado há
séculos entre os mais
diversos sistemas, está
cansado das especulações
metafísicas e se aferra
à observação material
como a uma tábua de
salvação. Daí o grande
crédito dos homens de
ciência no momento
atual. Eles formam uns
corpos sagrados, cujos
julgamentos não têm
apelação. Possuem a
soberba dos antigos
colégios sacerdotais,
sem lhes partilhar as
raras virtudes, e em
ambas as partes a
intolerância é a mesma.
340. A
maioria do povo, que só
percebe o exterior das
coisas, vendo os
conhecimentos antigos
destruídos pelos
descobrimentos modernos,
crê cegamente em seus
novos condutores e se
lança, após eles, no
materialismo absoluto.
Não mais se raciocina;
vai-se de cabeça baixa
às últimas
consequências, e, porque
está provado que o
cérebro é a sede do
pensamento, já não
existe a alma; porque
não se acredita mais em
Jeová a pairar sobre as
nuvens, Deus não passa
de fabuloso mito.
341. Contra essas
tendências é que o
Espiritismo vem reagir.
Sendo o nosso século o
da demonstração
material, ele apresenta
ao observador imparcial
fatos bem verificados,
deixa de parte as
teorias nebulosas,
desprende-se dos dogmas
e das superstições e vai
apoiar-se na base
inabalável da observação
científica.
342. Há 50 anos que essa
doutrina reapareceu no
Mundo, foi submetida a
críticas apaixonadas, a
ataques muitas vezes
desleais. Seus adeptos
foram escarnecidos,
ridicularizados,
anatematizados; quis-se
fazer deles os últimos
representantes da
feitiçaria; entretanto,
apesar das perseguições,
acham-se na hora atual
mais numerosos e mais
poderosos do que nunca;
encontram-se, não entre
os ignorantes, mas entre
os esclarecidos, os
escritores, os artistas,
os sábios. A que é
devida essa progressão
formidável? Tão-só à
simplicidade dos ensinos
espiritistas, baseados
na justiça de Deus, e,
sobretudo, aos meios
práticos que essa nova
ciência emprega para
convencer a todos da
imortalidade da alma.
343. Há duas fases
distintas na história do
Espiritismo, que é útil
assinalar. A primeira
compreende o período que
vai do ano de 1846, data
de sua aparição, até o
ano de 1869, que foi o
da morte de um escritor
célebre, Allan Kardec.
Durante esse tempo,
estudou-se em toda parte
o fenômeno espírita, as
experiências se
multiplicaram e os
observadores sérios
descobriram que os fatos
novos eram produzidos
por inteligências que
viviam uma existência
diferente da nossa.
Dessa certeza nasceu o
desejo de estudar tão
curiosas manifestações,
e, com documentos
recolhidos em toda
parte, Allan Kardec,
compôs O Livro dos
Espíritos e, mais
tarde, O Livro dos
Médiuns, que são o
indispensável às pessoas
desejosas de se
iniciarem nessas novas
práticas.
344. O segundo período,
que se estende de 1869
até os nossos dias, é
caracterizado pelo
movimento científico,
que se voltou para as
manifestações dos
Espíritos. A Inglaterra,
a Alemanha, a América
parecem caminhar de
acordo nessas pesquisas.
Já os mais autorizados
sábios desses países
proclamam alto a
realidade dos fenômenos
espiritistas.
344. Passou o tempo em
que se podia, a
priori, repelir as
nossas ideias sem lhes
dar a honra de as
discutir; hoje, o
Espiritismo se impõe à
atenção pública. É
preciso que os absurdos
preconceitos que o
acolheram no berço
desapareçam diante da
realidade. É necessário
saber que, longe de
serem visionários, de
possuírem cérebro oco,
os espiritistas são
observadores frios e
metódicos, que só
relatam os fatos bem
observados.
345. A
nova ciência que
ensinamos não consiste,
somente, no movimento de
uma mesa, porque, tão
grande é a distância que
vai destes modestos
ensaios às suas
consequências, quão a
maçã de Newton à
gravitação universal. O
Espiritismo repele o
milagre com todas as
forças. Faz de Deus o
ideal da justiça e da
ciência; diz que o
Criador do Mundo, tendo
estabelecido leis que
exprimem seu pensamento,
não pode derrogá-las,
pois que elas são a obra
da razão suprema e é
impossível qualquer
infração a essas leis.
346. A
parte espiritual do
homem foi desprezada
pelos sábios; seus
trabalhos versavam
tão-só sobre o corpo e
eis que os Espíritos
invadem a Ciência que os
havia desdenhado.
347. Narremos
sucintamente como se
produziram os fatos.
Pancadas, de que não se
podia adivinhar a causa,
se fizeram ouvir pela
primeira vez em 1846, na
casa de um tal Veckmann,
numa pequena aldeia
chamada Hydesville, não
longe da Arcádia, no
Estado de Nova York.
Nada foi desprezado para
descobrir-se o autor dos
ruídos misteriosos; mas
tudo resultou inútil.
Uma vez, também, durante
a noite, a família
acordou com os gritos da
mais jovem das filhas,
de oito anos de idade,
que assegurou ter
sentido qualquer coisa
como uma mão que tivesse
percorrido o leito e,
enfim, passado sobre o
seu rosto, o que se dera
em muitos outros lugares
em que as pancadas se
fizeram ouvir.
348. Desde esse momento
nada mais se manifestou,
durante seis meses,
quando a família deixou
a casa, que passou a ser
habitada por um
metodista, John Fox, e
sua família, composta de
mulher e duas filhas.
Durante três meses a
família aí viveu
tranquilamente; depois
as pancadas recomeçaram
com maior intensidade.
349. A
princípio eram ruídos
ligeiros, como se alguém
batesse no assoalho de
um dos quartos de
dormir, que vibrava a
cada ruído; as pessoas
deitadas percebiam a
vibração e a comparavam
à ação produzida pela
descarga de uma bateria
elétrica. As pancadas se
faziam ouvir sem
interrupção e não era
possível dormir na casa;
durante toda a noite
esses ruídos leves,
vibrantes,
manifestavam-se
suavemente, mas sem
cessar.
350. Fatigada, inquieta,
sempre à espreita, a
família decidiu-se,
enfim, a chamar os
vizinhos para auxiliá-la
a descobrir a chave do
enigma. Desde então, as
pancadas misteriosas
detiveram a atenção de
todos. Colocavam na casa
grupos de seis ou oito
indivíduos, ou então
saíam todos, e o agente
invisível batia sempre.
A 31 de março de 1848,
não tendo podido a
Senhora Fox e suas
filhas dormir na noite
precedente, já exaustas,
deitaram-se, cedo, no
mesmo quarto, esperando,
assim, escapar às
manifestações que se
produziam,
ordinariamente, alta
noite. O Senhor Fox
estava ausente. Mas as
pancadas recomeçaram
logo e as duas moças,
despertadas pelo ruído,
puseram-se a imitá-lo,
fazendo estalar os
dedos. Viram, com grande
espanto, que as pancadas
respondiam a cada
estalo; então, a mais
jovem, miss Kate, quis
verificar este fato
surpreendente: ela deu
um estalo, ouviu-se uma
pancada, dois, três... e
o ser ou agente
invisível respondia
sempre com o mesmo
número de pancadas. A
irmã, gracejando, disse:
– Agora, faça como eu,
conte um, dois, três,
quatro... – e batia na
mão o número indicado.
As pancadas se seguiram
com a mesma precisão,
mas, como a mais moça
das meninas se alarmasse
com este sinal de
inteligência, ela cessou
logo a experiência.
351. Disse, então, a Sra
Fox: – “Conte dez” – e
imediatamente dez golpes
se fizeram ouvir. Ela
acrescentou: – “Quer
dizer a idade de minha
filha Catarina?” E as
pancadas indicaram o
número de anos que tinha
essa criança. Perguntou
depois a Senhora Fox se
era um ser humano o
autor das pancadas. Não
houve resposta. Disse
ela ainda: – “Se é um
espírito dê duas
pancadas.” Imediatamente
elas se fizeram sentir.
– “Se é um espírito a
quem fizeram mal,
responda da mesma
forma.” – E as pancadas
foram ouvidas.
352. Tal foi a primeira
conversa estabelecida
nos tempos modernos e
verificada entre os
seres deste e do outro
mundo. Assim chegou a
Senhora Fox a saber que
o Espírito que lhe
respondia fora o de um
homem assassinado, havia
muitos anos, na casa que
ela habitava; que se
chamara Charles Ryan
1; que era
caixeiro viajante, e
tinha 31 anos de idade
quando a pessoa que o
hospedara o assassinou
para tirar-lhe o
dinheiro.
353. Os vizinhos
chamados não tardaram a
chegar, contando rir à
custa da família Fox;
mas a exatidão dos
pormenores fornecidos
pelas pancadas, em
resposta às perguntas
dirigidas ao ser
invisível, sobre os
negócios particulares de
cada um, convenceram os
mais incrédulos.
Espalhou-se longe a fama
desses fatos e logo
vieram de toda parte
sacerdotes, juízes,
médicos e uma multidão
de pessoas. (Continua no próximo
número.)
1
Para alguns autores que
escreveram sobre
Hydesville, como Arthur
Conan Doyle, o nome
mencionado pelo Espírito
é Charles B. Rosma, não
Charles Ryan. O fato
deve ter como causa o
processo adotado na
comunicação então
obtida, que se fez por
meio de pancadas.