MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Brasília,
Distrito Federal
(Brasil)
O titular da
ação
Momentos
recentes da
política
nacional
trouxeram
novamente a
discussão da
legalização do
aborto para a
pauta nacional,
em um contexto
de polarização
entre religiosos
e feministas/progressistas,
nos debates
inflamados e até
violentos,
permeados por
disputas
eleitorais e de
grupos
organizados de
poder, onde
vários
movimentos
religiosos
cerraram
fileiras sob a
questão da
criminalização
do aborto, como
se esse já não
fosse um crime
desde 1940, dada
a sua previsão
nos artigos 124
a 126 do Código
Penal, em
período que
ultrapassa
diversas
gerações e
perceptíveis
mudanças de
costumes.
Nesses embates
calorosos,
observa-se que
terminamos por
reduzir a luta
em defesa da
vida somente à
sua dimensão
político-legislativa,
que, a despeito
de sua grande
importância como
posição
conquistada, não
encerra as
questões
subjacentes à
interrupção
voluntária da
gravidez, que na
afronta aos
mecanismos
legais e órgãos
repressores
continua a
ocorrer no
cotidiano da
clandestinidade
e na opulência
das clínicas
luxuosas, ou até
na simplicidade
de remédios
caseiros
oriundos dos
costumes
populares, em um
leque de
soluções
imediatistas que
calam a
consciência no
assassinato de
vidas indefesas.
Assim, a
discussão desse
breve artigo
busca romper
essa lógica
enviesada de que
apenas a luta no
campo
legislativo dá
conta da
complexa questão
da defesa da
vida, pois o
titular da ação
desse ato
abominável
transita entre
nós, no ambiente
profissional,
familiar,
religioso e
urbano, exigindo
de nós outras
estratégias
nessa luta.
Recente pesquisa
da Universidade
de Brasília em
parceria com o
Instituto de
pesquisa Anis,
divulgada em
julho de 2010,
revela que uma
em cada sete
brasileiras
entre 18 e 39
anos já realizou
ao menos um
aborto na vida e
que, dentre o
total de
mulheres que
declaram na
pesquisa já
terem feito pelo
menos um aborto,
64% são casadas
e 81% são mães.
Foi levantado
também que pouco
menos de 11/12
(onze doze avos)
das mulheres que
fizeram aborto
são católicas ou
evangélicas,
ainda que a
pesquisa não
cite os
espíritas e
outras
denominações
menos presentes
percentualmente
e não teça
considerações
sobre o nível de
envolvimento
dessas mulheres
com a prática
religiosa
professada.
Números
surpreendentes e
ainda que
venhamos a
respondê-los com
críticas sobre a
pesquisa
universitária
ser de origem
materialista e
que podem servir
de panfletagem
pró-aborto, os
dados ali
expostos
encontram eco no
cotidiano
percebido,
inclusive em
grupos de
declarada fé
religiosa.
Curiosamente,
outra pesquisa,
noticiada pelo
Portal IG em
5/12/2010,
indica que a
rejeição à ideia
do aborto tem
altos patamares,
tanto entre
religiosos (86%
dos evangélicos
rechaçam a
ideia) como
entre os que
dizem não ter
religião (78%).
Esses dados nos
conduzem à
reflexão e nos
servem de alerta
para a questão
de que o titular
da ação abortiva
não é uma mulher
estereotipada,
materialista,
andando à margem
da sociedade
pelas esquinas e
becos. Indicam
tratar-se de
pessoas comuns,
com famílias e
com
religiosidade
declarada
socialmente. Na
dicotomia do
“contra” x “a
favor”, ainda
que a opinião
geral seja
contra, na
verbalização de
uma luta que
julgamos ser
exógena, no
cotidiano essas
mesmas pessoas
praticam o
aborto.
A questão é que
esse problema
está inserido na
sociedade, e nos
incluímos nesta
como espíritas,
devendo em
nossas ações
focar esse
titular da ação
abortiva e as
suas motivações,
onde podemos
citar pesquisa
realizada nos
EUA em 2004 que
apontam, entre
outras: eu não
estou pronta
para uma
criança, eu não
tenho condições
financeiras, eu
não quero ser
mãe solteira,
eu não sou
madura o
suficiente para
cuidar de uma
criança, um
bebê iria
interferir na
minha
educação/carreira,
eu não quero que
os outros saibam
que eu tinha
relações
sexuais, meu
marido/namorado/pais
querem que eu
aborte.
Essas injunções
cotidianas
refletem
valores, onde o
genitor e a
genitora adotam
essa linha de
ação como
solução, em um
teste real de
sua crença viva,
o que é muito
mais consistente
que uma mera
opinião
apresentada
diante dos
amigos.
Nesse ponto,
devemos olhar de
frente a questão
e refletir que,
se realmente
defendemos a
vida, se
queremos reduzir
as estatísticas
abortivas no
país, devemos
focar no titular
da ação –
feminino ou
masculino, este
pela sua
influência –
para que nas
horas decisivas,
dos problemas do
mundo concreto,
ele possa agir
como cristão,
encontrando
estofo na sua fé
para não adotar
a porta larga
asseverada por
Jesus.
Fugir dessa
discussão é
admitir que ela
pertence ao
cotidiano dos
ateus-materialistas
e que ela não se
faz presente, de
forma casuística,
nas fileiras
religiosas,
inclusive nas
nossas; e que
apesar da defesa
aguerrida no
plano do
discurso,
miramos os
outros de forma
a ocultar a gama
de conflitos da
vida humana, que
a prática
religiosa
auxilia no
enfrentamento,
mas não nos
isenta deles,
como bem nos
lembrou os dados
da pesquisa da
Universidade de
Brasília.
Assim, a
discussão desse
assunto nas
palestras
públicas, nas
aulas de
evangelização e
nos demais
círculos de
estudo, não deve
desconsiderar
essa realidade,
desse público
alvo posto entre
nós e não oculto
nas trincheiras
do mundo
exterior à casa
espírita, já que
se trata de um
problema grave,
concreto e que
merece
enfrentamento da
melhor maneira
possível.
Assim, na
campanha a favor
da vida, na
idealização do
titular da ação
e de suas
motivações, que
o levam a
realizar essa
intervenção
dolorosa e
homicida, não
nos esqueçamos
de olhar para a
comunidade que
nos cerca,
promovendo a
reflexão sobre o
assunto em
nossas casas e
templos, para
que a visão da
questão não seja
mais uma posição
polarizadora em
um tema
polêmico, que
defendemos em
momentos
públicos
peculiares, mas
sim uma postura
vivida no plano
real, onde Jesus
e os amigos
espirituais
conhecem muito
bem cada um de
nós.