A. Quais são, em
filosofia, os
principais sistemas
que buscam explicar
a vida no homem?
São eles: 1º - o
vitalista; 2º - o
organicista; 3º - o
animista.
Observamos, porém,
que todos eles são
insuficientes,
porque se limitam a
encarar uma só face
da questão, em lugar
de vê-la no
conjunto.
(O Espiritismo
perante a Ciência,
Quarta Parte, Cap.
IV – Hipótese.)
B. Em que consiste o
sistema animista?
O sistema animista
explica tudo pela
ação única,
consciente ou
inconsciente da
alma. De fato, os
fenômenos
intelectuais são o
produto direto da
alma, mas as ações
da vida orgânica
devem ser atribuídas
a outra causa,
porque não se pode
compreender que uma
força imaterial
exerça ação sobre a
matéria do corpo.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. IV –
Hipótese.)
C. Qual é, segundo
os ensinos
espíritas, a causa
da vida vegetativa?
O princípio vital,
eis a causa da vida
vegetativa. É
preciso compreender,
porém, de que modo
se exercem as ações
automáticas que se
passam no corpo
humano. A noção do
perispírito nos faz
perceber como o
duplo fluídico pode
ser considerado o
regulador da vida
orgânica, o que, até
certo ponto, dá
razão ao sistema
organicista. Enfim,
o partidários do
sistema animista
podem aliar-se
conosco, dada a
maneira pela qual
explicamos a ação da
alma sobre o corpo.
(Obra citada, Quarta
Parte, Cap. IV –
Hipótese.)
Texto para leitura
715. Em filosofia
existe, para
explicar a vida no
homem, à parte o
materialismo, três
sistemas diferentes:
1º - os vitalistas;
2º - os
organicistas; 3º -
os animistas.
Passemos rapidamente
em revista estas
diferentes escolas.
716. Sabe-se, de
modo geral, que o
corpo cresce como os
vegetais, sente e se
move como o animal
e, enfim, que tem
uma existência
superior, que reside
na vida intelectual.
É preciso, pois, que
o sistema que
explica o homem
físico e moral
abrace essas três
ordens de fatos.
Vamos verificar que
são todos
insuficientes,
porque se limitam a
encarar uma só face
da questão, em lugar
de vê-la no
conjunto.
717. Os vitalistas
só querem reconhecer
no homem uma força,
o princípio vital, e
acham que ele basta
para explicar tudo.
Eis no que se apoia
a sua convicção.
Notam que existe
entre os fenômenos
da natureza
inorgânica e os da
matéria organizada
uma diferença
radical: os corpos
brutos obedecem a
leis que nos foi
dado conhecer e
formular, de maneira
que podemos, à
vontade, fazer a
análise e a síntese
de todas as
substâncias. Mas,
quando passamos dos
corpos brutos à
planta mais ínfima,
mais rudimentar,
impossível se nos
torna reproduzi-la,
quaisquer que sejam
as condições em que
operemos. Uma
simples folha de
árvore, que o vento
destaca, é um
mistério
impenetrável quanto
à sua produção. A
química pode
decompor essa folha,
saber o peso e a
natureza dos corpos
que entram em sua
composição, mas não
pode reproduzi-la,
porque não dispõe da
vida, que é a única
potência capaz de
organizar essa
matéria.
718. No corpo humano
esse princípio age
da mesma maneira que
na planta; nutre as
células dos tecidos,
substitui-as, sem
que a alma tenha
conhecimento, e
chega a agir depois
da morte, pois que
se encontraram
cadáveres em que os
cabelos e as unhas
haviam crescido.
Mas, se quisermos
explicar todos os
fenômenos que se
passam no homem pelo
simples jogo do
princípio vital,
defrontamos com
insuperáveis
dificuldades.
719. É preciso
distinguir
cuidadosamente os
efeitos vitais dos
produzidos pela
alma, porque entre
os dois gêneros de
ação existem
diferenças enormes.
Assim, por exemplo,
os fenômenos da
digestão, da
assimilação, da
circulação do sangue
se operam
independentes da
vontade, sem a
participação da
alma. Existe, pois,
um princípio vital,
mas que não pode
explicar todas as
modalidades humanas;
os vitalistas têm,
portanto, uma teoria
incompleta.
720. Os organicistas
pretendem explicar a
vida vegetal e a
vida animal pelo
simples jogo dos
órgãos, isto é, pela
atividade natural da
matéria. Baseiam-se
no fato de
poderem-se, em
determinadas
condições, submeter
insetos, como os
rotíferos e os
tardígrados, à morte
e à ressurreição; é,
pelo menos, como
qualificam o estado
desses animais antes
e depois da
operação. Basta, com
efeito, depois de
secar esses
animálculos, sob a
ação do frio, e
quando eles parecem
mortos, pô-los numa
estufa, que se eleva
gradualmente a cem
graus, para vê-los
voltar à vida,
quando os umedecem
depois do
resfriamento. Daí
concluem que o meio
físico faz tudo, o
organismo nada. Mas
o que prova que
esses filósofos
estão em erro é que
há uma temperatura
que se não pode
ultrapassar, sem que
o animal perca a
vida. Há nele,
portanto, um
princípio que
resiste à morte até
certo grau;
transposto este, a
força é destruída, o
que nos prova, uma
vez mais, a
existência do
princípio vital.
721. Os organicistas
se baseiam, também,
na transformação do
calor em força.
Gavarret
estabeleceu,
experimentalmente,
por fatos rigorosos,
verificados e
controlados por
fisiologistas
eminentes, que a
produção do calor, a
contração muscular e
a ação nervosa
derivam diretamente
da ação do oxigênio
do ar sobre os
materiais do sangue.
Essa reação química
é a única fonte da
força indispensável
ao organismo, para
executar os
movimentos que
compõem a vida.
Assim, nem alma, nem
princípio vital,
conclui o físico.
722. Para responder
a Gavarret, basta
notar que esses
fenômenos se
produzem nos corpos
animados, isto é, já
organizados pela
força vital. A
explicação do sábio
fisiologista é,
pois, simplesmente
uma informação sobre
a maneira como
funciona a vida nos
seres organizados,
mas não toca em nada
no próprio princípio
vital.
723. Os partidários
da precatada opinião
apoiaram-se também
nos fenômenos que se
passam no estômago e
nos pulmões;
estudaram as ações
produzidas por essas
duas vísceras e
chegaram a conhecer
as leis que as
dirigem. Concluíram
que não há
necessidade de
outras forças, além
das que entram em
jogo, neste caso,
para explicar a
vida.
724. Observaremos
que a quimificação
só se pode produzir,
estando vivo o
estômago, assim como
o pulmão não
respirará se o
animal não estiver
vivo, como o fizeram
ver Cuvier e
Flourens. Muller, o
fisiologista,
constata que “o
gérmen é uma matéria
sem forma, isto é,
uma massa não
organizada, que não
apresenta qualquer
espécie de órgão ou
de rudimento de
organização e,
entretanto, vive. A
força orgânica
existe, pois, no
gérmen, antes de
todos os órgãos”.
725. Os animistas,
enfim, esperam
explicar tudo pela
ação única,
consciente ou
inconsciente da
alma. Podemos
admitir que os
fenômenos
intelectuais são o
produto direto da
alma, mas as ações
da vida orgânica
devem ser atribuídas
a outra causa,
porque não se pode
compreender que uma
força imaterial
exerça ação sobre a
matéria do corpo.
726. Cada escola se
coloca, pois, em um
ponto de vista
exclusivo e não
resolve,
completamente, o
problema. O
Espiritismo, com as
luzes que traz a
tais questões
controvertidas, pode
servir de síntese a
essas concepções
diversas, como
veremos a seguir.
727. Demonstrada,
suficientemente, a
existência do
princípio vital, nós
o aceitamos como
causa da vida
vegetativa. Resta
compreender de que
modo se exercem as
ações automáticas
que se passam no
corpo humano. A
noção do perispírito
nos vai fazer
perceber como o
duplo fluídico pode
ser considerado o
regulador da vida
orgânica, o que, até
certo ponto, dá
razão aos
organicistas. Enfim,
os animistas podem
aliar-se conosco,
dada a maneira pela
qual explicamos a
ação da alma sobre o
corpo.
728. O que nos falta
dizer é como o
perispírito pode ter
adquirido todas as
qualidades
necessárias ao
funcionamento de uma
maravilha como é o
corpo humano. É
preciso que
estabeleçamos por
qual processo esta
organização fluídica
pode dirigir as
diferentes
categorias de ações
orgânicas que
compõem a vida.
729. Segundo
acreditamos, quanto
mais o Espírito se
eleva, mais se lhe
depura o invólucro.
Podemos, pois,
dizer, olhando para
o passado, que
quanto mais
grosseiro é o
invólucro menos
adiantado é o
Espírito; donde a
conclusão de que a
alma humana, antes
de animar um
organismo tão
perfeito como o
corpo humano, teve
que passar pela
fieira animal.
730. Não pretendemos
que o princípio
inteligente tenha
sido obrigado a
atravessar a fase
vegetal, porque nas
plantas não
encontramos sinal
algum de
sensibilidade bem
nitidamente acusada.
Os movimentos de
certas dioneias,
como a mimosa
pudica, vulgarmente
chamada sensitiva,
não bastam para
estabelecer esta
propriedade nas
raças vegetais.
Tomaremos, pois,
como ponto de
partida das
evoluções do
princípio
inteligente os mais
rudimentares
animais.
731. Sabemos, pelo
estudo da Geologia,
que o princípio
vital nem sempre
existiu sobre a
Terra. Esta ciência
nos ensina que, em
indeterminada época
de sua duração, a
Terra não passava da
massa de matéria
inorgânica,
submetida,
simplesmente, às
leis físico-químicas
que regem o mundo
mineral. Quando
nosso globo sofreu
todas as
modificações
materiais de que era
suscetível, apareceu
a vida, isto é, a
força organizadora,
e, desde então,
assistimos a uma
série de
transformações
maravilhosas. Os
organismos procedem
uns dos outros, indo
do simples ao
composto. Desde a
matéria do
protoplasma até as
formas mais
elevadas, há uma
escala de seres não
interrompida, uma
série de anéis que
ligam a mais ínfima
criatura ao homem,
suprema expressão
dos tipos que se têm
sucedido na Terra.
732. Essa longa
elaboração reclamou
milhares de séculos
e, à medida que o
mundo envelhecia,
tornava-se cada vez
mais apto a receber
seres mais
perfeitos. Darwin
procurou explicar
esta progressão
contínua, por leis
naturais, e, apesar
de não estar o
transformismo ainda
universalmente
admitido, aceitamos
suas teorias.
733. Vimos, então,
efetuar-se uma
primeira
transformação: à
natureza bruta
sucede a natureza
organizada, graças à
aparição do
princípio vital; a
este sucede o
princípio anímico, e
a consequência desse
segundo agente é a
formação dos
animais. A planta
vive, mas não possui
nem a sensibilidade
nem o poder de
locomover-se. O
animal, ao
contrário, não
somente vive, mas
sente e move-se.
Podemos, a partir
desse momento,
empreender o estudo
da evolução
intelectual.
734. Admitindo-se
que a alma e seu
invólucro tenham
passado pela fieira
animal, concebemos
logo como as coisas
deveriam ter
sucedido. Notamos
que o animal possui
o instinto, isto é,
uma força que o
dirige seguramente
para fazer evitar o
que lhe é
prejudicial. Como
nasceu essa força?
735. No animal toda
ação é o resultado
de um prévio
julgamento que
implica vontade,
consciência,
raciocínio,
inteligência. Não
podemos encontrar na
matéria o gérmen
dessas faculdades e
por isso as
atribuímos ao
Espírito; o instinto
é uma propriedade
perispiritual, que
tem por causa a
alma, mas que dela
difere
essencialmente.
736. Para fazer
compreender essa
diferença, tomemos
um exemplo. Como a
criança aprende a
ler? Ela deve, a
princípio,
compenetrar-se da
forma das letras.
Nos primeiros tempos
ela confunde o A com
o O, o N com o U, o
B com o D, o P com o
Q; ela deve
entregar-se a mais
comparações para
reconhecer seus
caracteres
distintivos. Cada
vez que ela firma um
juízo, que ela diz
que um A é um A, que
um O é um O, ela
deve arrazoar
consigo mesma o
porquê desse juízo.
Mas, pelo exercício,
esse juízo se torna
cada vez mais
rápido, de modo que,
dado esse primeiro
passo, pode
proceder-se com ela
ao estudo das
sílabas. É preciso
que ela aprenda
agora a distinguir
NA de AN, OV de VO,
IE de EI, novas
comparações, novos
juízos, novos
exercícios; depois,
essas dificuldades
são vencidas, por
sua vez. Aborda-se,
então, o
conhecimento das
palavras, depois o
das frases. Quanto
tempo, quantos
esforços, quantos
estudos são
necessários para que
chegue a ler
corretamente! Ela
consegue isso,
entretanto, e, por
fim, percebe
imediatamente uma
frase pela simples
inspeção do texto,
como certos
jogadores fazem
instantaneamente a
adição de cinco ou
seis dominós
estendidos diante
deles. Chegada a
esse ponto, já não
tem lembrança dos
atos preliminares
por que passou para
ter o conhecimento
da frase. Não vê
mais que soletra,
que julga da forma
das letras e de sua
respectiva posição
nas sílabas.
737. Esses
movimentos são, a
princípio, feitos
por querer, com
plena consciência,
depois chega a
escrever sob ditado,
sem mesmo prestar
atenção às palavras
pronunciadas; sua
mão obedece, de
alguma sorte, por si
mesma, aos sons que
lhe ferem o ouvido.
É de modo análogo
que o perispírito
adquire,
insensivelmente,
todas as suas
qualidades
funcionais. Como não
se destrói com a
morte do corpo e tem
uma existência tão
real como a do
Espírito, acumula em
seu seio todos os
esforços e todas as
aquisições deste.
Graças à sua
perpetuidade, pode
voltar à Terra mais
bem provido que da
vez precedente.
738. Os organismos
dos animais
primitivos são, com
efeito, muito
simples e se
aproximam da
natureza das
plantas. O princípio
anímico tem poucas
funções a preencher;
habitua-se à vida
ativa, mas não fica
inerte, porque,
desde os primeiros
passos na vida
animal, o gérmen
inteligente tem
sensações. Ele quer,
por exemplo, evitar
ou apanhar um
objeto, mas o
movimento não lhe
acompanha
imediatamente a
vontade. Ele deve,
para isso, empregar
esforço e vencer
certas resistências
que provêm de um
arranjo
perispiritual das
moléculas, pouco
favorável ao
movimento. Este
movimento, acaba,
entretanto, por se
propagar, seguindo a
linha de moléculas
cuja vibração
apresenta com ele
menos divergência.
739. É assim que é
vencida nos
primeiros tempos a
inércia das
moléculas
perispirituais, sob
a influência da
vontade nascente.
Daí resulta que o
mesmo movimento,
quando desejado
segunda vez,
experimenta menos
resistência e, à
força de repetições,
acaba por ser feito,
com o menor esforço
possível e de tal
maneira fraco, que
nem é sentido. Por
consequência, o
movimento, a
princípio penoso,
torna-se em seguida
fácil, depois
natural e, enfim,
maquinal.
740. Eis como se
pode conceber que,
pouco a pouco,
depois de milhares
de passagens do
princípio
inteligente, na
série animal, o
perispírito chegue a
fixar as leis que
nos aparecem sob a
forma de instinto,
mas que foram
lentamente
conquistadas por
ele, por meio de
existências
sucessivas. Pode-se,
pois, dizer, de
maneira geral, que o
movimento é
voluntário, quando
se sabe como e por
que é feito; que é
habitual quando é
feito sem se saber
como; instintivo,
quando feito sem se
saber por quê;
reflexo ou
automático quando
feito sem o saber.
741. O hábito se
adquire pelo
exercício, isto é,
pela repetição
voluntária de uma
série de atos, os
quais acabam por se
suceder cada vez
mais rapidamente e
com um dispêndio de
força menor.
Modifica o organismo
até nos óvulos e
espermatozoides. A
modificação dos pais
se encontra nos
filhos sob forma, a
princípio, de
necessidade, em
seguida, de
instinto. Ao mesmo
tempo em que o
animal se
aperfeiçoa, os
instintos progridem
e servem para
dirigi-los;
formam-se, assim, as
leis da matéria
animada. À medida
que o Espírito
envelhece, isto é,
que se encarna,
adquire qualidades
novas e se torna
apto a habitar
corpos cada vez mais
aperfeiçoados.
742. Chegada à
humanidade, a alma
já fixou, em seu
invólucro todas as
leis automáticas
destinadas a regular
a maravilhosa
máquina do corpo
humano. Executam-se
com regularidade as
funções animais, e a
alma, desprendida
das peias mais
grosseiras da
matéria, emerge da
ganga que a envolvia
e deve ser senhora
absoluta da matéria
que, até então, a
dominava.
743. Um fato
pareceria
contradizer a teoria
que sustentamos.
Notam-se entre o
macaco mais
aperfeiçoado e o
selvagem, mesmo o
mais embrutecido,
diferenças imensas,
que parecem indicar
uma demarcação
nitidamente
estabelecida entre o
homem e o animal.
Para explicar essa
anomalia no ponto de
vista físico, a
antropologia nos
ensina que há uma
série de animais,
chamados
antropoides, que são
o intermediário
entre a humanidade e
a animalidade.
(Continua no próximo
número.)